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Pandemia

Estudo aponta que cerca de 52 mil pessoas já teriam contraído o coronavírus no Recife

Publicado em: 26/05/2020 21:47 | Atualizado em: 26/05/2020 22:13

A pesquisa também avaliou o cumprimento das medidas de distanciamento, e 64,5% dos entrevistados de Pernambuco disseram que ficam em casa. (Foto: Bruna Costa/Esp.DP)
A pesquisa também avaliou o cumprimento das medidas de distanciamento, e 64,5% dos entrevistados de Pernambuco disseram que ficam em casa. (Foto: Bruna Costa/Esp.DP)
Um estudo realizado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), do Rio Grande do Sul, aponta que o número de infectados pelo novo coronavírus seria quase quatro vezes maior do que é oficialmente notificado no Recife. A pesquisa, financiada pelo Ministério da Saúde, indica que 3,2% da população recifense foi infectada. Considerando que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) estima que a capital pernambucana tenha uma população de 1,64 milhão, seriam 52 mil pessoas com o vírus. O número é quase o quádruplo do revelado no último boletim da Secretaria de Saúde do Recife, que confirmou 13.712 casos da Covid-19 até esta terça-feira (26).

A primeira fase da pesquisa nacional, intitulada EPICOVID19-BR, foi realizada entre os dias 14 e 21 de maio. Uma segunda etapa vai acontecer de 4 a 6 de junho. Os dados foram coletados em 133 cidades de todo o país. Foram considerados os dados de 90 cidades brasileiras, incluindo 21 das 27 capitais, onde foi possível testar pelo menos 200 pessoas selecionadas por sorteio. No Recife, de uma amostra de 240 entrevistas, sete pessoas testaram positivo.

O levantamento também avaliou o grau de cumprimento das medidas de distanciamento social pela população. Em Pernambuco, 64,5% dos entrevistados relataram ficar em casa o tempo todo ou sair somente para as atividades essenciais. O estado aparece em quarto lugar no ranking nacional, atrás de Santa Catarina (69%); Rio de Janeiro (68,3%) e Rio Grande do Sul (67%). Os dados são referentes ao período da coleta dos dados e foram obtidos a partir das respostas dos participantes a um questionário aplicado.

Sobre o número de pessoas entrevistadas em relação ao tamanho da população do Recife, o reitor da UFPel, Pedro Hallal, esclareceu que o estudo não foi desenhado para avaliar a situação da Covid-19 especificamente na cidade. "Foram 133 cidades sentinela, espalhadas por todos os estados da Federação. Se tivéssemos desenhado um estudo específico para o Recife, como fizemos para o Rio Grande do Sul, seria outra metodologia e outro processo amostral. A nossa pergunta de pesquisa é como a epidemia se comporta no país, quais as diferenças regionais, qual o percentual dos infectados que não têm sintomas, como a infecção está se alastrando ao longo do tempo", afirmou.

Ao comentar os resultados da pesquisa, o secretário municipal de Saúde do Recife, Jailson Correia, ressaltou que a pesquisa tem um poder estatístico para estimar as prevalências nos municípios, mas tem uma razoável e aceitável margem de erro. "O estudo quer dar um painel nacional. Se fosse para fazer um estudo desse especificamente com a população do Recife, precisávamos de um tamanho amostral maior para identificar com maior precisão o número de pessoas que tiveram contato com o vírus", disse.

O secretário enfatizou ainda que nesses estudos que fazem a avaliação da soroprevalência, isto é, o número de pessoas que tiveram anticorpos contra o vírus, há, nesse grupo, pessoas que desenvolveram sintomas; pessoas que tiveram sintomas mais graves e, também, pessoas assintomáticas, ou seja, que não procuraram o sistema de saúde. "É esperado que o número de casos detectado com anticorpos seja sempre, em todo lugar do mundo, maior do que o número de casos confirmados porque esses são um percentual de cerca de 20% que desenvolveram sintoma, por isso, esse é um resultado esperado", pontuou Correia. 

As estimativas internas da Secretaria de Saúde do Recife apontam para um número de 3% a 10% dos recifenses infectados com o novo coronavírus. Dentro dessa hipótese, a quantidade de pessoas que contraíram o vírus na capital pernambucana poderia chegar a 160 mil. "Outro fator muito importante que influencia no número de casos positivos é a estratégia de testagem. No Recife, seguimos à risca o protocolo que busca investigar prioritariamente o espectro mais grave da doença, tanto as pessoas que foram a óbito quanto os casos de Síndrome Respiratória Aguda Grave", esclareceu. 

Panorama

O estudo apresenta um panorama nacional da doença. Segundo os pesquisadores, as diferenças entre as cidades do Brasil foram marcantes. Na cidade de Breves (PA), por exemplo, a proporção da população que tem ou já teve coronavírus foi estimada em 24,8%, ou seja, cerca de 25 mil dos 103 mil habitantes da cidade estão ou já estiveram infectados. O segundo resultado mais alto foi observado em Tefé (AM), onde estima-se que 19,6% da população tenha anticorpos para o coronavírus. Isso significa que 12 mil dos 60 mil habitantes do município estão ou já estiveram com o vírus.

A pesquisa aponta que o Brasil tem sete vezes mais contaminados do que mostram as estatísticas oficiais. Usando equipamentos de proteção individual, os pesquisadores foram a campo e fizeram 25.025 entrevistas em cidades com grande prevalência do vírus. "Os casos confirmados, que aparecem nas estatísticas oficiais, representam apenas a ponta visível de um iceberg cuja maior parte está submersa. Para conhecer a magnitude real do coronavírus, é obrigatória a realização de pesquisas populacionais", comentam os investigadores, na pesquisa.
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