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Coronavírus

Viver a quarentena com leveza pode contribuir para a saúde mental do idoso

Publicado em: 02/04/2020 15:05 | Atualizado em: 02/04/2020 15:13

Psicólogo Luiz Schettini decidiu filtrar a quantidade de informações sobre a pandemia e se sente melhor no isolamento. (Foto: Suzana Schettini/cortesia)
Psicólogo Luiz Schettini decidiu filtrar a quantidade de informações sobre a pandemia e se sente melhor no isolamento. (Foto: Suzana Schettini/cortesia)
Dia desses, Luiz Schettinni, 84 anos, se viu cantando embaixo do chuveiro. Em meio à pandemia da Covid-19, ele, como pessoa idosa, decidiu mudar a forma de enxergar a doença. Já não lhe o cabe o excesso de notícias trágicas sobre o coronavírus. No lugar disso, se dedica a assistir às sessões de filme perdidas por conta do tempo dedicado ao trabalho no consultório de psicologia. Também vai retomar a escrita de dois livros, pendentes pelo mesmo motivo. Psicólogo e, ainda, com formação em filosofia e teologia, Luiz fez sucesso nas redes sociais esta semana ao posar para uma foto captada pela companheira, Suzana, com uma camisa escrita assim: “Velho não! Semi novo”. Uma brincadeira, na verdade, para avisar sobre algo importante: viver a quarentena com leveza também contribui para a saúde mental. Principalmente quando falamos de idosos.

Na postagem, Suzana, que também é psicóloga, brinca ao dizer que “Luiz tem se disfarçado para enganar o coronavírus...Ou seria coroavírus? Não tira essa camisa de jeito nenhum!”. Desde então o casal vem conversando sobre a necessidade de dizer algo positivo para os idosos. “Fica contraditório juntar a pandemia com bom humor. Mas também é verdade que podemos entender o bom humor de forma mais consistente do que simplesmente a visão de superfície, do que é uma pessoa bem humorada. Humor tem a ver com subjetividade do indivíduo. E mesmo diante de situações sofridas, ele pode manter o bom humor. Não significa simplesmente através da expressão do riso, mas um bem estar, um olhar de leveza. Aliás, a leveza e a simplicidade ajudam a gente a olhar para situações nas suas diversidade, de forma que nos dão condições de enfrentá-las, não necessariamente de forma destruidora”, pontua.

Todo envelhecimento, diz Schettini, é rico, mesmo para os idosos em situação de sofrimento, de limitações. “Todo idoso têm uma história. E a história não precisa ser agradável para ser boa. Até aquela que mostra momentos de sofrimento indica que a gente se superou. É preciso o sujeito ter consciência de que está vivo, mesmo passando por situações difíceis. Às vezes nem ele entende como sobreviveu a tudo aquilo. O idoso pode pensar que está sofrido agora, mas também dizer, puxa, sobrevivi, tenho valores e resistência, até maiores do que os de outras pessoas que não passaram o que eu passei.”

Em meio ao bombardeio de informações sobre a Covid-19, onde se fala todo o tempo sobre as pessoas idosas como grupo de risco, é necessário mudança de postura tanto do idoso quanto das pessoas que o cercam. “O sujeito idoso gostaria, nesse momento, de duas coisas. Ser acolhido e ser ouvido. Às vezes os mais jovens dizem que escutam dos mais velhos a mesma história muitas vezes. Não se sintam entediados quando isso acontecer. Não pensem que ele não lembra que já contou. Ele repete a história simplesmente porque é boa”, destaca Schettini.

No caso do idoso em isolamento, é importante filtrar o noticiário sobre a doença. “Resolvi que iria assistir a todos os noticiários. Mas depois comecei a perceber que estava intoxicado com as mesmas coisas. O que mudava era apenas o número de infectados e de mortos. Preciso da informação , quero estar atualizado, mas aboli a maioria das notícias. Para o indivíduo idoso, essa repetição só leva ao incômodo. Ora, os fatos são verdade, cientificamente, mas se você acentua uma verdade tirando essa verdade do todo, ela pode ser ameaçadora, sem precisar ser. Me sinto ótimo agora. Me vi cantando embaixo do chuveiro e achei formidável. Coisa que não fazia há muito tempo.”

Em termos cronológicos, o tempo de vida para um idoso pode se assemelhar à eternidade, teoriza Schettini. “A gente não tem noção do que significa eternidade porque ela traz para a gente a ideia de que não teve começo e não terá fim. O não ter fim não é difícil entender e a gente vai postergando. Mas não ter começo é inaceitável. Então, a eternidade é simples. É uma sucessão de presentes. O idoso não tem que pensar no fim e sim no presente, na atualidade dele”, reflete. E esse presente pode ser feliz, assim como a história da idosa com 97 anos curada da Covid-19 no Recife

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