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AGLOMERAÇÃO

Em meio a pandemia, senador organiza paella para colegas com mais de 50 confirmações

Por: Iara Lemos

Publicado em: 22/09/2020 17:16

Vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF) (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)
Vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF) (Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)
Em meio à pandemia do coronavírus, o vice-líder do governo no Senado, Izalci Lucas (PSDB-DF), organizou um jantar para reunir os colegas senadores na noite desta terça-feira (22). Até o final da manhã, a lista de confirmados no evento já contava com mais de 50 pessoas.

Esta é a primeira semana em que os parlamentares estão em Brasília desde que tiveram início as sessões remotas por causa da Covid-19. Depois de seis meses, voltaram à capital federal para atividades presenciais.

Como medida de segurança, eles estrearam um sistema drive-thru de votação. De dentro dos carros, os congressistas evitaram aglomerações no plenário de uma comissão.

A lista de confirmações para o jantar começou a ser elaborada na noite desta segunda (21). A ideia inicial de Izalci Lucas era reunir alguns parlamentares na sua casa, em Brasília, para servir uma paella, prato típico da culinária espanhola.

Izalci é conhecido por convidar os colegas para frequentar sua casa. Lá, costumava antes da pandemia realizar almoços, jantares e até jogos de futebol entre os parlamentares.

O prato típico espanhol foi tão atrativo que a confraternização cresceu e precisou mudar de endereço. Na manhã desta terça, Izalci reservou o salão de um clube para o evento desta noite.

A ideia é dar mais espaço aos convidados. Questionado, não respondeu sobre medidas de segurança, como a colocação de álcool em gel.

"É um encontro bem discreto, mas como muita gente confirmou eu preferi achar um local maior", disse.

No convite que circula por meio de WhatsApp entre os senadores, Izalci convida para uma "bela paella" para "nossa confraternização". Segundo o senador, o jantar vai ser preparado por um amigo dele.

Entre as bebidas, Izalci providenciou vinhos, refrigerantes e água. Ele não soube dizer o custo da confraternização. Quatro garçons já estão escalados para trabalhar no jantar.

"O pessoal não bebe muito não, então comprei poucas garrafas de vinho. Os senadores são meus convidados, ninguém paga nada não", disse.

No começo da tarde, a repercussão do evento levou o senador a receber uma série de ligações. "Desse jeito vocês [reportagem] vão derrubar meu evento. Qualquer coisa que a gente faça, repercute um pouco."

Procurada, a administração do salão confirmou à reportagem o evento. Segundo ela, as mesas já estão montadas com um distanciamento de dois metros entre cada uma e álcool em gel disponível. Os convidados do senador terão a temperatura verificada na entrada do salão por um funcionário do clube.

Entre os senadores confirmados está o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que já contraiu a Covid-19. Outro que está com o nome na lista é Nelson Trad (PSD-MS), que foi o primeiro senador a contrair a doença.

O líder do PL no Senado, Jorge Mello (SC), que também já se contaminou, desistiu de ir após saber que o jantar prevê cerca de 50 pessoas. "Eu não fiz [evento] e não recomendo ninguém fazer", disse.

Entre os que ainda não se contaminaram, Esperidião Amin (PP-SC) é o 11º nome confirmado na lista de presença. Ele diz que confirmou que estaria em um evento que seria feito de forma reservada, na casa do colega. Com mais pessoas presentes, diz ter mudado de ideia.

"Com o número a que chegou a lista, a cautela desaconselha a ida. A paella subiu no telhado."

A presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça), Simone Tebet (MDB-MS), também teve o nome na lista de confirmados. Questionada, a senadora falou que quando garantiu presença, "a previsão é de que fosse um jantar para poucas pessoas".

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) recebeu o convite, mas não vai participar. "Nem em sonho", afirmou. Major Olímpio (PSL-SP) também foi convidado, mas negou a participação por estar com problema de saúde.

O jornal Folha de S.Paulo já mostrou que, embora a pandemia não tenha terminado nem exista vacina para a Covid-19, autoridades retomaram festas e cerimônias em Brasília. No país, são mais de 4,5 milhões de casos e 137 mil mortes em decorrência do novo coronavírus.

Há duas semanas, a posse de Luiz Fux na presidência do STF (Supremo Tribunal Federal) resultou em pelo menos oito autoridades com resultado positivo para a Covid-19, inclusive o próprio Fux.

A cerimônia no último dia 10 foi presencial, no plenário da corte. Em seguida, houve um coquetel para os convidados.

Em uma semana, além da posse no Supremo, ocorreram casamento de filha de ministro e celebração do Ano-Novo judaico, com aglomeração, falta de máscaras e cumprimentos com abraços e apertos de mão.
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