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FBI intensifica repressão a milícias antes da posse de Biden

Publicado em: 19/01/2021 07:45

 (Foto: Mathieu Lewis-Rolland / AFP)
Foto: Mathieu Lewis-Rolland / AFP
A poucas horas da posse do democrata Joe Biden e do fim do governo do republicano Donald Trump, a capital, Washington, e as principais cidades dos Estados Unidos reforçaram a segurança, ante o temor de protestos violentos. O FBI (a polícia federal norte-americana) ampliou as investigações sobre a participação das milícias Oath Keepers (“Guardiões do Juramento”), Three Percenters (“Três Porcento”) e Proud Boys (“Garotos Orgulhosos”) na invasão ao Capitólio, no último dia 6, e alertaram que seguidores do magnata preparam manifestações armadas nos 50 estados. Na tarde de domingo, John Schaffer, 52 anos, entregou-se aos agentes depois de ser fotografado, no Congresso, usando um chapéu com a frase “Oath Keepers Lifetime Member” (“Membro vitalício do Oath Keepers”). No mesmo dia, Robert Gieswein, 24, integrante do Three Percenters, foi indiciado pelo ataque. Enquanto isso, membros do grupo Boogaloo Boys, ávidos por uma segunda Guerra Civil Americana, brandiram armas nas ruas de Salem (Oregon) e Richmond (Virgínia).

Apesar de contrária ao governo, a maioria das milícias de extrema-direita se alimentou do discurso de Trump. Os seus integrantes estampam a bandeira dos EUA com orgulho e disseminam teorias conspiratórias e fake news. Especialistas admitiram ao Correio que os grupos armados se impõem como ameaça à democracia. O medo de simpatizantes do republicano sabotarem a posse de Biden levou ao isolamento da Casa Branca e do Capitólio com arame e concreto. Mais de 20 mil membros da Guarda Nacional vigiam Washington. Um ensaio da cerimônia foi interrompido, ontem, por um “incidente de segurança”. Testemunhas relataram fumaça em área próxima ao Congresso. Após o prédio ser esvaziado, as autoridades anunciaram alarme falso.

Professor da Faculdade de Preparação para Emergências, Segurança Interna e Cibersegurança da Universidade de Albany (Nova York) e autor de Oath Keepers — Patriotism and the edge of violence in a right-wing antigovernment group (“Oath Keepers — Patriotismo e o limite da violência em um grupo antigoverno de direita”), Sam Jackson atribuiu a milícias de extrema-direita a principal ameaça contra a democracia. “São um risco aos valores da democracia deliberativa pacífica. Elas insistem que a política dos EUA está falida, que as eleições não funcionam e que o sistema é fraudado”, explica ao Correio.

De acordo com Jackson, as milícias operam dentro de salvaguardas da Primeira e da Segunda Emenda, que versam sobre a liberdade de expressão e o porte de armas. “A compreensão que elas têm em torno das garantias constitucionais não importa de uma perspectiva legal. É verdade que muitos estados nos EUA têm leis ou disposições constitucionais que proíbem organizações paramilitares desprovidas de vínculos com o governo”, afirma.

“As milícias promovem narrativas de conspiração que deslegitimam o processo democrático e o governo”, admite Arie Perliger — professor da Faculdade de Criminologia da University of Massachusetts Lowell e autor de American zealots: Inside right-wing domestic terrorism (“Zelotes americanos: Por dentro do terrorismo doméstico de direita”). Segundo ele, as facções usam as mídias sociais para ampliar a capacidade operacional a todo o território norte-americano. Em 2013, Stewart Rhodes, líder da Oath Keepers, externou a intenção de espalhar “tropas” pelo país para fornecer segurança “durante crises”. “A presença de policiais e de veteranos nas milícias lhes proporciona acesso à experiência militar e facilita a apresentação como se fossem patriotas”, acrescentou Perliger.

Richard Fontaine, diretor do Center for a New American Security, em Washington, lembra ao Correio que grupos domésticos têm matado mais nos EUA do que facções terroristas, como a Al-Qaeda e o Estado Islâmico. “A combinação de incitamento, violência e ilegalidade vista no ataque ao Capitólio pôs em xeque a democracia americana.” Ele diz que as milícias se valem de um ecossistema de comunicações, no qual atores-chave circulam teorias da conspiração, disseminam desinformação, expressam queixas e se organizam. Hoje, na véspera de deixar a Casa Branca antes da posse de Biden, Trump deve anunciar mais de 100 perdões.

FBI indicia filho de brasileiros
A mensagem foi deixada por Samuel Camargo, 26 anos, em seu perfil no Facebook, à 1h54 de 7 de janeiro, apenas algumas horas depois da invasão ao Capitólio. “A todos os meus amigos, familiares e às pessoas dos Estados Unidos. Peço desculpas por minhas ações, hoje, no Capitólio, em D.C. Estive envolvido nos eventos que ocorreram hoje cedo. Sairei de todas as mídias sociais em um futuro próximo e cooperarei com todas as investigações que possam surgir sobre meu envolvimento. Lamento a todas as pessoas que decepcionei, pois isso não é o que sou nem o que eu defendo”, escreveu Camargo, que é filho de brasileiros, nasceu em Boston e vive em Fort Myers (Flórida). Às 15h57 do dia seguinte, ele publicou na rede social: “Acabei de falar com um agente do FBI (polícia federal americana). Acho que fui inocentado)”. Centenas de pessoas o criticaram e o ofenderam ao responderem a publicação.

Camargo foi indiciado pelo FBI por obstruir o trabalho das forças de segurança; invadir área restrita sem permissão; cometer violência física contra pessoas ou propriedades em áreas restritas; e por adotar uma conduta desordenada ou perturbadora para interromper uma sessão do Congresso. Testemunhas contaram ter visto o homem em diferentes momentos da marcha que antecedeu a invasão e em meio aos distúrbios no Capitólio. Ele teria posado para foto, no Instagram, ao lado de um “pedaço de metal” do prédio do Congresso, o qual teria sido retirado como recordação. O Correio tentou entrevistar amigos e familiares de Camargo, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.
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