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7ª edição do Cine Kurumin, festival de cinema indígena, tem exibição virtual gratuita

Publicado em: 25/09/2020 09:50 | Atualizado em: 25/09/2020 09:37

Mostra oficial tem 26 produções indígenas de vários países
 (Foto: Purki/Divulgação)
Mostra oficial tem 26 produções indígenas de vários países (Foto: Purki/Divulgação)

Um projeto intimista e encorajador. Assim a cineasta Graciela Guarani definiu o processo de gravação do filme Cartas nhemongueta, dirigido por ela em parceria com Michely Fernandes, Patrícia Ferreira Pará Yxapy e Sofia Fernandes. A produção é fruto da iniciativa Nhemongueta Kunhã Mbaraete, comissionada pelo Instituto Moreira Salles, que em livre tradução significa "conversas entre mulheres guerreiras".

O trabalho integra o festival de cinema indígena Cine Kurumin, que teve início no último domingo e segue até 20 de outubro em formato on-line. A programação conta com a Mostra Abya Yala – Cinema Indígena na América Latina, a Mostra de Clipes Indígenas Porahei, além da Mostra Oficial, com exibição de 26 produções indígenas contemporâneas de diferentes países. A cada semana serão realizados debates e comentários sobre os filmes exibidos. Toda a grade está disponível na plataforma Vimeo de maneira gratuita pelo link bit.ly/cinekurumin2020.

O longa, com quatro partes, consiste em uma troca de vídeo-cartas entre três mulheres indígenas e uma não indígena, sob a perspectiva afetiva, etnofilosófica e crítica diante do processo de isolamento social e o universo que as permeia. As inquietações foram compartilhadas por elas em dois meses durante a pandemia. "Queríamos mostrar, de uma certa forma, como a gente faz e como a gente vive sendo mulheres produtoras no mercado audiovisual. O projeto nasceu a partir dessa proximidade e da nossa unidade de pensamento. Para mim, é uma questão de sobrevivência conseguir viver sendo indígena e ainda mais mulher.

O empoderamento, a visibilidade e a autoafirmação são um processo muito necessário e urgente", explica Graciela, que atua no ramo audiovisual há 15 anos, como diretora, roteirista e cinegrafista. “A partir do momento que a gente abre as portas de nossas casas, da nossa intimidade, nós dialogamos sobre nós. É provocador, intimista e encorajador." Graciela nasceu na aldeia Jaguapiru, em Dourados (MS), e atualmente vive em Jatobá, no Sertão de Pernambuco. As demais produções no Cine Kurumin, realizado há sete anos, abordam questões sobre a pandemia, a defesa dos territórios indígenas, questões de gênero, mulheres e LGBTI.

O público também poderá participar do Aldeia_Lab, novidade desta edição, que consiste em um laboratório virtual de troca de experiências, ideias e projetos propostos por realizadores audiovisuais indígenas. Neste espaço são desenvolvidas ainda atividades voltadas para outras linguagens como fotografia e mídia de guerrilha. Realizadores poderão receber consultoria da escola de cinema para povos indígenas, o Vídeo nas Aldeias.

De acordo com a diretora geral e curadora do Kurumin, Thaís Brito, edição virtual possibilita o alcance de um público ainda mais amplo. "A experiência coletiva da sala do cinema passa a ser em casa, mas manteremos os espaços de debate. O momento nos impõe, acredito, a necessidade da escuta e aprendizado com os povos indígenas, que superaram muitos e muitos cenários como esse ao longo do tempo. O que o cinema indígena nos ensina sobre resistência diante de um cenário de catástrofe como o que vivemos. São questões que a curadoria tenta alcançar", detalha Thaís Brito, que dividiu o trabalho de curadoria com realizadores indígenas.

O festival busca descolonizar o imaginário e devolver a autoria da produção de imagens para os povos indígenas. Já exibiu mais de 100 filmes e reuniu mais de 2 mil pessoas, em Salvador e nas aldeias dos povos Tupinambá, Pataxó, Tumbalalá, Kiriri (Bahia) e Yawalapiti, no Parque Indígena do Xingu.
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