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SEM PROVAS

Bolsonaro diz, na ONU, que ONGs comandam crimes ambientais

Publicado em: 30/09/2020 16:37

 (Foto: Evaristo Sá/AFP)
Foto: Evaristo Sá/AFP
O presidente Jair Bolsonaro voltou a acusar, sem apresentar provas, as organizações não governamentais (ONGs) de estarem por trás de "crimes ambientais" no Brasil e no exterior. Foi no discurso desta quarta-feira (30), no Encontro de Cúpula das Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Biodiversidade. Para confirmar que o governo está atento à preservação da região, ele citou a Operação Verde Brasil 2, mas não apresentou dados concretos sobre a eficiência da iniciativa.

“Na Amazônia, lançamos a Operação Verde Brasil 2, que logrou reverter, até agora, a tendência de aumento da área desmatada observada nos anos anteriores. Vamos dar continuidade a essa operação para intensificar ainda mais o combate a esses problemas que favorecem as organizações que, associadas a algumas ONGs, comandam os crimes ambientais no Brasil e no exterior”, afirmou.

No Pantanal, segundo ele, houve o fortalecimento da integração entre as agências governamentais, com o apoio das Forças Armadas, para atuar de maneira coordenada no combate aos focos de incêndio no bioma.

Cobiça internacional
O presidente também rechaçou o que chamou de “cobiça internacional” da Amazônia e disse que defenderá a região das “ações ações e narrativas que agridam os interessem nacionais”.

“Não podemos aceitar que informações falsas e irresponsáveis sirvam de pretexto para a imposição de regras internacionais injustas, que desconsiderem as importantes conquistas ambientais que alcançamos em benefício do Brasil e do mundo”, disse.

Esse foi o segundo discurso de Bolsonaro na ONU. Na abertura da Assembleia-Geral, no último dia 22, o presidente afirmou que o Brasil é vítima de uma brutal campanha de desinformação sobre as queimadas ocorridas na Amazônia e no Pantanal. Ainda atacou as organizações não governamentais, classificando-as como “aproveitadoras e impatrióticas”.

“Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal. A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos, que se unem a associações brasileiras aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”. Naquele momento, Bolsonaro argumentou que há interesses comerciais por trás dos ataques em razão das queimadas.

Esculturas de gelo
Ativistas do Greenpeace nos Estados Unidos colocaram esculturas de gelo em tamanho real na frente do prédio das Nações Unidas, onde a reunião foi realizada, com cartazes dizendo: “Líderes da extinção: destruindo um planeta em crise”.

“Um milhão de espécies está em processo de extinção, e o derretimento das esculturas simboliza, sobretudo, os efeitos das omissões e ações contraditórias adotadas pelos governos no planeta, verdadeiros vilões do clima e da biodiversidade”, afirmou Cristiane Mazzetti, da campanha de florestas e gestora ambiental do Greenpeace Brasil.

O Brasil, além de abrigar a maior floresta tropical do mundo, está entre os países mais biodiversos do planeta. “No entanto, o governo federal está promovendo ativamente uma agenda anti-ambiental, alimentando a crise da biodiversidade e ameaçando os direitos dos povos indígenas, que são verdadeiros guardiões de áreas naturais”, observou Mazzetti.

Bolsonaro x Biden
Em debate na noite de ontem, o candidato à presidência dos Estados Unidos, Joe Biden, prometeu US$ 20 bilhões para combater a devastação da Amazônia, mas disse que haveria retaliações se o governo brasileiro não tomasse medidas eficazes contra o desmatamento.

Em uma publicação nas redes sociais, nesta quarta-feira (30), Bolsonaro rebateu o democrata, afirmando que a soberania do país é inegociável. Disse ainda que o governo tem tomado “ações sem precedentes” para proteção da Amazônia.

“Meu governo está realizando ações sem precedentes para proteger a Amazônia. Cooperação dos EUA é bem-vinda, inclusive para projetos de investimento sustentável que criem emprego digno para a população amazônica, tal como tenho conversado com o presidente Trump”.

Bolsonaro apontou que a região amazônica é cobiçada por outros países e que a declaração de Biden sinaliza “abrir mão de uma convivência cordial e profícua”.

“A cobiça de alguns países sobre a Amazônia é uma realidade. Contudo, a externação por alguém que disputa o comando de seu país sinaliza claramente abrir mão de uma convivência cordial e profícua”.

O presidente classificou como "lamentável e desastrosa" a afirmação do candidato democrata. “Custo entender, como chefe de Estado que reabriu plenamente a sua diplomacia com os Estados Unidos, depois de décadas de governos hostis, tão desastrosa e gratuita declaração. Lamentável, sr. Joe Biden, sob todos os aspectos, lamentável”, escreveu o presidente. O recado também ganhou uma versão em inglês para que chegue ao conhecimento de Biden.

Já o vice-presidente Hamilton Mourão, coordenador do Conselho da Amazônia, não achou que a fala de Biden seja uma ameaça. “Eu não vi questão de ameça, não. Só vi que Biden disse que colocaria US$ 20 bilhões de dólares para ajudar na questão de impedir o desmatamento ilegal. Vamos aguardar. Achei que o debate (presidencial americano) foi de baixo nível”, completou.

Mais cedo, Mourão também comentou sobre o discurso de Bolsonaro na reunião da ONU. “O que ele vai abordar é aquilo que é a nossa visão: que nós sabemos que a proteção da biodiversidade da Amazônia é fundamental e transformar essa riqueza por meio da bioeconomia em emprego e renda para todo mundo que vive lá”.
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