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Laços mais estreitos entre brasileiros e chineses

Publicado em: 15/08/2020 08:30

Thomas Law, diretor-presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) (Foto: Divulgação)
Thomas Law, diretor-presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina) (Foto: Divulgação)
As primeiras fazendas de chá do Brasil implementadas em lavouras experimentais em São Paulo e Rio de Janeiro foram cultivadas a partir das mãos dos primeiros imigrantes chineses no país ainda no início do século 19. A introdução da prática veio acompanhada com tecnologias agrícolas, que brevemente foram expandidas para áreas da agricultura, construção ferroviária e mineração. Após um longo período de ampliação das relações entre os dois países, a China se tornou o principal parceiro do Brasil, mantendo uma balança comercial favorável com a exportação de insumos agrícolas e demais manufaturas. Neste sábado, é comemorado o aniversário de 46 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e o Brasil, para marcar a instauração das embaixadas do Brasil em Pequim e da China em Brasília. Na mesma data também se celebra o Dia da Imigração Chinesa no Brasil, sancionada há dois anos.

Celebrar a data é também resgatar o início da construção da cooperação entre os dois povos, iniciada em 1809 com a chegada dos primeiros imigrantes. De início, ocuparam o Sudeste do Brasil, investindo na produção de chás, até então não explorada em terras brasileiras, e se consolidando também na mineração. Um grande fluxo migratório é registrado somente em 1950, impulsionado pela guerra civil chinesa, que levou um grande número de habitantes a se mudar para Taiwan e, logo em seguida, parte deles transferiu-se para o Brasil. Com o aumento dos imigrantes no país, as relações bilaterais entre Brasil e China se tornaram mais frequentes, o que desaguou no estabelecimento formal da cooperação há 46 anos.

No fim da década de 1980, após a Abertura Econômica na China, os chineses cada vez mais estabelecidos no Brasil e com um maior conhecimento sobre o território, aumentaram o interesse de expansão na região, assim permitindo a sua presença em mais estados do país. É nesse movimento de avanço, que, nos anos 2000, os imigrantes oriundos principalmente de Fujian, Guangdong, Zhejiang e Taiwan começaram a explorar com mais força o Nordeste brasileiro. Hoje, com 8 mil imigrantes, a capital pernambucana abriga a maior comunidade chinesa no Nordeste, que se destacam nos ramos de pesca, comércio, agricultura e alimentação. O número representa 2,66% da população chinesa no Brasil, que corresponde atualmente a 300 mil pessoas, distribuídas majoritariamente em São Paulo, Curitiba e Rio de Janeiro.

A China e o Brasil têm complementaridades econômicas e mantém perspectivas de cooperação comercial e de investimentos, com grande potencial de cooperação econômica e comercial. “Eu definiria essa cooperação a partir de duas forças: prosperidade e amizade. São duas economias grandes, mas complementares no comércio de manufaturas, de soja, carne, café, milho e minério, o que resulta numa balança muito favorável para os dois países. E a tendência dessa relação diplomática é crescente, que pode ultrapassar outras áreas, mesmo diante da pandemia”, afirma Thomas Law, diretor-presidente do Instituto Sociocultural Brasil-China (Ibrachina), que desempenha um importante papel na integração cultural entre dois povos.

“Eu vejo que Pernambuco está em uma posição muito diferenciada. O estado abriga um Consulado Geral da China, um dos três estabelecidos no Brasil. Também se destaca no comércio e no agronegócio”, destaca.

O Consulado Geral da China, sediado no Recife, mantém uma relação próxima com o Consórcio Nordeste, realizando encontros frequentes com os líderes dos nove estados da região a fim de intensificar os projetos de cooperação nos setores de infraestrutura, energia renovável, software, agronegócio, produtos biofarmacêuticos, petroquímico, indústria automotiva, projetos de cidades inteligentes, segurança e construção naval.

Thomas Law acredita que há boas perspectivas para a relação de cooperação sino-brasileira no pós-pandemia, o que fortalecerá a retomada do comércio brasileiro. “Eu acho que o novo normal vai testar os limites das relações diplomáticas, e a tendência para o Brasil e China é que relação fique ainda mais próxima, e agora, mais do que antes, muito baseada no uso de tecnologia, explorando à expansão da rede, proteção uso de dados e bigdatas”, salienta.

O diretor prevê um fluxo mais dinâmico na cooperação. “O Brasil vai receber o Banco dos Brics, isso vai fortalecer a realização de obras de infraestrutura no país, além de construir caminhos para um desenvolvimento mais sustentável”, analisa. Em julho deste ano, foi aprovada no Senado a criação de representação do Banco do Brics no Brasil. Uma sede do Banco da Ásia do país também está em negociação.

Para Law, o Ibrachina tem um papel muito importante na integração cultural entre os povos da China e do Brasil. “Eu vejo como muito importante essa integração. A China é uma civilização com cinco mil anos de história que preserva as suas tradições e, assim como o Brasil, tem características peculiares em sua cultura, hábitos, economia, história e legislação. Essa troca entre as nações possibilita que os brasileiros conheçam um pouco mais da cultura chinesa”, destaca.  

Revista
Para marcar os 46 anos de cooperação entre Brasil e China, o Consulado Geral da China no Recife lança nesta segunda-feira, dia 17 de agosto, a Revista Nordeste com o objetivo de mostrar aos leitores brasileiros as ações de cooperação e intercâmbio entre os dois países, especialmente com o Nordeste brasileiro. A primeira edição traz uma entrevista com a cônsul-geral da China em Recife, Yan Yuqing, analisando a importância da relação no combate à pandemia causada pela Covid-19 e também as perspectivas no “período pós-pandêmico”.

Cultura
Frequentemente o Consulado-Geral da China realiza seminários e viabiliza vagas em cursos e treinamentos internacionais na China para servidores públicos e empresários brasileiros de várias instituições nos estados sob a jurisdição consular. Com interesse em trocar experiências culturais, o Consulado já promoveu no Recife a celebração do Ano Novo Chinês, presta apoio ao Instituto Confúcio, em parceria com a Universidade de Pernambuco (UPE), e já levou a Orquestra Criança Cidadã de Recife para apresentar a música nordestina na China.
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