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Datas do Enem são aprovadas por escolas particulares, mas desagradam alunos das públicas

Publicado em: 08/07/2020 22:05 | Atualizado em: 08/07/2020 22:31

João Revoredo, do IFPE de Garanhuns, preferia que Enem fosse em maio de 2021. (Foto: IFPE/Divulgação)
João Revoredo, do IFPE de Garanhuns, preferia que Enem fosse em maio de 2021. (Foto: IFPE/Divulgação)
As novas datas da próxima edição do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), anunciadas nesta quarta-feira (8), agradaram estudantes e professores de escolas privadas de Pernambuco, mas não foram aprovadas por alunos da rede pública ouvidos pelo Diario, que temem uma competição interna desigual entre estudantes com direito à inclusão na cota de 50% das vagas, já que nem todos têm acesso à internet. A decisão do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) foi pelos dias 17 e 24 de janeiro de 2021, dois domingos, para as provas impressas. A versão digital do exame será nos dias 31 de janeiro e 7 de fevereiro do próximo ano, também aos domingos.

A expectativa da maioria dos candidatos era de que a avaliação acontecesse em maio do próximo ano, mês apontado como melhor opção em consulta pública realizada pelo Ministério da Educação (MEC). Na enquete, foram sugeridos três grupos de datas: em dezembro de 2020; janeiro de 2021 e maio de 2021. A sondagem teve 1,1 milhão de votos, isto é, 19,3% de participação em relação ao total de inscritos. As datas escolhidas na votação, com 553.033 estudantes ou 49,7% do total, foram 2 e 9 de maio para o modelo impresso e 16 e 23 de maio para o digital.

Janeiro foi a segunda opção mais votada pelos candidatos que participaram da consulta pública, com 35,3% (392.902) dos votos. As datas propostas na enquete para o primeiro mês do próximo ano eram 10 e 17 de janeiro para as provas impressas e 24 e 31 de janeiro para o Enem Digital. Com o menor número de votos, ficou a opção de dezembro deste ano - 6 e 13 de dezembro para o modelo tradicional, com a versão digital em 10 e 17 de janeiro de 2021 - com 15% do total de votos.

Além da consulta aos estudantes, o Inep também realizou debates com gestores responsáveis pelo ensino médio no país e com entidades da educação superior. "A gente também está atendendo à necessidade desses alunos que votaram. Como dissemos desde o início, a enquete não seria o único parâmetro para a definição da data. Também ouvimos os secretários de Educação e demais representantes das entidades educacionais", afirmou o presidente do Inep, Alexandre Lopes. "Diante do cenário atual, buscamos uma solução técnica e encontramos uma data que melhor se adeque para a maioria dos participantes do Enem", completou o secretário-executivo do Ministério da Educação (MEC), Antonio Paulo Vogel.

A definição das datas do Enem, a aplicação e a entrega de resultados influenciam diretamente o cronograma de programas como o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), o Programa Universidade para Todos (ProUni) e o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). "A data do Enem interfere na vida do estudante de várias formas, tanto pelos aspectos de sua formação precedente, com o término da escolarização básica, quanto pela futura entrada na educação superior ", ressaltou Alexandre Lopes.

O presidente do Inep destacou que o instituto está preparado para aplicar o exame em janeiro e que busca, junto ao Ministério da Economia, um aporte adicional de R$ 70 milhões para adequações de segurança contra o novo coronavírus. "Vamos tomar todas as medidas de segurança do ponto de vista sanitário para a aplicação da prova. Para isso, teremos de alugar novas salas e disponibilizar equipamentos de segurança, como máscaras e álcool em gel, o que gera um custo além do que foi planejado inicialmente. Porém, já estamos em contato com o Ministério da Economia e isso não será um problema para a realização da prova", disse em coletiva de imprensa realizada por videoconferência. O secretário de Educação de Pernambuco, Fred Amancio, participou da transmissão.

Repercussão

Estudante do campus Garanhuns do Instituto Federal de Pernambuco (IFPE), João Revoredo, 19, contou que esperava que o Enem 2020 acontecesse em maio do próximo ano. "Estamos muito atrasados (em relação ao conteúdo) e nem todos os estudantes da rede pública têm acesso a internet. Este Enem será o mais desigual de todos, comparando com as edições anteriores", afirmou.

