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Ainda sem data de reabertura, Cinema da UFPE guarda potencial para a região

Publicado em: 16/10/2021 11:33 | Atualizado em: 16/10/2021 11:49

Inaugurado em outubro de 2019, a sala está de portas fechadas há um ano e meio devido a pandemia e passa por incerteza de gestões (Foto: Acervo Pessoal)
Inaugurado em outubro de 2019, a sala está de portas fechadas há um ano e meio devido a pandemia e passa por incerteza de gestões (Foto: Acervo Pessoal)
“O cinema é público”. Essa foi a frase adotada para o slogan do Cinema da Universidade Federal de Pernambuco quando ele realizou sua inauguração, em outubro de 2019. Público, porém, parece ser a coisa que o cinema menos tem visto, já que está há quase um ano e meio de portas fechadas devido à pandemia da Covid-19, que paralisou o calendário acadêmico desde março do ano passado. Com o atual retorno da grande maioria dos equipamentos culturais da cidade, o Cinema da UFPE também se tornou objeto de expectativa pela comunidade acadêmica e pelos fãs de cinema. O espaço é uma promessa ainda sem cronograma, mas com um grande potencial para servir tanto à universidade quanto ao seu entorno, nos bairros da Zona Oeste do Recife.

Idealizado em 2012 sob o comando do professor Paulo Cunha, as obras propriamente ditas se iniciaram a partir de julho de 2014. Ao longo de sete anos, foram investidos cerca de R$ 4 milhões em equipamentos, instalação e requalificação do espaço, parte desse montante sendo do próprio orçamento da universidade e outra parte de recursos extra-orçamentários obtidos diretamente com o MEC através de projetos. “Coordenei isso com paixão. Quando me aposentei, o cinema estava totalmente pronto e operacional. Exibimos filmes produzidos em Pernambuco com a presença de realizadores e membros das equipes, para a alegria dos espectadores. Foi uma coisa linda”, lembra Paulo, que se diz triste ao ver a instalação pela qual se dedicou tanto parada, principalmente “no momento em que vemos o cinema ser bombardeado no Brasil pelo Governo Federal”.

O professor Paulo Cunha no primeiro dia da obra, em 17 de julho de 2014 (Foto: Acervo Pessoal)
O professor Paulo Cunha no primeiro dia da obra, em 17 de julho de 2014 (Foto: Acervo Pessoal)

Potencial
Nos dois meses em que a sala esteve operante, o cinema recebeu com público razoável grandes eventos como a Janela Internacional de Cinema do Recife e promoveu atividades pensadas por estudantes e professores da universidade, como a Semana do Audiovisual Negro e a Mostra de 10 Anos do Curso de Cinema da UFPE. Toda a organização e curadoria ficou na responsabilidade de uma equipe de gestão provisória formada por professores do curso de Cinema e Audiovisual. Enquanto coordenadora do projeto, a professora Mannuela Costa comenta que a proposta de programação buscava se diferenciar do que já existe tanto do cinema comercial quanto da cena alternativa da cidade. “Queríamos privilegiar filmes brasileiros, especialmente documentários, que acabam ficando pouco tempo no cinema. Assim como produções latinoamericanas, queríamos também dar foco às cinematografias da África e da Ásia, continentes que têm menor participação na ocupação de salas”, explica.

Outro grande atrativo está na sua localização. Montado no Centro de Convenções da UFPE, o cinema atenderia uma demanda não apenas do corpo acadêmico do campus, mas da população da Zona Oeste, carente de certos aparelhos culturais. “Cinemas de rua em maioria acabam ficando no centro da cidade, enquanto este teria o diferencial de estar em uma área periférica”, comenta Mannuela. Um cinema dentro da universidade adquire um papel de formação popular e de propor questões sociais, políticas e culturais relevantes para as pessoas. Como afirma Paulo Cunha: “Ninguém pensa, por exemplo, deixar o curso de Medicina sem o Hospital das Clínicas, ou o curso de Física sem o laboratório de Fotônica. E é claro que uma sala de exibição de alto padrão é um grande ativo para a UFPE”.

Mesmo com o fechamento da sala em março, a equipe provisória continuou a trabalhar em questões burocráticas, como na concepção de sistemas de ingresso e gratuidade, na adaptação do espaço para acessibilidade junto ao projeto Alumiar e no cadastro do cinema na Ancine. As propostas, porém, não chegaram a ser implementadas e o grupo foi descontinuado em reunião recente com gestores da reitoria.

Nos dois meses de funcionamento, a sala recebeu diferentes mostras e eventos para o público acadêmico e da região (Foto: Acervo Pessoal)
Nos dois meses de funcionamento, a sala recebeu diferentes mostras e eventos para o público acadêmico e da região (Foto: Acervo Pessoal)

Retorno do público
A responsabilidade atualmente se encontra com a própria administração do Centro de Convenções (CECON), que informou ao Viver estar realizando a limpeza e as manutenções necessárias para o retorno. “É uma das prioridades do CECON. Iremos garantir o funcionamento do cinema, a manutenção, funcionários terceirizados e limpeza. A parte da seleção de filmes e divulgação será feita com o apoio de uma nova curadoria”, afirma Mariana Brayner, a diretora do Complexo de Convenções, Eventos e Entretenimento da UFPE. Segundo Brayner, o retorno não tem data definida, mas “será ainda em 2021”.

Um dos planos mantidos será o firmamento de contrato com a Fundação de Apoio ao Desenvolvimento da UFPE (Fade). A fundação terá o encargo de administrar a bilheteria e os recursos do cinema, garantindo que ele se torne uma estrutura autossuficiente. Para isso, na concepção inicial da política de ingressos, seriam cobrados valores entre R$ 6 e R$ 14, que ajudariam na contratação de fornecedores e manutenções.

Por mais avançada que seja, com projeção digital 4K e som Dolby 7.1, a aparelhagem de um cinema requer cuidados especiais. Enquanto permanece fechada, a sala precisa ter seu projetor ligado por algumas horas ao menos uma vez por semana, para impedir danos da umidade ao equipamento. Essa tarefa é atualmente cumprida pelo bolsista Leônidas Júnior, da área administrativa do curso de cinema, que espera assumir como um dos projecionistas oficiais da universidade se novas contratações forem liberadas pelo Governo Federal.

Ainda que a licitação para contratar a empresa de manutenção preventiva do projeto tenha sido concluída, o estudante ainda precisa comparecer semanalmente. A expectativa agora é que futuramente a sala deixe de ter apenas um de seus 200 assentos ocupados e possa explorar todo o seu potencial, cumprindo com a proposta de ser mais um cinema público, acessível e educativo no Recife.
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