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MORO NO RECIFE

'Esse livro são os fatos, isso aconteceu', diz Sergio Moro em lançamento no Recife

Publicado em: 05/12/2021 23:56 | Atualizado em: 06/12/2021 01:36

 (Sandy James/Diario de Pernambuco)
Sandy James/Diario de Pernambuco
Recém-anunciado como pré-candidato à Presidência da República pelo Podemos, o ex-juiz e ex-ministro no Governo Bolsonaro, Sergio Moro, esteve no Recife na noite de ontem (5) para o evento de lançamento de seu livro “Contra o Sistema da Corrupção”, que contou com uma fala de apresentação, seguida por um talk show conduzido pela jornalista Denise Rothenburg, do Correio Braziliense. 

O evento definido pelo escritor como um “lançamento editorial do Recife pro mundo” atraiu um grande público, que lotou o Teatro do RioMar. Do lado de fora, na entrada do teatro, um grupo de manifestantes contrários ao autor fez um protesto com cartazes, faixas e palavras de ordem em defesa do ex-presidente petista Luíz Inácio Lula da Silva. 

O novo livro, de acordo com Moro, narra a história vivida por ele como juiz de 1ª instância em Curitiba e sua atuação junto à Operação Lava-Jato e também sua passagem pelo  Ministério da Justiça e Segurança Pública. 

Em suas palavras, a obra não é uma autobiografia nem “narração completa dos fatos”, porque “a história não acaba aqui”, preferindo definir o livro como o resultado de um convite para “explicar no papel” sua trajetória, escolhas e ações, afirmando que a obra não narra a sua visão dos fatos, mas que “esse livro são os fatos, isso aconteceu, tudo aqui aconteceu”.  

O juiz

Em seu discurso de abertura, Moro comentou passagens do livro como, por exemplo, o momento em que divulgou o áudio de uma conversa entre os ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, gravado através de um grampo. O ex-juiz disse que sempre achou ter feito “a coisa certa naquele episódio” por não ter motivos para esconder “segredo sujo de outras pessoas” e que “até hoje não me arrependo”.

O ex-juiz e ministro também afirma que “nós conseguimos” avançar contra a corrupção na Lava-Jato, porque a operação não foi fruto somente de sua ação, mas também do trabalho de “vários magistrados, procuradores, advogados, policiais e vários brasileiros que saíram às ruas em 2015 e 1016 protestando”, alegando depois que, apesar das críticas que lhe são feitas e do desmonte à operação no Governo Bolsonaro, a Lava-Jato teve um “história de sucesso” da qual ele se orgulha. 
No que diz respeito às críticas recebidas pela Lava- Jato, “sei que não sou infalível, mas foi um momento em que nós conseguimos romper com a impunidade da grande corrupção, gente que roubava o Tesouro, que roubava a Petrobras como nunca antes na história desse país”, bordão utilizado frequentemente pelo petista. Moro disse também que nunca teve nenhuma “animosidade” pessoal contra Lula e “nenhum juiz no mundo dá sentença para mandar alguém para a prisão e faz isso com satisfação pessoal”. 

A famosa condução coercitiva do ex-presidente também foi comentada durante o talk-show com a jornalista. De acordo com Moro, quem solicitou a condução de Lula - e também de sua agora falecida esposa, Marisa Letícia, negada por Moro - foi a Polícia Federal, por temer obstruções causadas pela militância. 

“A PF pediu busca e apreensão, havia o receio de que o ex-presidente poderia comandar pessoas para obstruir. Tinha uma interceptação telefônica de alguém sugerindo a ele que pedisse a militantes que deitassem na rua [para evitar as buscas]. Os policiais achavam que se tomassem o depoimento na casa dele, a casa poderia ser cercada. Na mesma época teve uma intimação do MP-SP e teve toda uma confusão da militância. Quando designei o interrogatório inicial, houve quase uma invasão em Curitiba. Eles [policiais federais] entendem que estão numa situação de risco”, afirmou o ex-juiz.

O ministro

Sobre sua passagem pelo Ministerio da Justiça e Segurança Pública, Moro alegou que seu trabalho “conseguiu avançar sobre o crime organizado e a criminalidade violenta”, mas se queixou da agenda de combate à corrupção, que ele afirma ter sido negligenciada pelo presidente Jair Bolsonaro que, segundo ele, não quis se comprometer com o projeto do pacote anti-crime nem com a aprovação da prisão em 2ª instância. Contudo, o momento decisivo para sua saída do governo, de acordo com Moro, foi a demissão de Maurício Valeixo, que era diretor-geral da Polícia Federal, instituição que ficou “até o fim” tentando proteger depois que sua relação com o governo já estava desgastada pela “sabotagem” do projeto anti-crime. 

“Falei com o delegado Valeixo, diretor-geral, o presidente já estava tentando mudar o diretor, me incomodando semana sim, semana não. Falei com o Valeixo e disse ‘não vamos mais nos enganar sobre a natureza desse governo, eles não querem nada de combate à corrupção, mas agora a gente tem a missão de proteger a Polícia Federal’, porque enquanto tivesse  lá um diretor que eu tinha nomeado, eu sabia que ele não ia fazer nada errado”, disse Moro, que teve a demissão de seu “braço direito” como gota d’água para deixar o governo.

O político

Foi durante seu período de moradia nos Estados Unidos que Moro afirma ter decidido se filiar e candidatar à presidência, aceitando um convite feito pelo Podemos ainda em 2020, porque, segundo ele, eleições devem ser períodos de esperança para a população e o que ele via era um sentimento de que os eleitores estavam “caminhando para uma espécie de funeral, que o eleitor ia escolher apenas a cor do caixão”. 

“O Podemos é um partido que sempre defendeu várias das pautas em que eu acreditava no Congresso, inclusive essa pauta ética. Tem excelentes parlamentares, gente muito boa”, disse Moro, antes de citar Ricardo Teobaldo e Eduardo Girão como exemplos e obter aplausos da plateia. “Por entender que eleição tem que ser um momento em que a gente tem que ter alternativas, tem que ter esperança, eu resolvi voltar. E resolvi voltar por vocês também”.
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