O professor de linguagens e redação Luiz Fernando esperava mais tempo para revisar conteúdos no modo presencial. (Foto: Lilianne Guerra/Divulgação)
O professor de linguagens e redação Luiz Fernando esperava mais tempo para revisar conteúdos no modo presencial. (Foto: Lilianne Guerra/Divulgação)
Professor da rede pública de Pernambuco, Luiz Fernando Lopes disse que gostaria que o exame fosse após a data definida pelo Inep, mas acredita que os estudantes vão conseguir recuperar os assuntos para o exame. "A gente sabe que parte dos nossos alunos não tem acesso ao ensino a distância. Esperei que fosse em maio porque teríamos a possibilidade de revisar os conteúdos presencialmente", pontuou o professor de linguagens e redação do Ginásio Pernambucano Cabugá. Luiz Fernando dá aulas exibidas na plataforma Educa PE, criada pelo governo do estado para o ensino a distância da rede pública estadual. Os conteúdos são exibidos pela TV e no YouTube.

Guilherme é aluno da rede pública de Pernambuco e quer cursar medicina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Guilherme é aluno da rede pública de Pernambuco e quer cursar medicina. (Foto: Arquivo Pessoal)
Para o estudante da rede pública estadual Guilherme Maciel, 17, as datas escolhidas pelo governo federal prejudicam os alunos que não têm acesso à internet. "Votei na enquete para que o Enem fosse em maio. Mesmo que a rede estadual tenha aulas pela internet, há alunos que não podem acessar. Na nossa escola, desde 20 de março, temos atividades pelo Google Drive e, desde 1º de junho, aulas pelo Google Meet e Google Classroom. A iniciativa de aulas remotas, porém, não é realidade para todos", enfatizou o aluno da Escola Estadual Luiz Delgado que sonha em cursar medicina.

Apesar de considerar a escolha do Inep injusta, Thamar Pessoa, 18, considerou as datas "boas", levando em consideração o contexto particular. A estudante do Colégio Fazer Crescer (CFC), escola privada da Zona Norte do Recife, ainda não escolheu o curso que deseja no ensino superior, mas deve concorrer a uma vaga em uma graduação da área de saúde. "Para mim, particularmente, as datas são boas, pois nunca parei de estudar. Só não acho o mais justo por causa dos estudantes da rede pública", explicou.

A coordenadora de ensino médio do CFC, Amenaide Pessoa, disse que, para as escolas particulares, as datas do Enem 2020 são ideais. "Se fosse em maio, os estudantes estariam muito esgotados, física e mentalmente. Em relação a uma data mais justa, deveria ser em maio. As escolas públicas não têm as mesmas condições das privadas. No entanto, o público concorre com o público e o privado com o privado", disse. "O que é lamentável para a escola pública é não terem tido tempo hábil para trabalhar todos os conteúdos que deveriam ter sido vistos num tempo ideal", completou.

O diretor-executivo do Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino no Estado de Pernambuco (Sinepe-PE) e diretor pedagógico do Colégio Dom, Arnaldo Mendonça, avalia que o pior cenário seria a manutenção das datas iniciais, previstas para novembro deste ano. "A situação é de retomada entre o fim deste mês e o início de agosto, com tendência de todo mundo de volta até setembro, então, em janeiro, é melhor. Maio também não seria bom porque os estudantes perderiam o vínculo com as instituições e ficariam 'abandonados'. Assim, entre os cenários possíveis, janeiro é o mais razoável", opinou.

Exame

O Enem 2020 tem 5.783.357 de inscritos. Pernambuco inscreveu 315.693 candidatos. Inicialmente, a prova tradicional estava prevista para 1º e 8 de novembro deste ano. Já as provas digitais seriam nos dias 22 e 29 de novembro. A decisão de adiamento do exame aconteceu após o governo enfrentar questionamentos judiciais cobrando a prorrogação da data por causa da pandemia da Covid-19, que levou as escolas a suspenderem as aulas presenciais. 

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