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Ficção científica filmada em Caruaru, 'Carro Rei' estreia hoje nos cinemas

Publicado em: 30/06/2022 15:55

 (foto: BOULEVARD FILMES/DIVULGAÇÃO)
foto: BOULEVARD FILMES/DIVULGAÇÃO
Um incidente no nascimento acaba definindo a vida de um menino e de sua família. Uno (Luciano Pedro Jr.) nasceu em um dos veículos da pequena frota de táxis de seu pai, Josenildo (Adélio Lima), em Caruaru, agreste pernambucano. Batizado com o nome do modelo do veículo popular, ele acaba adquirindo um dom fantástico: comunica-se com os carros.

É este o ponto de partida de “Carro Rei”. Depois de um ano participando de festivais (sua première foi em Roterdã, na Holanda; em Gramado ele saiu com cinco Kikitos, incluindo o de melhor filme), o longa de Renata Pinheiro chega ao circuito comercial de salas: estreia nesta quinta (30) nos cines UNA Belas Artes e Centro Cultural Unimed-BH Minas. 

“Carro Rei” é, em essência, um filme de ficção científica com forte crítica social. Uma tragédia envolvendo o mesmo carro em que nasceu afasta Uno, na juventude, de todo veículo a motor. O modelo, nos dias atuais, está no ferro-velho da cidade, também o local onde vive exilado seu tio, Zé Macaco (Matheus Nachtergaele), um mecânico estranho com ideias fora do comum.
 
Agora estudante de agroecologia, Uno vai ter que rever sua decisão. Uma lei local impede que carros com mais de 15 anos circulem por Caruaru – todos os modelos de seu pai são antigos, o que ameaça sua empresa. Uno decide procurar Zé Macaco para modificar a aparência dos carros. O primeiro modelo a sofrer uma recauchutagem total é o velho Uno onde nasceu. 
 
''Carro Rei" e a ambição
 
Ele se torna Carro Rei (voz de Tavinho Teixeira) e atinge o status de ícone local. A ideia de Uno é fazer com que as pessoas mais pobres possam ter acesso a veículos modernos. Só que a ambição de Carro Rei é maior, assim como a de Zé Macaco, que tem claras intenções de poder. 

Em sua metade inicial, “Carro Rei” aponta em uma direção, que é subvertida na segunda parte da narrativa, reunindo outros personagens e histórias paralelas. “Quis associar a ilusão do que estava acontecendo no Brasil politicamente. Vejo muita gente arrependida pelo voto, por exemplo. O filme é recheado de eventos recentes brasileiros que mudaram o panorama do país, hoje em profunda crise financeira, econômica e social”, afirma a diretora.

Ela destaca uma cena em que um grupo de jovens, após tomar um aditivo, é robotizado. “Para mim, é uma metáfora da ilusão e da manipulação que existe hoje”, acrescenta.
  
Renata diz que encontrou em Caruaru o lugar ideal para contar a sua história. “É uma cidade de porte médio e próxima da zona rural. Está também numa encruzilhada para outras regiões, então tem uma movimentação grande e um culto aos carros. E queria ainda colocar a ficção científica em um panorama bastante brasileiro, o que acho original, já que a história lida com tecnologia, natureza e ciência.”
 
Carros 'tunados' e cinema artesanal
 
Filme de baixo orçamento, “Carro Rei” precisava ter veículos como os imaginados pelo roteiro. “Fizemos o que era possível realizar. No interior, tem muito carro ‘tunado’ (modificado ou customizado) e em Caruaru encontramos modelos que não eram identificados com a marca original”, conta ela, que usou muito pouco de efeitos para contar sua história. “Enfatizamos a fala (do carro), os faróis piscando. Gosto de filmar de forma artesanal.”
 
O filme brasileiro ainda traz uma coincidência incrível. A exemplo de “Titane”, produção francesa de Julia Ducournau, vencedora da Palma de Ouro em Cannes em 2021, também traz cenas de sexo com um carro. 

A personagem Mercedes (Jules Elting) é uma artista feminista que vandaliza símbolos de poder masculino – depois de uma noite com ela, Carro Rei acaba se apaixonando. O longa pernambucano, vale dizer, foi rodado no final de 2019, muito antes de se ouvir falar da produção francesa.

“Depois que assisti a ‘Titane’, vi que não é só a questão do sexo com carro. O tema mais importante do filme é também o transhumanismo. Mostra que as relações de gênero são mais modernas, obedecem a um novo pensamento. E o meu filme aqui, nordestino, abordando as mesmas coisas. É muita coincidência”, avalia Renata.
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