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Disputa

Eleições na Polônia acontecem neste domingo

Publicado em: 12/07/2020 10:47

Andrzej Duda e Rafal Trzaskowski (Janek Skarzynski/AFP)
Andrzej Duda e Rafal Trzaskowski (Janek Skarzynski/AFP)
De um lado, o presidente Andrzej Duda, apoiado pelo Partido Lei e Justiça (PiS, de extrema-direita) e com uma agenda populista contrária à “ideologia LGBTQIA+”. De outro lado, o prefeito de Varsóvia, Rafal Trzaskowski, que segue a linha liberal pró-europeia e promete resguardar os direitos dos homossexuais, além de preservar os benefícios sociais criados pelo atual governo. Os dois candidatos disputam, hoje, o segundo turno das eleições presidenciais da Polônia tecnicamente empatados. 

No primeiro turno, em 28 de junho, Duda obteve 43,5% dos votos contra 30,5% para Rafal. Divididos entre o medo e a esperança, os cerca de 30,2 milhões de eleitores poloneses definirão não apenas os rumos do país, mas a tendência — ou não — de avanço gradual da extrema-direita pela Europa, especialmente no leste do continente.

Pawel Machcewicz, historiador e professor do Instituto de Estudos Políticos da Academia Polonesa de Ciências, em Varsóvia, explica ao Correio que Duda focou-se em uma retórica agressiva contra alvos distintos. “Ele promoveu uma campanha de ódio contra os LGBTQIA ; contra os alemães; contra os judeus — a que acusou de desejarem recuperar suas propriedades na Polônia —; e contra as elites liberais cosmopolitas, por supostamente terem traído a nação e servido a interesses estrangeiros. “Os pontos ‘positivos’ da agenda de Duda incluem a defesa da posição dominante da Igreja Católica e da religião, além de transferências sociais introduzidas pelo PiS no valor mensal de 500 zloty (moeda local) por criança (ou R$ 674)”, comentou. O PiS tem insistido à população que Rafal cancelará esses repasses, caso eleito, apesar de ele negar isso.
  
Para Machcewicz, a polarização crescente na sociedade polonesa atribuirá a um pequeno número de eleitores a decisão sobre o ganhador. “A campanha é muito emocional, e houve exemplos de violência física contra simpatizantes de Rafal durante os comícios”, disse. Por sua vez, Przemyslaw Tacik, professor do Instituto de Estudos Europeus da Universidade Jaguelônica (em Cracóvia), disse que as mais recentes pesquisas indicam vitória mínima de Rafal. “A guinada de Duda para a extrema-direita é uma clara tentativa de mobilizar a própria base eleitoral e ganhar alguns dos eleitoires de Krzysztof Bosak, candidato ultraconservador do primeiro turno. Impossibilitado de contar com novos eleitores moderados, pois sua base eleitoral está solidificada, Duda tem recorrido à polarização extrema.

SegundoTacik, Duda elegeu o tema dos direitos dos LGBTQIA e introduziu a homofobia como forma de “proteger crianças contra a adoção por casais homossexuais”. Membros de seu gabinete e do PiS recorreram à linguagem que nega a dignidade dos homossexuais. “Para ganhar eleitores de Bosak, o presidente expôs sua visão contrária à vacinação da população. Todas essas manobras, apesar de radicalizadas, estão bem-enraizadas nos esquemas populistas do PiS, que adotou a xenofobia e o antielitismo.”

Tacik acredita que, caso reeleito, o Partido Lei e Justiça retomará projetos inacabados, como a completa reconstituição do Judiciário e a “repolonização” da mídia — um atalho para obter controle político sobre emissoras de TV e de rádio independentes, assim como jornais e revistas. “Se Duda vencer, o PiS terá três anos de controle quase desenfreado sobre as instituições do Estado e espera-se o desmantelamento do sistema de freios e contrapesos. No entanto, a dinâmica da recessão pós-covid-19 pode atrapalhar esses planos e forçar uma reconfiguração política antes das eleições parlamentares de 2023”, observou o professor da Universidade Jaguelônica.
 
Democracia
A eventual vitória de Duda manteria a extrema-direita no controle do país. De acordo com Tacik, o avanço dos ultraconservadores pela Europa tem uma dimensão geográfica: apesar de a direita populista manter presença em quase todas as nações europeias, ela chegou ao poder por um período mais longo na Europa Central Oriental — especialmente na Hungria e na Polônia, mas, também, de formas mais ocultas, na República Tcheca e na Croácia. “Em outros países, vemos a decadência da democracia liberal, o desrespeito ao Estado de direito, e a ascensão da xenofobia e do nacionalismo, como na Romênia e na Bulgária”, lembrou. 

“No oeste e no norte da União Euroepeia, ainda que politicamente forte, a extrema-direita não ascendeu ao poder ainda, embora esteja em alta na França (Frente Nacional) e na Alemanha (AfD). O sul da Europa pode ser um terreno fértil: mesmo a longa sombra do franquismo não protegeu a Espanha de um partido da extrema-direita (Vox) ser eleito ao Parlamento. Na Itália, o populismo se sai muito bem: uma coalizão populista entre a Liga e o Cinco Estrelas durou um breve período, mas pode aumentar os sucessos futuros da extrema-direita.”
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