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PANDEMIA

Pandemia provoca abandono e retrocesso na educação, dizem estudos

Publicado em: 26/01/2021 19:02

 (Foto: Sandy James/Esp. DP)
Foto: Sandy James/Esp. DP
A educação brasileira sofreu com os impactos da pandemia da Covid-19 no país, fenômeno iniciado em março de 2020. De acordo com pesquisa feita pelo Instituto Datafolha, cerca de 4 milhões de pessoas abandonaram os estudos em algum grau de ensino nos últimos meses.

O número se refere a 8,4% de estudantes de 6 a 34 anos que estavam matriculados antes do período pandêmico. Os principais motivos do abandono são questões financeiras e falta de acesso a aulas remotas em ambientes virtuais, problemas apontados, na maioria das vezes, pelos mais pobres.

Universitários foram o grupo que apresentou maior desistência: 16,3% dos entrevistados abandonaram o ensino superior. Já na educação básica, 10,8% dos alunos do ensino médio não continuaram a formação; e 4,6% dos estudantes do fundamental pararam com a rotina escolar.

A pesquisa do Datafolha foi feita a partir de entrevistas por telefone com 1.670 pessoas, entre alunos e responsáveis, entre 30 de novembro e 9 de dezembro de 2020.

Precariedade nas aulas é principal motivo para abandono da educação básica

Enquanto 42% dos universitários que abandonaram o ensino superior afirmam que o fizeram por falta de rendimentos para pagar as mensalidades do curso; o principal motivo de estudantes e responsáveis para desistirem dos estudos na educação básica é a precariedade na manutenção das aulas.

Esta justificativa foi dada por 28,7% dos desistentes do ensino fundamental e por 27,4% dos que largara o ensino médio. O grupo afirma que ter ficado sem aulas, por falta de acesso ou por falta de organização das instituições, motivou a saída das escolas.

Em meio às dificuldades, a desigualdade se tornou outro empecilho: a maioria dos abandonos no ensino básico foi feita pelas classes D e E (10,6%), enquanto na classe A apenas 6,9% dos alunos desistiram.

Educação pode retroceder até quatro anos devido à pandemia, diz estudo da FGV

Estudantes brasileiros podem ter sofrido, na pandemia, perda de aprendizado referente a três anos de estudos, segundo simulação de estudo feito pelo Centro de Aprendizagem em Avaliação e Resultados para o Brasil e a África Lusófona (FGV EESP Clear), vinculado à Fundação Getulio Vargas (FGV).

A simulação foi feita a partir de dados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), criado pelo governo federal para avaliar a aprendizagem da educação básica, e considerou o aprendizado de alunos dos anos finais do ensino fundamental (5º ao 9º ano) e do ensino médio, nas disciplinas de português e matemática.

Para calcular o suposto aprendizado dos estudantes durante o ensino remoto, o centro criou três cenários avaliativos com critérios específicos: otimista, intermediário e pessimista.

No primeiro deles, o contexto otimista, é considerado que os alunos aprenderam por meio do ensino remoto tanto quanto aprendem no modelo presencial, desde que cumprissem o cronograma de aulas e atividades. Já no intermediário, o aprendizado é proporcional às horas dedicadas a atividades escolares.

No cenário pessimista, os alunos não aprendem com o ensino remoto. É neste último caso que o estudo percebe que o o aprendizado retrocedeu aos níveis da avaliação do Saeb de quatro anos atrás (entre 2015 e 2017) em português, e de três anos em matemática (2017) no ensino fundamental.

A situação piora ao levar em consideração características pessoais dos estudantes, como raça e escolaridade materna. Com essa métrica em vista, os grupos populacionais mais prejudicados, para os anos finais do ensino fundamental e ensino médio, são pardos, negros e indígenas com mães que não concluíram o ensino fundamental.

Mesmo nos cenários intermediários e otimistas, há perdas significativas. No primeiro, a queda de proficiência nas disciplinas foi equivalente a três anos e, no segundo, o aprendizado em língua portuguesa retrocedeu aos índices de 2017 no Saeb.

Ensino remoto deve ser aposta das escolas, aponta estudo

A FGV EESP Clear chama a atenção para a diferença na perda do aprendizado entre estudantes que conseguem absorver o conteúdo das disciplinas pelo ensino remoto e aqueles sem produtividade ou acesso às aulas.

Alunos que aprendem no ensino remoto proporcionalmente às horas dedicadas a atividades escolares têm perda de 34% do aprendizado, enquanto alunos que não aprendem nada perdem o equivalente a 72% do conhecimento.

Em nota, o pesquisador e líder do estudo e professor de políticas públicas da Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP), André Portela, diz que “o aprendizado dos alunos depende do acesso ao ensino remoto e esse acesso é desigual no Brasil”.

Ele também afirma que o momento é de criar formas de democratizar o acesso ao ambiente virtual a todos os estudantes brasileiros. “São urgentes esforços para mitigar perda de aprendizado e garantir acesso a um ensino remoto de qualidade a todos, de modo a evitar a perda e o aumento das desigualdades educacionais”, pontua.
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