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DIFICULDADE

Lar de idosas Casa do Amor recorre a ações virtuais para se manter de portas abertas; Saiba como ajudar

Publicado em: 25/01/2021 16:34 | Atualizado em: 25/01/2021 18:16

 (Foto: Rômulo Chico / Esp.DP)
Foto: Rômulo Chico / Esp.DP
Dois anos de luta, presentificados de forma ainda mais intensa num período em que a pandemia da Covid-19 ainda é uma realidade. Essa é a situação vivida pela Associação Casa do Amor, uma instituição de longa permanência localizada no bairro do Arruda, Zona Norte do Recife, que acolhe mulheres idosas acima de 60 anos em situação de vulnerabilidade social. O abrigo, coordenado pelo advogado e ex-BBB Daniel Rolim junto ao administrador Mário Cavalcanti, foi fundado em 1995, sob a benção de Dom Helder Câmara, que celebrou a missa de inauguração da casa. Hoje, em meio às incertezas sentenciadas pelo novo coronavírus, o asilo sofre com a diminuição de doações e o alto custo mensal que precisa ser arcado para continuar de portas abertas. 

“Já chegamos a ter 25 idosas, mas como estamos com dificuldade de pagar aos funcionários, agora estamos com oito idosas. Por conta da pandemia, decidimos não receber mais ninguém, visto que estamos com o futuro incerto”, explica Daniel. Na última quarta-feira (20), 26 pessoas enquadradas no grupo prioritário do Plano Nacional de Vacinação receberam a primeira dose da vacina contra a Covid-19 na Casa do Amor, entre mulheres idosas, funcionárias e colaboradores da casa que têm contato direto com as residentes. Ao todo, a instituição conta com 10 funcionárias, sendo seis enfermeiras, uma cuidadora, duas cozinheiras e uma auxiliar de serviços gerais. Ainda com o vírus em circulação, por outro lado, o contratempo financeiro tem sido o maior causador da dor de cabeça dos coordenadores do lar. 

O gasto mensal para custear medicamentos, salário das trabalhadoras e encargos, gira em torno de R$ 32 mil, segundo Rolim. Para cobrir o montante e os meses seguintes, a Associação planejou uma série de ações, como rodas de chá, bingos e shows com artistas pernambucanos, visando arrecadar fundos. Contudo, os planos precisaram passar por uma readequação devido ao isolamento social. Ainda sem previsão de data para acontecer, a instituição vai realizar um leilão virtual do quadro "Vênus", obra do artista plástico Romero de Andrade Lima, e, já como parte da ação, deu início a venda do livro "Um caso com a Casa do Amor", da escritora potiguar Colly Holanda. Todas as vendas serão revertidas para o asilo, que também lançou uma vaquinha para aqueles que desejam contribuir doando dinheiro. Com a meta de atingir R$ 186 mil, a Associação conseguiu, até agora, menos da metade (quase R$ 52 mil).

Nina e Maria da Paixão conversando na janela (Foto: Rômulo Chico / Esp.DP.)
Nina e Maria da Paixão conversando na janela (Foto: Rômulo Chico / Esp.DP.)
As lutas travadas são expandidas ao campo afetivo. “As idosas não estão mais recebendo os parentes. As que fizeram amigos na Casa do Amor não puderam receber visita esse tempo todo. Desde que a pandemia começou até hoje, não demos um abraço. Fazíamos muitas vídeo chamadas, ligação e isso é uma coisa muito moderna para uma pessoa de 90 anos entender. Além disso, não podemos fazer os eventos que havíamos programado para arrecadar fundos. Isso tudo ficou inviabilizado", acrescenta Daniel. 

"Essa é uma casa muito festiva, a gente recebia muitos grupos de igrejas, de escola, de senhoras. Todas as datas são comemoradas: Páscoa, São João, Natal, aniversário do mês. Ainda fazemos essas atividades, mas é diferente de quando tem um grupo com 10 pessoas, que traz música, atividade de terapia ocupacional. No início da pandemia, essa ausência foi muito difícil para elas. Mas a gente sempre tenta trazer alegria, através de contos de história, bingo”, completa Mário Cavalcanti.

Para o ano que se inicia cheio de desafios, Daniel Rolim indagou o desejo de manter a casa de portas abertas."É muito difícil, muito desgastante. Tem que ser uma pessoa muito auto astral para conseguir. Meu sonho é ganhar na Mega-Sena e continuar com a casa aberta".

Maria da Paixão, 87 anos de idade, vive na Casa do Amor há quatro anos (Foto: Rômulo Chico / Esp.DP)
Maria da Paixão, 87 anos de idade, vive na Casa do Amor há quatro anos (Foto: Rômulo Chico / Esp.DP)

Maria da Paixão

Como de costume no dia a dia, Maria da Paixão colocou o vestido, passou batom, penteou o cabelo, colocou os brincos brancos de pérola e as pulseiras para esperar a visita da reportagem junto às colegas. Dona de um sorriso espontâneo e cheio de vida, a costureira e aposentada de 87 anos, natural de Nazaré da Mata, foi uma das vacinadas contra o novo coronavírus na última quarta-feira (20) e, de forma destemida, descreveu o momento. “Quando disseram que iríamos receber a vacina eu fiquei um pouco ansiosa, perguntando se seríamos mesmo. Mas quando a vacina chegou, passou. Nem senti a dor, sei nem em que braço tomei”, contou aos risos.

No entanto, é do vazio parcialmente preenchido nos dias de visita, liberadas antes da Covid-19 se instalar no estado, que os olhos de dona Maria - também conhecida na Casa do Amor como Liô - revelam a solidão de cada dia, traduzida por ela mesma em palavras. Emocionada, ela conta que sente muita falta de exercer o ofício de costureira. "Minha vida era muito boa. Eu era feliz e não sabia". E como uma espécie de ritual, todos os dias ela senta ao lado do telefone, à espera da ligação de sua irmã. 

“Todos os dias a gente fala por telefone. Mas não me acostumo, vai anoitecendo e batendo um desgosto. Passa o tempo e a gente vai ficando tão parada, é muito ruim", conta, ainda sem aceitar os desmandos da vida junto à idade avançada. No abrigo, Liô diz que, através do esforço da equipe, nunca faltou assistência a ela e às companheiras nos até então quatro anos de sua estadia. Na contagem regressiva para receber a segunda dose da vacina, programada para 21 dias após a aplicação da primeira remessa, a espera passou a ser pelo término da pandemia para que a vida normal volte a fazer sentido outra vez. 

“Eu sinto muita falta dos grupos que vinham visitar a gente. Eu tinha até amigos, vinha minha irmã, uma freguesa minha do Derby também. Ficávamos todos juntos, a gente dançava, era muito bom. Agora eles não vêm mais por conta da pandemia, mas tenho fé em Deus que tudo vai voltar a ser como era antes”. 

Como ajudar?

Contato: (81) 3444-5235 ou (81) 3449-0573;
Vaquinha: vaka.me/1118283
Banco Do Brasil - CC 20395-5 - Ag 2805-3 
CNPJ/PIX: 00.091.219/0001-43
"Um caso com a Casa do Amor": Dois livros por R$ 60 e um por R$ 40. 
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