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CRÍTICA

'A Fera', com Idris Elba, tem forte apelo formal, mas é mecânico e inofensivo

Publicado em: 11/08/2022 17:42 | Atualizado em: 11/08/2022 19:30

 (Filme dirigido por Baltasar Komárkur, em cartaz nos cinemas, funciona melhor em seus confrontos diretos do que na esfera emocional. Universal/Divulgação.)
Filme dirigido por Baltasar Komárkur, em cartaz nos cinemas, funciona melhor em seus confrontos diretos do que na esfera emocional. Universal/Divulgação.
O recente falecimento da ex-esposa de Nate (Idris Elba), em decorrência de um câncer, provocou um rompimento colossal na sua relação com suas filhas, Mare (Iyana Halley) e Norah (Leah Jeffries). Além de acusar o pai de se afastar de sua mãe num período delicado da doença, a mais velha indiretamente o responsabiliza por, como médico, não a ter salvado a tempo. Numa tentativa de reaproximação, ele e as duas adolescentes viajam juntos à África do Sul para um passeio de safári em uma reserva onde pai e mãe se conheceram, acompanhados pelo tio Martin (Sharlto Copley). Após uma descoberta chocante num vilarejo, no entanto, a família se vê encurralada dentro do jipe por um leão de fúria descomunal que não parece querer desistir tão cedo.

Dirigido pelo islandês Baltasar Kormákur (Everest e Vidas à deriva), a partir de uma história original da produtora e roteirista Jamie Primak Sullivan, A fera, em cartaz nos cinemas, se mantém fiel à tradição dos filmes de “survival horror” de contextualizar a ameaça bestial numa relação familiar mal resolvida - vide os recentes Águas rasas, Um lugar silencioso e Predadores assassinos. No caso deste aqui, o protagonista deve tomar a frente da situação e se sacrificar a todo custo para provar o amor pelas filhas e se perdoar pelo seu distanciamento.  

O fato de a premissa ser um amontoado de platitudes e de os personagens serem escritos em formulário não atrapalharia A fera se o desenrolar do conflito tivesse mais imaginação e intensidade. Mesmo contando com uma computação gráfica realista e bem-acabada na criação dos animais, o longa encontra soluções das mais inofensivas para seus personagens mesmo nas situações extremas e opta quase sempre pela omissão da violência, chegando ao ponto de a sensação de perigo - grande no começo - rapidamente ruir. Antenado no momento crítico das criaturas, o roteiro enfatiza constantemente o real vilão da história (os caçadores) e reitera o instinto primal do leão de proteger seu bando - numa conexão óbvia com o enredo humano principal.  

A decupagem de Kormákur, já muito experiente em obras de ação e sobrevivência, é às vezes mais elaborada de longos planos-sequência do que o próprio roteiro pede - e do que ele precisava. O trabalho ultra coreografado com a câmera localiza muito bem o público geograficamente e dá grande credibilidade à ação mais direta e realista que o filme busca, mas tira qualquer respiro verdadeiro do drama central - problema que seria facilmente resolvido se o elenco desse vida ao texto com um pouco mais de vigor. Idris Elba empresta o carisma e a simpatia usuais ao filme, mas jamais transmite o pavor de alguém que pode ter as filhas dilaceradas pelos dentes de um leão a qualquer momento, e sua interação com Halley e Jeffries soa banal, automática.

O cineasta certamente tem mais êxito orquestrando as sequências de confronto do que na direção de atores e a clareza dos seus planos faz o filme se movimentar com considerável fluência ao longo de sua curta duração. Para um trabalho, porém, que mira na bestialidade da selva, mesmo em uma chave narrativa familiar, A fera ruge muito mais alto na esfera tecnicista do que na visceral.
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