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Professora se fantasia de casa para alertar sobre a importância da quarentena

Publicado em: 26/05/2020 13:50 | Atualizado em: 26/05/2020 13:55

 (Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco)
Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco
“Estava um silêncio absoluto. De repente ouço um barulho vindo da rua e pensei ‘eu conheço essa voz’. Minha mãe desceu que eu nem vi, quando olhei pela janela encontrei ela vestida de casa e com um microfone”, diz Arielle Pinheiro, filha da educadora Lúcia Machado. A senhora, de 69 anos, encontrou um jeito descontraído de pedir aos seus vizinhos que respeitem a quarentena. Fantasiada com uma caixa de papelão, ela circulou pela Rua Leonardo da Vince, no Ipsep, dando informações sobre a pandemia da Covid-19. A cena inusitada foi filmada por amigos de Lúcia e viralizou na internet. 

A ideia surgiu após a educadora presenciar aglomerações próximas a sua moradia. “Domingo passado tinha muita gente na minha rua. Moças e rapazes fazendo uma festa. Todos sem máscaras. Também acontecem cultos por aqui. Fiquei matutando em casa como iria fazer para o povo se conscientizar”, relembra. “Olhei para uma caixa vazia que eu tinha no canto de casa, que antes estava cheia de brinquedos para doação. Meu neto gostava de brincar com ela e entrou na caixa, eu falei ‘não estou vendo o teu rosto, deixa eu fazer um buraco’. Quando cortei achei parecido com uma janela. Assim tive a ideia. Montei um telhado e João desenhou e colou as portas e placas escritas ‘Fique em Casa.’ Fiz buracos para os meus braços, vesti a casinha e fiz sapatos de caixa também.” 
 
 (Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco)
Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco
 
 
Lúcia mora no bairro há 30 anos e é a alma do lugar. A professora de reforço ajudou a alfabetizar muitos filhos de seus vizinhos com as aulas que oferece, além de participar e organizar festas de Natal e São João. “Saio de casa vestida de Mamãe Noel em dezembro, em julho faço palhoças com casamento e tudo. Por isso que quando fui para a rua fantasiada ninguém achou estranho, perguntavam se era coisa de São João ou se já estava enfeitando caixas de presente pro Natal. Mas se surpreenderam quando liguei o microfone que uso pra dar aula e comecei a falar ‘passe álcool na mão’,  ‘coronavírus não tem remédio, a cura só vem se ficar em casa.” 
 
Por meio da internet, a mensagem conseguiu se espalhar pelo mundo. “Só saí com a casinha uma vez, mas repercutiu tanto que fiquei feliz. Até na Itália ele fui parar. Soube de amigos que me viram na França e Irlanda também” comenta Lúcia. “Eu só deixo a minha casa para descer com lixo, é o meu passeio agora. Por isso que estou com uma sacola na mão nas imagens, aproveitei que tinha que ir à rua para andar o quarteirão tentando passar a mensagem para os meus vizinhos.” 
 
De acordo com a senhora, a ideia foi muito bem recebida pelos moradores de Ipsep. “No dia que saí não paravam de chegar mensagens no Whatsapp me parabenizando pela criatividade. A gente só vê nas redes sociais notícias sobre morte e infectados, acho que trouxe um pouco de alegria”, comenta. “Tem gente que acha que eu passo vergonha com esse meu jeito, mas não vejo como pode ser vergonhoso fazer as pessoas felizes.”  
 
 (Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco)
Foto: Paulo Paiva / Diario de Pernambuco
 
 
Para uma pessoa tão festiva e animada quanto Lúcia, saber da importância do isolamento e lutar pelo cumprimento dele não tem feito ficar em casa ser menos complicado. Agora a senhora tenta se divertir como consegue. O período de reclusão a fez aprender um novo hobbie e o gosto pela música. “Eu tinha um violão, mas não sabia tocar nada. Hoje até arranho um sambinha. Já marquei uma live com meus sobrinhos, cada um vai tocar o trecho de uma música de suas próprias casas”. A canção escolhida é Samba de Oração, de Vinícius de Moraes e Toquinho, para servir de acalento para os dias difíceis e combinar com o sorriso que a professora sempre traz no rosto. “A música é linda e diz assim: É melhor ser alegre que ser triste, alegria é a melhor coisa que existe”, cantarola Lúcia.  

Com o sucesso da ação, a idealizadora afirma que colocará a casinha na rua um final de semana sim e outro não, enquanto durar a quarentena - ou até quando os vizinhos teimarem em sair de suas casas para fazer festas. Sempre aproveitando o momento de descer com o lixo e utilizando equipamentos de proteção individual, é claro. “Quanto mais a gente ficar em casa, mais rápido essa situação vai acabar. O mundo já passou por outras pandemias, vamos vencer mais essa.”
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