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Pandemia

Igrejas usam criatividade para enfrentar redução dos dízimos de fiéis

Publicado em: 26/05/2020 17:14 | Atualizado em: 26/05/2020 17:43

Com ajuda de fiéis, padre Ivanilson, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, bairro de Prazeres, em Jaboatão, faz canjicas e bolos para vender no período da pandemia e angariar fundos para sustentar a igreja (Paulo Paiva / DP Foto)
Com ajuda de fiéis, padre Ivanilson, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, bairro de Prazeres, em Jaboatão, faz canjicas e bolos para vender no período da pandemia e angariar fundos para sustentar a igreja (Paulo Paiva / DP Foto)
Os padres e paroquianos das igrejas católicas da Região Metropolitana do Recife aderiram à criatividade para enfrentar a redução de até 60% nas contribuições dos fiéis durante a pandemia. Sem verba suficiente, as contas não fecham e fica impossível pagar contas de água, luz, telefone, além de salários de funcionários das paróquias e despesas com ações sociais desenvolvidas junto às pessoas em situação de vulnerabilidade As iniciativas têm dado certo e vão desde a venda de alimentos, à confecção de máscaras e velas, e até caricaturas.

Sem as missas presenciais, as paróquias não têm recebido as ofertas doadas durante a missa. O dízimo, doado por católicos uma vez por mês, também foi reduzido. Isso porque a maior parte desses contribuintes é idosa, população considerada de risco para a Covid-19.

O padre Ivanilson Silva, 30 anos, da Paróquia Nossa Senhora do Rosário, na Rua Sete de Setembro, em Novo Guararapes, em Prazeres, Jaboatão dos Guararapes, enfrenta a crise com a venda de bolos tradicionais da região, além de pamonha, canjica e cocada. Ele aproveitou a proximidade do período junino e o público aprovou. "Sem fiéis, os recursos não estão chegando e a igreja tem que aprender a se virar, a viver o tempo, aprimorar os conhecimentos através das redes sociais", reflete Ivanilson.

Ele conta com a ajuda voluntária de oito pessoas. Durante a semana, anotam os pedidos e, no sábado, preparam o alimento para vender no final de semana. A entrega é feita na casa do cliente. Os preços são convidativos. A canjica (500 gramas) custa R$ 5, por exemplo. Os pedidos são feitos pelo celular do padre (81 99791.5789) e os produtos seguem em embalagens estilizadas, com um desenho do rosto do padre e os respectivos nomes "canjica do padre", "bolo do padre".

O padre Ivanilson se animou com o engajamento da população e, neste sábado (30), vai promover o Leilão do padre, com objetos novos doados por católicos. "A arrecadação da paróquia caiu 50% e precisamos continuar a pagar as contas. Temos três funcionários. Conseguimos manter dois e tivemos que suspender o contrato de uma outra pessoa", explicou.

Na Paróquia Nossa Senhora do Rosário, na Avenida Falcão de Lacerda, em Tejipió, no Recife, o padre Marcelo Marques Santana Júnior, 33, conseguiu o apoio de um paroquiano para sair da crise. César Praxedes se ofereceu para desenhar caricaturas das pessoas que decidem ajudar a paróquia. "É como uma retribuição", explica o religioso.

Há um mês, conta o padre, um casal se ofereceu para fazer salada de frutas e vender no final de semana para contribuir com a paróquia. "Nesses tempos de pandemia, temos que ter ideias", comenta. Na paróquia, a queda da receita foi de 60%.

Quem quiser colaborar com a paróquia pode acessar o Instagram @paroquianossasenhoradorosariotejipio ou doar qualquer valor no Banco do Brasil, agência 4118 1, conta corrente 9095 6, CNPJ 018 211 18 0001 43.

Paulista e Olinda
Em Maranguape II, Paulista, o padre Charles de Araújo Costa, 29, da Paróquia Nossa Senhora dos Prazeres, mobiliza atualmente a confecção de máscaras para vender. Elas são feitas em uma gráfica porque têm a imagem de Nossa Senhora. Cada uma é repassada por R$ 15 ao público.  "Também criamos uma camisa com a imagem do Cristo ressuscitado para motivar as pessoas a viverem a Páscoa, mesmo que de casa. Criamos a hashtag #estamosunidoscomafamiliadasalegrias, que tem relação com Nossa Senhora dos Prazeres, que remete às alegrias de Maria", explica Charles.

Outra iniciativa da paróquia de Maranguape II foi a confecção de um Círio Pascal em miniatura, também para venda. Trata-se de uma vela que representa a luz de Cristo. "A gente estimulava as pessoas a acenderem toda vez que participassem das missas virtuais. Para o São João, os paroquianos estão mobilizados para fazer bolo, canjica e mungunzá". Com o dinheiro arrecadado, o padre consegue manter também os dois funcionários da paróquia.

O padre Charles disse que conseguiu reduzir os custos em 20% graças ao fechamento das capelas. Mas a queda na arrecadação alcançou a faixa dos 40%. "Por isso, costumo dizer que o dízimo é mais importante que a oferta porque tem como a gente se programar com as contas", lembra o religioso.

Outra iniciativa que deu certo foi a venda dos biscoitos produzidos pelas monjas beneditinas de Olinda. A comercialização estava em baixa por conta do fechamento dos restaurantes, mas uma campanha virtual mobilizou tanta encomenda que as religiosas não estão mais dando conta de pedidos. Parece que a pandemia também chama a igreja para se reinventar.
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