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TRANSFOBIA

Polícia apreende suspeito por assassinato de Crismilly, mulher trans morta no Recife

Publicado em: 26/07/2021 18:15 | Atualizado em: 26/07/2021 18:24

 (Reprodução/Whatsapp)
Reprodução/Whatsapp
-Nesta segunda-feira (26) a Polícia Civil apreendeu um adolescente suspeito pelo assassinato da cabeleireira Crismilly Pérola, mulher trans de 37 anos que também era conhecida como Bombom ou Piu-piu, que no dia 5 de julho de 2021 foi baleada, arrastada e jogada no Rio Capibaribe. 

Crismilly foi a terceira mulher trans assassinada em Pernambuco em menos de um mês. No dia 18 de junho, o corpo de Kalyndra Selva foi encontrado dentro de casa, no Ipsep, Zona Sul do Recife. Também nesta segunda-feira (26), seu companheiro foi indiciado por feminicídio. Em 24 de junho, Roberta da Silva teve 40% dos corpo queimado por um adolescente, no Cais de Santa Rita, no Centro do Recife, enquanto dormia, também por um adolescente. Após vários dias de internação e cirurgias de amputação, ela não resistiu.

Na véspera de seu assassinato, Crismilly foi a uma festa perto de onde morou a vida inteira, no bairro da Várzea, Zona Oeste do Recife, e o disparo feito contra ela foi feito perto de lá. De acordo com Euricelia Nogueira, delegada da 4.ª Delegacia de Polícia de Homicídios (DPH) da Polícia Civil de Pernambuco, houve testemunhas de toda a violência cometida contra ela, mas ninguém tentou impedir. 

“O que fica configurado muito claramente é que o autor não gostava da vítima, não se sentia bem com a presença da vítima, teria determinado que ela saísse daquele local e a vítima teria dito ‘quero ver quem é que vai me tirar daqui’. O suficiente para toda essa violência presenciada por pessoas que estavam lá e ficaram assistindo a toda sorte de violência que Piu-Piu sofreu”, disse a delegada.

Entre as suspeitas de possíveis motivações do crime, está uma suposta ameaça que a vítima teria feito contra o autor do crime. “Aproximadamente um ano atrás Piu-Piu teria ameaçado mas ele não contou detalhes. O advogado dele pediu que ele indicasse testemunhas dessa ameaça e ele não tem. Acredito que essa ameaça seja a justificativa dele para tamanha violência que foi empregada na vítima”, afirma a delegada. 

O local do crime, segundo a responsável pelas investigações, tinha marcas de sangue, arrastamento, uma pá suja e o corpo, retirado da água pelo Corpo de Bombeiros, estava longe. Euricelia Mogueira conta que Crismilly foi atingida por um único tiro e a arma do crime não foi encontrada, pois, o autor do crime teria efetuado vários disparos, mas vários falharam, causando raiva que o levou a jogar o revólver no rio 20 metros à frente. 

“A vítima foi ‘morta’ no local com um disparo de arma de fogo, agredida com instrumento contundente e depois insatisfeito porque a vítima continuava viva, foi arrastada por 20 metros e jogado seu corpo no rio até de fato o autor confirmar a morte e sair daquele local”, contou a titular da DHP. A delegada destaca o fato de que enquanto o autor do crime se afastava para jogar a arma e voltava, várias pessoas continuaram assistindo ao assassinato, numa postura de omissão.

Cerca de um mês antes de ser morta, Crismilly havia sofrido outro ataque motivado por homofobia. No entanto, de acordo com a delegada Euricelia, o responsável pelo primeiro ataque foi ouvido na investigação e não há conexão entre os dois crimes, sequer registro de ocorrência do ataque anterior ao assassinato. 

Diante da conclusão do inquérito, a delegada solicitou o internamento provisório do menor apreendido por ato infracional análogo a homicídio. “Ele vai passar 45 dias [internado], prazo que a Justiça tem para concluir o processo. Pode ser condenado e permanecer até três anos apreendido em uma instituição”, explicou a delegada.
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