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ESPIRITUALIDADE

Aldeia da Vida busca fortalecer pessoas e sociedade moderna através de cerimônias espirituais ancestrais

Publicado em: 26/09/2021 12:47

 (Foto: Divulgação)
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A Aldeia da Vida realizará, na noite deste sábado (25), mais uma das suas tradicionais cerimônias do chá indígena Ayahuasca, importante medicina ancestral que oferece experiências de ligação espiritual com a natureza e com as pessoas. Localizada na Aldeia dos Camarás, quilômetro 8, do município de Camaragibe, a instituição é a maior referência Norte-Nordeste em imersões tradicionais milenares, e recebe lideranças indígenas e pessoas do mundo todo em seu espaço, que conta com área florestal, rio e amplos locais para cerimônias a céu aberto.

Fundada em 2019 por Leandro Valente e sua esposa, Isabelle Santos, através do primeiro encontro Ayahuasca Nordeste, a Aldeia da Vida, que congrega cerca de três mil membros de todo o Brasil, já conta com uma equipe de 23 profissionais de diversas áreas, como médicos, terapeutas, engenheiros e especialistas em tradições ancestrais. A instituição atende centenas de pessoas todos os meses, desenvolvendo trabalhos de medicinas da floresta, com destaque para a Ayahuasca (Uni) e o Rapé (Rume), terapias milenares, retiros espirituais e atividades imersivas, além de realizar trabalhos conjuntos com outros povos indígenas, servindo como ponte para os costumes da Amazônia. 

A Cerimônia da Ayahuasca busca agregar vertentes espirituais, medicinais e científicas do chá ancestral originário da Amazônia, datado com mais de 5000 anos de existência, e que faz parte do tronco linguístico Pano. No ritual, que em muitas ocasiões é acompanhado por cânticos tradicionais, os participantes têm a chance de experimentar sensações corpóreas e visões que possibilitam a conexão com as forças espirituais e com o ambiente. 

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O guardião Leandro Valente, de espiritualidade Yawanawá, afirma que é fundamental desmistificar o assunto, e explica que os efeitos do chá não são alucinógenos, como muitos acreditam, e que cada participante passa por um acompanhamento prévio que garante a melhor experiência individual da Ayahuasca.

“Os efeitos são de conexão espiritual, não tem nada a ver com alucinógeno, em momento algum você fica doidão ou perde sua consciência, como é costume imaginar. O melhor termo para descrever o chá é enteógeno, que remete ao divino e é totalmente diferente. 90% das pessoas que tomam o chá da Ayahuasca relatam que sentem uma conexão extremamente poderosa com a natureza, com as plantas, as árvores, o chão, e uma conexão muito profunda com as pessoas”, esclareceu.

Ainda sobre os efeitos após o consumo da Ayahuasca, Leandro continuou dizendo que a experiência é individual e única para cada vez que se toma o chá, o que gera múltiplas possibilidades imersivas para todos. Isso decorre da força espiritual, como é conhecida, que coordena essas sensações no corpo e na mente. “cada pessoa vai sentir a força espiritual do Uni de uma forma distinta. É a partir da espiritualidade individual que cada um vai sentir aquilo que precisa sentir. É algo muito interessante, muito rico e bonito de ser vivenciado”, disse.

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“Vai ter gente que vai se conectar através de visões, um contato visual profundo, outras pessoas não vão ter contato visual nenhum, mas, em compensação, vão sentir muito essa força no corpo, através de uma energia e vibração muito fortes, enquanto que outras pessoas não experimentarão nenhum efeito, porém terão muitos sonhos no dia seguinte, e tem pessoas que passam pelo processo de purga, quando acontece o vômito, sem outros processos no corpo. Há também pessoas que sentem todos esses processos ao mesmo tempo, então é algo extremamente particular, que causa sensações diferentes cada vez que a medicina é consumida, nunca é igual”, exemplificou.

INCLUSÃO

Leandro Valente não esquece de mencionar que a cerimônia da Ayahuasca abraça todas as pessoas, de todas as classes e credos, sem distinção, por se tratar de um ato de espiritualidade e harmonia com a natureza e com o interior humano, não de religião. Segundo ele, o chá representa uma medicina para expansão da consciência, capaz de fortalecer as crenças de quem o toma, através de um forte processo de autoaceitação, ou de transformar a mentalidade, através de um desejo por mudanças, que muitas vezes serve como pontapé para uma nova jornada. 
 
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“Costumo de dizer que o católico se torna mais católico, o espírita vai se tornar mais espírita, e por aí vai, porque o contato com essa medicina faz os horizontes se expandirem de uma forma muito profunda, e as crenças só se enraizam mais profundamente, a tal ponto que cada pessoa passa a compreender melhor a própria caminhada de um jeito mais claro e harmonizado. Às vezes essa compreensão leva a um processo de transformação, através da luz da mudança, mas isso depende muito de cada pessoa”, afirmou.

