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Exposição online retrata a maternidade de mulheres encarceradas

Publicado em: 25/05/2020 11:20 | Atualizado em: 25/05/2020 16:30

 (Andréa Leal/Divulgação)
Andréa Leal/Divulgação
Histórias. Cada mulher carrega uma biografia no olhar, no sorriso. O braços fortes de quem vence uma batalha todos os dias, traz a luz de uma criança que será lançada no mundo. A maternidade é, inquestionavelmente, um divisor de águas na vida da mulher. Quando dada a oportunidade de escolha, ser mãe se torna uma experiência onde surgem questionamentos sobre as verdades, conceitos, prioridades, comportamentos e pensamentos. Para as mulheres em situação prisional não é diferente.

Todos os anos, a exposição Retrato de Mãe traz uma mostra fotográfica com personagens e histórias marcantes de maternidade. Em 2020, o trabalho mergulhou no universo e nos sentimentos das mães encarceradas. Mulheres grávidas ou com filhos recém-nascidos vivendo em situação prisional na Colônia Penal Feminina do Recife, e que, em muitos casos, a ligação entre mãe e filho se torna motivação para a ressocialização.

Na Colônia Penal Feminina do Recife, seis das detentas estão gestantes e quatro mulheres estão cumprindo pena no berçário da unidade, com filhos de até seis meses de vida. Nos presídios femininos, ao contrário dos masculinos, as visitas são escassas, com poucas aparições dos companheiros e o contato com o mundo exterior é restrito entre os laços de mãe e filho. Aproximação esta que supera a distância entre as grades.

O projeto  fotográfico Retrato de Mãe foi iniciado em  2017 pela fotógrafa Andréa Leal em parceria com o instituto Luz Natural, e tem como objetivo uma mudança de paradigmas e a quebra do preconceito, numa busca por empatia e solidariedade. Este ano, as imagens foram expostas  virtualmente devido ao isolamento social, e receberam a intervenção do fotógrafo mineiro Henrique Ribas. A edição deste ano pode ser apreciada através do site www.retratosdemaeandrealealfotografia.com.

O trabalho conta um pouco da experiência de nove mulheres, e tem tornado a fotografia um instrumento de mudança e valorização social. De acordo com a organização da exposição, a exibição aconteceu por meio de um convite da desembargadora Daisy Maria de Andrade Costa, com a atuação do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) e da Secretaria Estadual de Ressocialização (Seres).

A exibição tem cunho documental, e trouxe uma aproximação e emoção no olhar das mães retratadas. A exposição trouxe não só a missão delicada de ser mãe, de se olhar e se sentir parte da arte, mas também se fazer tornar componente de um diálogo, que carrega uma história e um ressignificado da maternidade.

Amanda Correia de Sá, tem 8 filhos: Raduan, Cleber, Leonardo, Artur, Emerson, Alice, Maria e Luana. Os dois mais velhos moram com a avó. Os outros moram separados, com os respectivos pais.

“Essas fotos são o amor. Quando meu filho estiver maior, ele vai amar essas fotos, mas não vou dizer que foi aqui. Ser mãe é ótimo, amo ser mãe, mas é difícil pra mim porque são oito. Ser mãe aqui dentro é muito difícil. Criar filho aqui dentro desse lugar é horrível. Mas vou sair com outra cabeça, diferente, outra pessoa. Sonho uma vida melhor para o meu filho, que ele estude, seja um bom filho, um bom marido, um bom pai, bom tudo. Quando sair daqui sonho pra mim tudo de bom, mudar, outra cabeça, ser outra pessoa. Não quero mais essa vida para mim. Eu amo meus filhos, amo minha mãe com todo meu coração, por tudo que ela faz por mim, eu agradeço”, desabafa.

A história de Amanda não é a única. Cristiana Maria da Luz, está grávida de três meses. Se for menino, vai se chamar Mateus, se for menina, Maria Eduarda. Cristiana já é mãe de Giovana, de sete anos, e de Yasmin, de quatro.

“Sou uma privilegiada em tirar essas fotos. Quando meu filho crescer e ver essas fotos, vai sentir orgulho da mãe. Pelas fotos, não por estar nesse lugar. Não sei se ela vai sentir orgulho ou só decepção por estar nesse lugar. Estar grávida aqui dentro é difícil. Eu me arrependo muito. Sinto falta das minhas filhas. Essa gravidez mudou muita coisa na minha vida. Eu penso de outro jeito. Sonho em ter uma vida muito melhor e sair daqui pra ficar os três juntinhos. Vou fazer de tudo pra dar o melhor pra eles e mostrar que não vou cair aqui dentro mais. Ser mãe pra mim é tudo na vida. Eu amo meus filhos. Sonhava em ser mãe de três filhos. Mas acho que minha mãe não me ama. Ela disse que não ia me ver aqui. Mas minha sogra é uma mãe pra mim. Está comigo lado a lado. Jamais faria com minhas filhas o que minha mãe faz comigo”, conta.

Para Lathoa Elaliane Barbosa Silvino, 32 anos, a distância e a saudade dos filhos marca o dia a dia dentro da penitenciária.

“Quando sair daqui sonho em juntar minha família de novo, tá tudo espalhado. Desejo aos meus filhos que não sejam iguais à mãe, que sejam homens de bem. Se depender de mim, é o que os três vão ser. O que a gente mais deseja para o filho da gente é isso: que não entre nessa vida. Ser mãe aqui dentro é um inferno. Aqui a gente pensa mil e uma coisas. Fica com medo do filho da gente pegar uma doença.Não imaginava ter esse registro de fotos do meu bebê aqui. Dos outros dois eu fiz fotos na rua.  A maternidade mudou tudo na minha vida: o pensar, o agir. A chegada de Artur me mudou mais. Uma coisa que nunca imaginei foi ter um filho na cadeia. A gravidez foi difícil demais, muitos aperreios, um começo de aborto, mas ele tá aqui pra contar história. Meu bem mais precioso é a minha mãe", relata.

Gisele Chagas Moraes tem 24 anos e é mãe de Ruanny (recém-nascida) e de Ruan e Ruavini, de 9 anos e 5 anos, que moram com o marido, cadeirante.

"Ser mãe pra mim é muita coisa. A chegada dela fez muita diferença na minha vida, interfere em quem eu sou hoje. Me arrependo de muitas coisas. Sonho que ela seja uma pessoa diferente, que vá estudar, trabalhar pra me ajudar com o pai dela que é cadeirante. Essas fotos significam muita coisa pra mim. Quando ela crescer, não vou dizer a ela que foi aqui nesse lugar. Queria dizer que amo muito ela e meus dois filhos, que amo muito minha mãe e que ela me perdoe por tudo que eu já fiz nessa vida”.

















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