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Desabrigados

O desafio mundial de conter o avanço do coronavírus entre os sem-teto

Publicado em: 01/04/2020 15:54 | Atualizado em: 01/04/2020 15:56

Colaboradora Isabel Alvarez – RIO (RJ)
 
Nas nações mais afetadas pelo novo coronavírus, a população dos desabrigados é mais um fator agravante que os governos precisam sanar para conter a disseminação. Considerados um grupo altamente vulnerável devido às condições de saúde, higiene e insalubridade é uma parcela que certamente corre um risco elevado de exposição a si próprio e a todos. 

Em Nova York, nos Estados Unidos, estado que concentra mais casos da Covid-19 do país, o número estimado de sem-teto em toda Nova York são aproximadamente 80 mil, de acordo com o Departamento de Habitação dos EUA (HUD). Na cidade de NY as autoridades calculam que quase 5 mil vivam nas ruas, sendo que cerca de 60 mil pessoas, incluindo crianças, dormem diariamente em abrigos. Uma crise antiga devido à falta de moradia decorrente da grande escassez de construções populares. 

Já o Estado da Califórnia, o mais populoso dos Estados Unidos, tem mais de 150 mil moradores de rua, a taxa mais alta do país. Do total, 60 mil vivem no condado de Los Angeles. O governador Gavin Newsom anunciou um fundo de US$ 150 milhões para protegê-los, no qual dois terços irão para governos locais a fim de apoiar alojamentos assitenciais e o restante para comprar caravanas e alugar quartos de hotel. "Ajudar estes residentes é fundamental para proteger a saúde pública, achatar a curva e frear a propagação da Covid-19", declarou Newsom. 

Segundo Georgia Berkovich, porta-voz do The Midnight Mission, ONG situada perto do bairro Skid Row, em Los Angeles, que tem a maior concentração dos EUA de pessoas que vivem e dormem em calçadas, a entidade trabalha para manter as pessoas seguras e os serviços intactos. "Se este vírus afetar a nossa comunidade de desamparados, afetará todos. À medida que outras ONGs e igrejas da região reduzem o fornecimento de alimentos por causa das restrições e a ordem de permanecerem fechadas e em casa, esta população ficará ainda mais fragilizada", diz Berkovich. 

Na Espanha, os imigrantes sem documentos e as pessoas sem-teto são os que mais sofrem profundamente as consequências da crise sanitária e econômica desencadeada pela pandemia, assim como os efeitos do Estado de Emergência imposto pelo governo. No momento alguns hospitais privados e de campanha estão sendo usados de acordo com as necessidades da população, incluindo os excluídos e desabrigados. Também como é proibido ficar na rua, eles se distribuem em centros públicos e, estão sendo montados hospitais de campanha pelos militares, todos mobilizados para atendimento das pessoas, mas também para controle a fim de cumprir as normas restritivas do governo.

A Itália calcula ter cerca de 50 mil moradores de rua. A capital da Lombardia, área mais atingida pelo novo coronavírus, apresenta um índice de aproximadamente 3 mil pessoas nesta situação, sendo 90% formado por homens. A rotina já precária incorporou as dificuldades de uma pandemia. Para boa parte deles nem sempre é possível conseguir vaga nos abrigos da cidade, além do problema do difícil acesso a banho, desinfetante ou álcool gel. Mas muitos acham mesmo que vão morrer de fome e não do vírus. Os sem-tetos perambulam de dia em Milão e à noite tentam a sorte de encontrar um lugar seguro para dormir. 

O Departamento de Políticas Sociais e Habitacionais do Município garante que os abrigos sob sua administração passaram a abrir também pela manhã e em cada unidade, é garantida a refeição e distribuído gel higienizante. A deliberação da extensão do horário visa socorrer este público e não infringir o toque de recolher. O Projeto Arca, centro municipal para pessoas sem moradia, oferece 200 vagas, além de amparar 1 mil pessoas carentes em Milão, Roma e Nápoles, entre os quais, sem-teto, famílias em risco de pobreza, idosos solitários e migrantes com materiais de limpeza e  proteção. 

A França é outro país com sérios problemas relacionados aos seus 12 mil moradores de rua, sobretudo para os milhares de migrantes e exilados que dependem de doações e entidades sociais para alojamento, higiene e alimentação. Há muito receio de um impacto desproporcional para eles, já que não possuem acesso a condições sanitárias adequadas e às vezes sofrem de outras doenças. Somente em Paris moram atualmente nas ruas 3500 pessoas. Como praticamente todas as associações tiveram que interromper completamente ou parcialmente suas atividades, as entidades exigem medidas governamentais na responsabilidade em alocar refugiados e migrantes e,  urgência de providências sanitárias. 

Além disso, diversas ONGs pedem ao governo o fim de batidas policiais que acontecem contra estas pessoas e ainda alertaram autoridades francesas que os desabrigados têm dificuldades de cumprir as exigências das medidas de proteção. Florent Gueguen, diretor da Federação dos Atores da Solidariedade (FAS), que congrega 800 associações de luta contra a pobreza, contou seu apelo às autoridades: "Pedimos orientações claras aos secretários de segurança para parar imediatamente as sanções contra os sem teto".

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