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'Por que não vivemos?' chega ao Teatro Santa Isabel encenando um pouco visitado Tchekhov

Publicado em: 08/12/2021 14:43 | Atualizado em: 08/12/2021 14:57

Camila Pitanga protagoniza espetéculo da Companhia Brasileira de Teatro (Divulgação)
Camila Pitanga protagoniza espetéculo da Companhia Brasileira de Teatro (Divulgação)
Um dos maiores nomes da histórias das letras e do teatro mundial, o russo Anton Tchekhov já foi levado aos palcos milhares de vezes na história, em especial com seus clássicos como A Gaivota e O Jardim das Cerejeiras. Mas dentro de seu repertório dramatúrgico, há uma obra específica que ainda encontra muito uma certa atmosfera de ineditismo e descoberta pelas condições em que foi revelada ao mundo.
 
Sem título, mas conhecida por Protonov, nome de um de seus personagens principais, trata-se de uma peça inacabada que só foi descoberta anos após a morte de seu autor, inspirando as mais diversas adaptações, porém em volume menor do que os clássicos do russo.

Quem se propõe a trazer uma versão com voz própria e brasileira desta dramaturgia é a Companhia Brasileira de Teatro, que traz uma encenação quase que inédita desse texto ao Recife, no palco do Teatro Santa Isabel, sob o título de Por que não vivemos?, montagem dirigida por Márcio Abreu e com nomes como Camila Pitanga, Cris Larin, Edson Rocha, Rodrigo Bolzan e Josy.Anne no elenco. “É um texto que só foi encenado pela primeira vez depois da Segunda Guerra e me interessa muito justamente por ainda ser uma matéria muito aberta, porosa, com várias entradas e saídas múltiplas de leitura. É uma obra que ainda consegue se ressignificar muito com o movimento do tempo e com as mudanças de cada época”, afirma o diretor, em entrevista ao Viver.

Abreu é um profundo admirador e pesquisador da obra de Tchekhov e já planejava essa encenação em 2009, mas não conseguiu realizá-la na época. Em 2018, decidiu retomar os planos, momento já atravessado por grandes mudanças sócio-políticas no país que muito dialogam com um espírito das obras do autor russo em retratar sociedades cujos valores não conseguem sustentá-la, assim como entretempos, momentos de transição nos quais o que se havia está ruindo, mas que também não se sabe o que há no horizonte. 

Agora, Por que não vivemos? retorna aos palcos com os poros descritos por Abreu ainda mais abertos às tragédias e o pandemônio do mundo, reforçando o caráter de seu título de questionar um passado de ações não tomadas, assim tentando engatar uma nova postura, um novo viver, para o futuro. O diretor pontua que a última frase da peça, “enterrar os mortos e reparar os vivos”, por exemplo, agora adquire uma outra dimensão após dois anos de pandemia, complementando a grande abertura que a dramaturgia abre para ser adaptada por diversos prismas. 

“Eu construí a encenação em três atos que carregam diferentes linguagens para falar dessas pessoas de uma classe social que já foi muito abastada e se encontra em decadência. Parto de um momento muito convivencial, muito próximo do público, como se preparasse mesmo a peça ali, para depois entrar em um segundo ato muito mais sensorial, como se fosse um sonho ou um pesadelo de um bêbado e voltamos para um ato final muito direto, próximo do épico, tirando qualquer anteparo entre o palco e o público”, elabora Abreu, sobre como se aproveitou da abertura do texto para produzir um passeio por diferentes linguagens dentro da mesma peça. 

A apresentação marca o retorno da Cia ao palco do Teatro Santa Isabel, no qual o grupo apresentou a peça Preto, protagonizada por Grace Passô e Renata Sorrah, em um momento que marcou bastante Márcio. “A gente se apresentou aqui logo após a eleição de Bolsonaro, seguida de toda a tragédia que veio nesse país, então foi uma apresentação que fizemos já muito abalados, algo muito marcante. Então é muito significativo voltarmos a esse palco em um momento em que voltamos a fazer teatro, nada melhor do que apresentar essa peça nesse teatro que tem um valor simbólico e afetivo pra gente e parao público da cidade. Estamos felizes com o privilégio de estar aqui”, concluiu Abreu. 

As apresentações serão realizadas de quinta a sábado, às 19h, e domingo, às 18h. Os ingressos custam R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), vendidos pelo Sympla. A capacidade do teatro está limitada para até 496 pessoas. 

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