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10 fatos para entender caso de estudante picado por naja no DF

Publicado em: 09/07/2020 14:07

 (Foto: Reprodução)
Foto: Reprodução
A notícia do estudante de medicina veterinária picado por uma cobra naja em pleno Distrito Federal repercute no noticiário local e nacional desde a quarta-feira (8). Com o estudante induzido ao coma, muitas lacunas ainda serão preenchidas pela polícia. Eis o que se sabe até o momento sobre o caso:

A vítima
Pedro Henrique Santos Krambeck Lehmkuhl tem 22 anos, é morador do Guará II e estudante de medicina veterinária na Uniceplac. Ele foi atacado pela cobra naja na terça-feira (7) e precisou ser socorrido ao Hospital Maria Auxiliadora, no Gama, onde está internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em estado de saúde considerado grave. 

Admirador dos répteis, o rapaz costuma compartilhar diversas publicações com imagens de cobras em seu perfil no Facebook. Em uma delas, uma criança aparece brincando com o animal. Contudo, não há, ao menos em modo público, qualquer registro que revele espécimes criados pelo próprio estudante. 

A naja
Naja é um gênero serpentes que abrange cerca de 20 espécies. A que picou Pedro é da espécie kaouthia. Elas vivem em toda a África e sul da Ásia e são animais peçonhentos considerados perigosos. É o que explica o biólogo Jair Neto Vieira. "Algumas espécies apresentam veneno neurotóxico, que ataca o sistema nervoso; e outras apresentam venenos cardiotóxicos, que causam inchaço, necrose e têm efeito coagulante", explica. O veneno da naja pode matar um ser humano em aproximadamente 60 minutos.

As najas vivem, em média, 15 anos e, na fase adulta, podem chegar a medir até três metros. O biólogo afirma, contudo, que apesar de ser um animal extremamente venenoso, a espécie só ataca os seres humanos exclusivamente por defesa. O réptil se alimenta basicamente de roedores. As fêmeas de naja botam de 15 a 30 ovos por ninhada, os quais são incubados durante 60 a 80 dias. 

Onde está a cobra
A cobra naja que picou um estudante foi encontrada e capturada na quarta-feira (8). O Batalhão da Polícia Militar Ambiental (BPMA) resgatou o animal próximo ao shopping Pier 21. Segundo a corporação, familiares de Pedro Henrique Lehmkuhl forneceram informações que levaram ao contato de um adolescente que estaria com o bicho. De acordo com a Polícia Civil, ele é amigo do estudante picado.

A cobra, de aproximadamente 1,5m, foi encaminhada ao Zoológico de Brasília e ficará no local até que os órgãos ambientais definam seu destino final.

Nova casa? 
Ainda não está definido se o zoo ficará com o espécime em definitivo. Segundo avaliação da equipe de cuidadores, o animal não apresentou problemas físicos, mas estava com altos níveis de estresse. 

Os profissionais não a alimentaram ainda. Mas, devido ao metabolismo lento que as cobras apresentam, elas podem ficar por mais de 15 dias sem comer. Os cuidadores, no entanto, não irão manusear o animal enquanto não houver doses de soro antiofídico específico para essa espécie disponíveis no Brasil.
 
Novo habitat?
De acordo com especialistas, como é composto por uma enorme variedade de microclimas, se tivesse fugido, a cobra naja poderia, sim, se adaptar ao bioma do cerrado e continuar vivendo normalmente. Para dar continuidade à espécie, no entanto, seria necessário que encontrasse ao menos uma cobra do sexo oposto para fins de reprodução.

Responsabilidades
A Polícia Civil do Distrito Federal e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) investigam a procedência da cobra. Não há registros de entrada legal de uma serpente dessa espécie no Distrito Federal nos últimos anos, por isso, os investigadores trabalham com duas hipóteses: ela pode ter sido importada, sem autorização, pelo próprio estudante ou ele a adquiriu por meio de um mercado interno clandestino de tráfico de animais exóticos. 

De acordo com informações do BPMA, um amigo de Pedro estava mantendo o réptil em casa. A mãe do estudante teria intermediado o contato dos agentes com o amigo que estava com o animal. O jovem deve ser interrogado pela polícia para verificar se há envolvimento direto no caso.

Autorização pelo Ibama 
O órgão responsável por autorizar e fiscalizar a entrada de animais silvestres no país é o Ibama. É possível criar domesticamente alguns deles, desde que com a devida autorização do órgão, que tem que prezar pelo bem-estar do bicho. Até o momento, não foram encontrados registros em nome do universitário.
 
O Ibama informou que a multa por manter animais selvagens do gênero varia de R$ 500 a R$ 5 mil. 

Butantan
Referência no país, o Instituto Butantan, em São Paulo, é um dos únicos lugares em que há a autorização para criação de répteis mais raros. Além do serpentário disponível no local, há também o maior estoque de soro antiofídico do país, o antídoto utilizado em caso de incidentes com animais venenosos. No caso das espécies encontradas no Brasil, há a produção local do antídoto na instituição; já para o caso de espécies estrangeiras, há apenas o estoque dos medicamentos importados.
 
No caso do estudante, foi necessário acionar o órgão, que tinha apenas uma dose disponível do soro, encaminhada ao Distrito Federal ainda na noite da terça-feira (7). 

O tratamento 
Pedro Henrique foi tratado com o antídoto e apresentou uma leve melhora no estado de saúde. O jovem também passou por uma hemodiálise e a reação alérgica causada pelo veneno diminuiu. No entanto, ele segue na UTI do hospital, sem previsão de alta.

O Correio apurou que dez doses do soro antiofídico relacionado a essa espécie foram importadas dos Estados Unidos e devem chegar ao Distrito Federal ainda nesta quinta-feira (9). As novas doses são preventivas e não necessariamente serão todas utilizadas pelo estudantes. As que sobrarem serão encaminhadas ao estoque do Butantan. 

Comunidade acadêmica
A coordenação do curso de medicina da UniCEPLAC informou que esse tipo de animal não é manuseado nas dependências da universidade e ficam restritos a zoológicos e institutos como o Butantan. Estudantes colegas do universitário se manifestaram em relação ao caso, que receberam com bastante surpresa. Os alunos pediram que a população evite julgamentos para não ampliar a dor dos familiares e que todos torcessem pela recuperação do paciente. 

O Grupo de Estudos de Animais Silvestres e Exóticos do UniCEPLAC, GEASE UniCEPLAC, disse considerar Pedro Henrique um importante membro do grupo e se posicionou quanto às questões ainda não esclarecidas do caso. "Advertimos que o grupo não incentiva, de forma alguma, a criação de animais que possam oferecer riscos à saúde humana, ou do próprio animal. Aconselhamos que os membros que desejem adquirir um animal silvestre, façam isso seguindo as leis e normativas vigentes no país", resumiu, em nota. 
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