CUIDADOS

O fundador da Aldeia da Vida ressalta a importância do chá por suas propriedades medicinais, que o fazem ser muito procurado como tratamento alternativo natural para diversas patologias psíquicas. No entanto, Leandro adverte que é preciso cautela na busca pela Ayahuasca, pois, apesar dos seus efeitos positivos notáveis, a medicina natural precisa ser exercida com muito cuidado e acompanhamento, para preservar a integridade das pessoas. O chá milenar não pode ser ministrado para indivíduos que possuem históricos de surtos psicóticos, por exemplo.

“Para combater os males psicológicos do mundo atual, o trabalho com a Ayahuasca deve ser feito com extrema seriedade, buscando unir as maravilhas da medicina ancestral e seu conhecimento espiritual sagrado com os avanços da ciência moderna. Na Aldeia da Vida, temos uma rede de profissionais muito completa e capacitada, como o médico João Ezequiel, que realiza a anamnese nos recém-chegados para garantir esse acompanhamento prévio das pessoas que têm patologias psíquicas ou físicas, e aquelas que tomam certos tipos de medicamentos, para que elas tenham a melhor experiência com a  Ayahuasca sem interferir nos seus tratamentos”, reiterou Leandro.

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De acordo com o guardião, o chá medicinal tem recebido cada vez mais atenção de cientistas do mundo inteiro, que vêm desenvolvendo estudos sobre a utilização desse método natural no tratamento da depressão, ansiedade, síndrome do pânico, entre outros inúmeros males psíquicos modernos, tão frequentes na sociedade. Com a popularização da Ayahuasca, Leandro também alertou para o cuidado com o crescente número de pessoas mal intencionadas que apenas buscam montar negócios lucrativos, sem se preocupar com a saúde física e mental das pessoas que buscam o chá.

“A Ayahuasca vem se popularizando bastante e isso é bacana, porque mais pessoas acabam tendo acesso a essa medicina, mas, ao mesmo tempo, é algo muito perigoso, porque muitos farsantes surgiram, fingindo que são pajés, xamãs, especialistas, e tantas outras coisas, com o único propósito de trabalhar com a medicina ancestral visando apenas o lucro. Esse tipo de atitude vem causando experiências muito negativas nas pessoas que, em muitos casos, estão desesperadas, buscando um tratamento alternativo para seus problemas, e acabam em situações piores por causas de gente mal intencionada”, advertiu o fundador da Aldeia da Vida

O CHÁ

O chá da Ayahuasca, ou Uni, como é tradicionalmente chamado pelos Yawanawá, cujo tronco linguístico é o Pano, significa chá de almas, ou chá dos mortos. Os Yawanawá são conhecidos como Povo da Queixada, por causa do significado dos termos Yawa (queixada) e Nawa (povo), e habitam na região fronteiriça entre o Acre e o Peru. A bebida é produzida a partir da fervura do cipó Jagube (Banisteriopsis Caapi), também chamado de Mariri, e da folha de chacrona (Psychotria viridis), ou rainha, ingredientes típicos da Floresta Amazônica.

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De acordo com o fundador da Aldeia da Vida, Leandro Valente, o chá não pode ser preparado de qualquer maneira, sendo necessário todo um processo ritualístico, podendo chegar, em alguns casos, a uma semana inteira fervendo na panela para alcançar o ponto desejado. Isso se deve ao fato de que cada cultura tem sua forma particular de consumir o chá em seus rituais, que resulta em diferentes intensidades dos seus efeitos. Tais efeitos acontecem graças a uma substância chamada de dimetiltriptamina, cuja abreviatura é DMT, contida na folha da chacrona, responsável por causar as visões após a fervura, em conjunto com o cipó Jagube. 

Leandro afirma que o ritual do Uni é uma forma de medicina muito antiga, carregado por uma imensa força espiritual que coordena o chá e que traz os efeitos únicos sentidos por cada indivíduo que o consome. O guardião fala do seu orgulho de transmitir esses conhecimentos para novas pessoas, que os considera como uma forma muito benéfica de ajudar as pessoas a se conectarem com a natureza e a combaterem os males carregados pela sociedade através da espiritualidade.

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“É um universo ancestral tão antigo, porém ainda muito novo para nossa sociedade moderna, que é muito impactada por conta da sua agitada rotina de funcionamento. Para nós, é uma alegria imensa poder mostrar para as pessoas de todos os lugares as propriedades dessa medicina, para semear esse conhecimento e transformar o mundo em um lugar melhor, mais saudável e harmônico”, concluiu Leandro Valente, um dos fundadores da Aldeia da Vida.

A instituição se prepara para abrigar o 2° Encontro Ayahuasca Brasil, que será realizado nos dias 29, 30 e 31 de outubro, e contará com a presença especial dos Huni Kuin Kaxinawá, o povo morcego, para um grande ciclo de cerimônias ancestrais com o chá indígena. Para mais informações sobre o encontro, os interessados devem entrar em contato na página @aldeiadavidaa, no Instagram, ou pelos telefones (81) 9.9144-7528 e (81) 9805-6077.
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