Diario de Pernambuco
Busca

SAÚDE

Como as flores têm ajudado as pessoas nesta pandemia

Publicado em: 20/09/2020 09:35

As flores ajudaram Cilene Vieira a superar a ansiedade após um resultado de falso positivo para a covid-19. (Foto: Arquivo Pessoal)
As flores ajudaram Cilene Vieira a superar a ansiedade após um resultado de falso positivo para a covid-19. (Foto: Arquivo Pessoal)
 
Em meio ao isolamento social, as flores tornaram-se grandes aliadas da saúde mental. A natureza, seja no quintal ou na varanda, seja no quarto, na sala, na cozinha ou no banheiro, traz um respiro, uma companhia e uma nova vida ao lar em momentos tão difíceis. Ao mesmo tempo que deixam mais alegre o dia de quem as recebe ou compra, as flores são agentes de transformação de quem trabalha com elas e precisou se reinventar durante a pandemia.

A florista Cilene Vieira é um exemplo de como o contato com as flores pode mudar uma vida — e não apenas no âmbito profissional. Depois de receber um resultado falso positivo de covid-19, ela passou uma semana completamente isolada — período em que montou, para si mesma, um arranjo por dia. A cada novo buquê, escolhia flores diferentes e usava os conceitos de cromoterapia. “As flores me salvaram, foi uma experiência fantástica. A presença delas me deu tranquilidade, e o trabalho manual me ocupou de forma saudável”, garante.

Quando precisa recarregar as energias, é nelas que Cilene encontra paz. Praticante de flower meditation, uma técnica de meditação durante o trato com as flores, ela monta os arranjos de forma mais perceptiva e sensitiva. A preparação do ambiente começa com a separação e a limpeza do material. Em seguida, acende incensos e coloca músicas meditativas para tocar. Depois de respirar fundo, começa a criação. “Não consigo fazer isso em todas as encomendas, claro. Mas é algo que repito pelo menos uma vez por semana e quando crio arranjos para mim. Posso testar a mistura de cores, texturas e cheiros”, conta.

Momentaneamente, é possível esquecer as preocupações com o dia seguinte e toda a sensação de insegurança causada pela pandemia. Segundo a florista, que sugere que todos tentem em casa, com o trabalho criativo, é possível se desligar e tudo ganha mais cor.

A florista azul
Formada pela Escola Brasileira de Arte Floral e com diversos cursos e bastante prática, Cilene vivia o mercado das flores como um extra, paralelo ao trabalho como executiva de marketing, e como um hobby prazeroso. Em 2019, resolveu viver um ano sabático e passou dois meses estudando no Canadá. De volta ao Brasil, após o carnaval, logo surgiu o primeiro caso de covid-19 em Brasília.


O isolamento acabou levando Cilene a investir ainda mais no mercado dos flores. Ela, o marido e o filho isolaram-se na chácara da família e as flores foram assumindo um papel cada vez mais importante no seu dia a dia, não só por meio dos arranjos, mas, também, do cultivo.

Antes mesmo da pandemia, ao observar os orgânicos cultivados pelo marido para consumo próprio, Cilene descobriu que são poucas as opções de flores orgânicas. Por serem apreciadas por formigas, lagartos e fungos, as plantações costumam ter muito veneno e alguns floristas acabam desenvolvendo problemas de saúde pelo contato direto.

“Foi o incentivo para que eu criasse meu jardim de teste, no qual vejo como as flores se comportam e se adaptam ao nosso clima. Começamos com as lavandas, minhas preferidas e que dão nome à marca que estou lançando, a Florista Azul”, conta.

O isolamento fez com que Cilene resolvesse aumentar a atuação no mercado. Antes, os arranjos eram pedidos apenas por amigos e familiares, sem uma marca estabelecida. As encomendas para parabenizar aniversariantes, inauguração de casa nova e gestações aumentaram, assim como buquês apenas para lembrar o amor de netos que não podem visitar os avós. “Percebi que, por não poderem visitar ou abraçar, as pessoas passaram a contar com as flores como uma forma de mostrar o afeto, de chegar perto sem poder estar presente fisicamente. Recebi encomendas até de fora do Brasil, de quem não podia voltar para visitar”, conta.
 
- Escolha e faça a colheita do material a ser usado a partir de uma ideia de formato. Neste caso, um estilo desestruturado, assimétrico, respeitando ao máximo o caimento de cada flor e folhagem.
- Escolha o vaso de acordo com o estilo. Para esse arranjo, um de vidro com pedestal, pois permite o uso de materiais pendentes.
- Limpe o material. Retire as folhas secas e faça os cortes nos tamanhos necessários.
- Coloque do kenzan, fixador de galhos, no fundo do vaso com uma fita adesiva. Preencha com água e forre as paredes do vaso com folhagens para que a estrutura não fique visível.
- Execute o arranjo com a fixação de cada elemento, coordene cores, flores e folhagens. Com esse estilo orgânico, busca-se uma combinação livre e caimento de galhos o mais próximo da natureza.
- Para deixar a casa alegre e colorida, harmonize as cores básicas do arco-íris. Use folhagens de ervas como alecrim, manjericão, hortelã e lavandas para perfumar e, ao mesmo tempo, enfeitar.
- Coloque o arranjo num lugar de destaque da casa, aprecie sua beleza e perfume e deixe sua energia se espalhar pelo ambiente.
- Preencha com água fresca todos os dias.

Mercado em adaptação
Assim como as flores precisam fazer concessões e mudanças para viver bem no clima temperamental do cerrado e, como recompensa, encontram um solo rico em minerais e nutrientes, o mercado da floricultura sofreu baques durante a pandemia, mas encontrou um alívio ao se reinventar, com o aumento dos pedidos por delivery, assinaturas florais e encomendas de arranjos para presente.

Florista do Ateliê Florescer, Camilla Holz cria buquês com espécies tropicais produzidas pela família, em Brazlândia, há mais de 15 anos. Com a irmã, Daniela Holz, responsável pelas entregas, ela conta ter percebido um grande aumento nos pedidos desde o início da pandemia.

“Acredito que, isoladas, as pessoas perderam o contato com o verde da natureza e querem recuperar, encurtar essa distância com os arranjos.” Muitos dos clientes das irmãs fazem assinaturas florais e comentam como as flores trouxeram alegria, diminuíram o estresse do home office e têm ajudado a passar por momentos de dificuldade.

Camilla atribui esse retorno positivo à troca de energia que as flores permitem — tornam-se um ser vivo, de quem as pessoas precisam cuidar, com quem podem conversar e que sempre deixam o espaço mais bonito e colorido.

A florista Camilla Holz, do Ateliê Florescer, cria buquês com espécies tropicais
Dica de Camilla: “Use o que você tem em casa. Vasos de vidro, gamelas e até um prato bonito com flores podem mudar toda a energia da casa. Coloque sua identidade no arranjo”.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL