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Acervo de Naná Vasconcelos recebe propostas nacionais para novos projetos

Publicado em: 20/01/2022 17:12 | Atualizado em: 24/01/2022 07:16

 (Foto: Rômulo Chico/Esp.DP)
Foto: Rômulo Chico/Esp.DP
O acervo de Naná Vasconcelos ganhará novos espaços e projetos após a viúva, Patrícia Vasconcelos, demonstrar preocupação com o descaso cultural ao legado do percussionista. Em coletiva realizada na manhã desta quinta-feira (20), Patrícia mencionou conversas com representantes políticos, como a vice-governadora Luciana Santos, e a elaboração de um memorial com sede no Bairro do Recife, em parceria com a gestão municipal. 

“Eu tive contato com a Prefeitura do Recife, que se disponibilizou a encontrar um imóvel no Recife Antigo, nas imediações do Marco Zero, para pensarmos em um memorial, um centro cultural. Conversei com a vice-governadora, Luciana Santos, que vai pensar em uma frente de ações que possam se conectar com essa grande corrente. Muitas pessoas estão me procurando, em muitos estados. O pessoal da Bahia quer fazer essa conexão comigo para poder expor obras de Naná lá, mas eu gostaria que o pontapé inicial saísse daqui de Pernambuco. Isso não impede que outros estados e municípios entrem também nessa corrente, cada um oferecendo o que pode. Naná trabalhou com crianças, então podem surgir casas de apoio à criança. Eu qualifico o trabalho de Naná como células, e muitas delas podem ser exploradas a nível de ações públicas”, afirmou Patrícia.

O secretário de cultura do Recife, Ricardo Mello, informou que a gestão municipal tem interesse em destinar um espaço na cidade para divulgação das obras do percussionista. 

“A ideia era encontrar um lugar que pudesse abrigar parte do acervo de Naná, mas que, com as palavras de Patrícia, pudesse ser uma exposição viva, com práticas, debates, para pensar música. Avaliamos a questão da identificação de Naná com o Bairro do Recife. Também cogitamos o Pátio de São Pedro, por conta da escultura, do carnaval, do cortejo que ele fazia. Eu conversei com o prefeito do Recife e ele está totalmente sensibilizado  com a ideia de ter um lugar na cidade que tenha Naná como inspiração”, relatou o gestor da pasta 

No mês de janeiro, Naná foi homenageado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), quando recebeu da entidade a Cátedra Naná Vasconcelos. A ação possibilita a realização de palestras, pesquisas, congressos e oficinas, por exemplo, voltadas para uma personalidade de destaque em diversas áreas. Há anos história de Naná se entrelaça com a instituição. Em 2015, o percussionista recebeu o título de doutor honoris causa, além de nomear a Escola de Música da Rural - Naná Vasconcelos, inaugurada em 2016. 

“Em 2015 nós concedemos o título de doutor honoris causa. Quando a Universidade concedeu esse título não foi pensando em congelar a imagem de Naná, mas que ele pudesse mover ações da própria instituição. O primeiro desdobramento foi a UFRPE criar a Escola Naná Vasconcelos de música. Ela está em fase inicial, mas estamos com uma perspectiva de ampliação, consolidação, vínculos com jovens da periferia da cidade. Houve uma audiência na Universidade surgiu a ideia da continuidade da obra de Naná que foi a criação da Cátedra Naná Vasconcelos. Não se cria uma Cátedra em função de obras pequenas, mesmo que seja importante. Quando a Universidade cria uma Cátedra é porque é algo essencial, que precisa ser preservado”, explicou o pró-reitor de Extensão, Cultura e Cidadania, Moises de Melo Santana. Ainda segundo Moises, a Cátedra deve ser inaugurada até o próximo semestre letivo da UFRPE.

As ações voltadas para o legado de Naná também foram tratadas com o Secretário de Cultura de Pernambuco, Gilberto Freyre Neto, que propôs a digitalização do acervo. 

