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LITERATURA

Reduto cultural em Olinda, Sebo Casa Azul anuncia fechamento e realiza saldão

Publicado em: 24/09/2020 15:00

Espaço acolheu saraus, lançamento de livros, shows e exposições  (Foto: Reprodução/Instagram @sebocasaazul)
Espaço acolheu saraus, lançamento de livros, shows e exposições (Foto: Reprodução/Instagram @sebocasaazul)

Com estantes cheias de obras, saraus e exposições, o Sebo Casa Azul agitou a agenda cultural do Sítio Histórico de Olinda por três anos e agora se despede das ladeiras, distribuindo um pedaço de seu acervo literário para cada um dos entusiastas. O espaço, situado na Rua São Bento, anunciou o encerramento das atividades no último dia 5, motivado pela crise provocada pela pandemia.

Para encerrar o ciclo, o jornalista e escritor Samarone Lima, responsável pelo sebo, realiza saldão de livros até 4 de outubro. As obras podem ser adquiridas no local - funciona das 10h às 15h aos domingos, segundas e quintas, das 16h às 20h às quartas e sextas e das 10h às 20h aos sábados. O fechamento deve ser consolidado com uma live.

"Foi uma decisão bem pensada, percebi que se insistisse em continuar seria caminhar para uma situação que não teria condições de manter. Mas eu tenho muito mais a valorizar os encontros, os afetos e as trocas tão preciosas do que lamentar. O sebo foi um espaço muito lúdico e artístico, que tomou uma proporção maior que imaginava nesses três anos. Sou muito grato”, conta Samarone.

No Casa Azul, eram realizados saraus todas as sextas, além de uma programação cultural com exposições de artes e fotografia, lançamento de livros e peças de teatro. Sem data para retomar as atividades artísticas que complementavam a renda mensal do sebo, Samarone viu o orçamento apertar e passou a ter dificuldades de manter o estabelecimento.

"Já era bem difícil manter o sebo, uma batalha. Quando chegou a quarentena, tivemos que fechar as portas, e nesse período fui percebendo a mudança de cenário. Não tínhamos condições de realizar os nossos eventos e nem sabemos quando poderíamos voltar. Além de que, em um país em crise, não é fácil para as pessoas irem comprar livros... e estamos falando de livros usados. Não sinto que é o momento de continuar", destaca o jornalista.

Desde o início do período de isolamento social, o sebo só reabriu no dia 5 de setembro, quando foi anunciado o saldão. E, no meio da pandemia, os livros voltaram a circular. O anúncio das vendas mobilizou poetas, escritores, colecionadores e antigos frequentadores. “Para os amantes de livros, uma ida ao sebo é como encontrar coisas preciosas. Então, poder ver o retorno das pessoas para esse local é muito bonito e tocante. Houve uma recepção grande, muitas pessoas vindo de locais variados, e foi graças a essa repercussão que existe um movimento no sebo agora”, diz Samarone.

A conta no Instagram (@sebocasaazul) continua como um espaço de troca literária e canal de divulgação de seus cursos de poesia. “Penso sobre um selo editorial, nada certo ainda.” O sebo foi inaugurado no dia 7 de abril de 2017, na antiga sede, na Rua 13 de Maio, também no Sítio Histórico, em uma casa de muros azuis. O estabelecimento funcionava em dois cômodos e tinha como mote “literatura, um encontro de lentidão”.

Unindo a paixão pela leitura com o desejo de realizar um novo projeto, Samarone decidiu compartilhar seu acervo de raridades com o público interessado e moradores da região. As obras se multiplicaram com as doações de vizinhos e amigos e aos poucos demandaram o uso de novas estantes. Olinda acolheu o Sebo Casa Azul como um reduto literário.

"Eu sempre fui de ter livro. Eu costumo dizer que, se eu pudesse, eu morreria em um sebo. Tudo que está nas estantes é bem importante, tem também muitos livros que já andaram bastante comigo, mas agora seguem sem nenhum apego pessoal. Acredito que quanto mais o acervo seja vendido, melhor vai ser a transição”, afirma.

Samarone lembra, com bom humor, do início das atividades, quando ouviu de uma amiga o boato que circulava pelas ladeiras de Olinda, de que ele não queria vender os livros. “Eu sofria para me desfazer dos livros, muitas vezes a negociação das vendas durava um tempão, mas com o passar do tempo fui relaxando mais”, admite, aos risos.
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