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Geografia, barreiras e confinamento: o cenário dos municípios sem casos da Covid-19 em PE

Publicado em: 06/06/2020 08:30 | Atualizado em: 06/06/2020 18:56

Exú é um dos municípios ainda sem ocorrências; barreiras sanitárias, decretos de isolamento, fechamento do comércio, menor densidade populacional e isolamento geográficos são os fatores que contribuem para não haver registros em 20 cidades (Carolina Santos/ Arquivo DP)
Exú é um dos municípios ainda sem ocorrências; barreiras sanitárias, decretos de isolamento, fechamento do comércio, menor densidade populacional e isolamento geográficos são os fatores que contribuem para não haver registros em 20 cidades (Carolina Santos/ Arquivo DP)


Sétimo estado do Brasil com mais casos do novo coronavírus (38.511), 97% dos municípios pernambucanos já foram afetados pela pandemia. Das 184 cidades, apenas cinco não têm registros da doença, localizadas sobretudo no Sertão. Diante deste cenário, a reportagem do Diario de Pernambuco tentou buscar os motivos por trás deste cenário onde não há ocorrências da Covid-19 e conversou com Neison Freire, pesquisador do Centro Integrado de Estudos Georreferenciados para a Pesquisa Social (Cieg) da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), responsável por coordenar um painel que mapeia o alastramento do vírus no estado.

As cidades, aliás, sem casos do coronavírus, de acordo com os respectivos boletins municipais da última quinta-feira (4), são os seguintes: Manari, Mirandiba, Verdejante Exu, e Solidão.

Antes de tudo, Neison alerta para dois fatores que contribuem para a falta de ocorrências. Primeiro, o fato de que 90% deles não estão às margens de rodovias federais. “Menos circulação de pessoas e mercadorias. Isso é um fator importante, o isolamento geográfico”, afirma. Os únicos municípios com trânsito nas rodovias são Belém de São Francisco (BR-316) e Exu (BR-122). “Mesmo assim eles estão em rodovias de baixa movimentação em comparação com a BR-232 ou BR-101”, explica.

O segundo ponto abordado pelo coordenador é o fato de as populações serem de pequenos portes, todas abaixo de 20 mil habitantes. “Menos gente e menos circulação de pessoas, menos trocas com grandes centros regionais. Então são populações que vivem do seu entorno, do seu comércio com sítios”.

Além disso, Neison trouxe outros três pontos, com base em uma pesquisa realizada pela Fundaj durante o mês de maio: a rapidez e rigidez das prefeituras em questão. E para isso, foi necessário um comparativo com 20 cidades que registraram ocorrências, levando em conta os maiores graus de variações dos casos.

O primeiro fator abordado foram as barreiras sanitárias. Ou melhor, a velocidade com que foram instaladas. No grupo dos municípios sem contaminação, 80% inseriram antes da primeira cidade do grupo de contaminados. “Eles não só instalaram barreiras a mais tempo como tinha município que começou no início do isolamento”, disse, sendo os casos de Angelim (desde 30 de março) e Santa Filomena (desde 1º de abril). Enquanto isso, cidades com registros do vírus utilizaram as barreiras, em média, há 22 dias.

Foi levado em conta no comparativo se no município a prefeitura havia decretado alguma medida de isolamento social ou fechamento do comércio: 16 das 20 cidades sem Covid-19 (80%) responderam que “sim”, permanecendo há 74 dias nessa situação Já o grupo dos municípios que tiveram maior crescimento na variação percentual de contaminação, 11 de 20 municípios responderam sim (55%), e com média de dias nessa condição inferior ao outro grupo: 60 dias. “Parece pouco, mas se tratando de uma pandemia com alto grau e rapidez de contágio essa diferença pode ser determinante”, destacou Neison.

Em relação ao confinamento social, a pesquisa também avaliou, nos dois grupos, se o comércio não essencial estava fechado. No grupo “sem” Covid-19, 11 municípios responderam que “sim”, situação que já dura há aproximadamente 65 dias em média. Já no grupo dos “com” Covid-19, 15 dos 20 municípios estão há aproximadamente 55 dias com o comércio não essencial fechado.

Assim, barreiras sanitárias, decretos de isolamento, fechamento do comércio, menor densidade populacional e isolamento geográficos são os fatores que contribuem para não haver ocorrências nos respectivos municípios. Não há um fator que se sobrepõe, são todos complementarem, conforme explica.

“Não é linear. No Sertão a localização é o mais importante, mas no Agreste, que têm mais circulação, as barreiras são mais importantes. É um conjunto de fatores”. A pesquisa também avaliou o período de fechamento das escolas, mas como este ocorreu de maneira uniforme no estado - no dia 18 de março -, não foi detectada diferença.

Por fim, o coordenador evitou traçar um prognóstico se essas cidades irão passar, de fato, ilesas, ou se a chegada do vírus é questão de tempo. “Particularmente, não trabalho com previsão nem predição (previsão baseada em mapas). Porque é algo novo, não temos elementos, um padrão conhecido. A pesquisa é para aprender com os padrões. Nenhuma doença se espalhou tão rápido. O que posso dizer é que ainda não chegamos ao pico da pandemia, então ele ainda vai continuar crescendo”, concluiu.

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