“Conversamos com Gilberto Freyre Neto e ele comentou sobre a digitalização desse acervo. Isso é importante para que as pessoas, em qualquer lugar do mundo, possam acessar o legado de Naná. A gente ainda está tentando viabilizar esses projetos, esses sonhos. É um conjunto de forças”, contou Ana Paula Jones, Diretora- Presidente do Raízes da Tradição, coletivo voltado para Execução de Projetos Culturais.

Patrícia Vasconcelos reforçou a importância da digitalização do acervo para preservação e difusão do legado do percussionista. 

“Não acho que todos os artigos devem ficar em um único lugar. Com a digitalização podemos trabalhar no memorial e posso sim separar uma peça para expor de forma itinerante. Além disso, possibilita que várias pessoas de diversos lugares do mundo possam acessar todo o trabalho que Naná fez, em todos os lugares que ele esteve”, enfatizou  Patrícia. 

Casa de Naná e Patrícia
Com os novos projetos, a casa em que Naná e Patrícia viviam, no bairro da Encruzilhada, segue sem futuro definido. A esposa do músico priorizou as novas ações de visibilidade para as obras de Naná, mas não descartou uma nova função para o espaço.

“A casa ainda não tem projeto. As conversas que tive com a prefeitura e com o governo do estado foram voltadas para movimentos maiores, como o memorial. A casa pode ser uma outra ação que não impeça o movimento maior, que é o memorial. Se não houver projeto para a casa terei que desocupar. Me preocupo também, mas nesse momento a ideia do  memorial é a principal”, explicou Patrícia.

Documentário
Para além da criação de projetos em espaços físicos, Naná também será homenageado através de um documentário produzido pelo coletivo Raízes da Tradição. O audiovisual, dirigido por Ana Paula Jones e Fábio Gomes, mostrará o trabalho do percussionista ao longo dos anos e será exibido em formato especial para a TV Globo no dia 5 março. Já o documentário completo, que será divulgado em formato independente pelo coletivo, ainda não tem data de estreia, mas poderá ser acompanhado pelas contas no Instagram @fabiogomes.on @raizesdatradicao @anapaulajones. 

“Esse especial foi feito através de uma visão minha sobre Naná. Eu me surpreendi porque fui coroada imperatriz do legado de Naná. Foi uma emoção ímpar na minha vida receber esse reconhecimento de uma semente plantada por ele. As pessoas poderão saber das nossas questões cotidianas, a minha visão da obra dele de uma maneira muito tranquila. O dia cinco de março é, também, o nosso aniversário de casamento”, revela Patrícia.

“O documentário é muito maior do que o especial que vai passar na Globo. Ele será apresentado no México nos dias 18,19 e 20 de março. Estamos pedindo para as pessoas que tiverem fotos com Naná que enviem para nós para que esse registros possam ser peças de um novo projeto audiovisual. Precisamos contar mais dessa história. Estamos concentrando as informações através do nosso Instagram”, informa Ana Paula Jones. 
 
Propostas políticas
O ex-prefeito do Recife e atual deputado estadual João Paulo (PCdoB) também esteve na coletiva e prometeu destinar parte das emendas para projetos culturais.

“Me coloquei inteiramente à disposição, como deputado, a destinar parte das emendas para projetos e buscarei articular com outros deputados que eu sei que tem envolvimento com a cultura. Estou esperando que as prefeituras, principalmente a do Recife, e o governo do estado ajudem a preservar esse patrimônio. Estamos muito carentes de preservação da nossa história cultural”, comunicou. 

Em conjunto com Patrícia Vasconcelos, a vereadora do Recife Liana Cirne (PT), anunciou um projeto de lei voltado para a preservação e desenvolvimento das obras de Naná. 
 
“O Projeto de Lei foi feito em uma parceria do nosso gabinete com Patrícia Vasconcelos. Ele autoriza a criação dos equipamentos culturais dedicados à preservação, difusão e exibição da obra de Naná Vasconcelos; autoriza que sejam firmados convênios com instituições públicas e privadas de ensino e também que estabeleçam pesquisas que resultem na curadoria desses equipamentos culturais e estimula a digitalização da obra de Naná. Nós acreditamos que a recepção desse projeto na Câmara de Vereadores será positiva”, afirmou Liana.   
 
 



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