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LITERATURA

Novos escritores fomentam cena literária de PE através de editoras independentes

Publicado em: 18/01/2021 09:55 | Atualizado em: 18/01/2021 10:10

Os jornalistas Lara Ximenes e André Santa Rosa lançam Tática operacional para sobreviver ao cotidiano e Visão noturna para astronautas (Fotos: Mariana Gallindo/Divulgação e Divulgação)
Os jornalistas Lara Ximenes e André Santa Rosa lançam Tática operacional para sobreviver ao cotidiano e Visão noturna para astronautas (Fotos: Mariana Gallindo/Divulgação e Divulgação)


Há um crescente movimento de descoberta e promoção de novos autores na cena literária pernambucana. A prática reflete também no mercado editorial, que faz surgir mais editoras independentes no intuito de difundir novas possibilidades de trabalhos. Os jornalistas Lara Ximenes e André Santa Rosa são dois autores estreantes que fomentam esse caminho.

Lara explora o formato de listas em Tática operacional para sobreviver ao cotidiano, editado pela Chuvisco, lançado nesta segunda-feira (18) no site da editora. O exemplar custa R$ 35. Na última semana, André, repórter deste caderno Viver, lançou o livreto Visão noturna para astronautas. Os textos fazem parte de uma publicação maior, que deve ser lançada ainda neste ano. A publicação, editada por Felipe André Silva, da independente on-line &Legal Edições, custa R$ 10 e pode ser adquirida pelo Instagram do autor (@andresantarosa_).

Ao lançar mão do formato de listas, até então pouco explorado, Lara Ximenes prova que as anotações feitas aos garranchos em cadernos, agendas ou papéis aleatórios podem ir além de compras do mercado ou das demandas de trabalho, dando vazão a memórias e sentimentos que atravessaram a sua vivência na pandemia e também antes dela. E mostra que é possível transformar um hábito corriqueiro em um trabalho poético, afetuoso e gentil.

"As listas sempre estiveram no meu dia a dia, assim como a poesia. O ponto de virada foi justamente quando misturei as duas coisas e passei a anotar meus pensamentos em formato de lista, utilizando-as de forma menos prática e mais literária, dando outra vida aos poemas que compõem a obra", explica a autora. Trata-se do primeiro livro publicado pela Chuvisco, editora fundada pela designer Gabriela L’Amour e pela ilustradora Manuela Sobral.

Há amor, verdade, humor, rotina e dureza em seus versos livres, com aspecto de brevemente anotados, porém certeiros e bem lapidados. Atraída por registros históricos da vida íntima, costumes e hábitos, Lara também busca nas listas suprir o anseio por uma vida mais organizada. Na obra, a autora se desnuda, abrindo um diário com lembranças de antigos relacionamentos, decepções, arrependimentos, tentações, traumas e medos. E lembretes de habilidades que tem, atividades para repetir, conquistas e motivos para sorrir.

MATEI - Lara Ximenes
cactos
formigas
sonhos pequenos
[antes que
crescessem expectativas
[dos outros,
antes que
me engolissem
planos para depois da pandemia
[antes que as expectativas fossem minhas
e eu precisasse matá-las também

PLAQUETE

Quase artesanal, o livro de poemas Visão noturna para astronautas, escrito por André Santa Rosa em formato de plaquete, versa sobre o limiar do sentimento humano genuíno. Popularizadas no século 19, as plaquetes (ou plaquetas) conquistam cada vez mais espaço em editoras independentes e escritores autopublicados, muitas vezes antecedendo uma publicação de mais fôlego, lançada algum tempo depois, como no caso desta obra.

O título do livro já adianta um pouco do que os versos mergulham nas páginas a seguir. "Pensar no olhar do astronauta para a Terra. Às vezes esse olhar pode ser parecido com um olhar de uma pessoa para um vazio em meio à metrópole, esse olhar para uma vastidão às vezes meio indiferente à cidade. A indiferença quase não humana, que valoriza objetos mais que vidas. Então quis fazer essa relação entre a vista noturna de uma cidade e uma visão de um astronauta do espaço para a Terra.

A plaquete vem sendo gestada há três anos, embora alguns dos escritos dialoguem intimamente com o caos da pandemia e os desafios do isolamento. Em 12 poemas, André desengaveta memórias de infância, adolescência e episódios mais recentes, mesclando ficção, sonhos e lembranças íntimas, com muitas referências à linguagem do cinema e à música.

Santa Rosa começou a escrever poesia aos 15 anos, para dar vazão aos anseios de um futuro como escritor, que estabeleceu na infância, e já integrou zines e revistas literárias. "Decidi começar pela poesia por acreditar ter um valor literário, um ponto de partida." A figura do poeta, entretanto, não era o que buscava para si. "Percebi que existem muitos estereótipos do que é ser um poeta e eu não me identificava, até conhecer a poesia contemporânea", admite.

WE RULE THE SCHOOL - André Santa Rosa

era o ano de dois mil e etc
e no banheiro da escola fiz
um pacto de sangue com você
& ali no vermelho fui feliz (hoje reminiscente em cicatriz)
pronunciávamos in reverse da escuridão
nossos nomes eram o primeiro e o quinto
na lista de chamada

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