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Maior abrigo de idosos de Pernambuco suspende visitas e apela para doações

Publicado em: 01/04/2020 17:32 | Atualizado em: 02/04/2020 10:50

Tereza está comovida com as mortes em todo o mundo e afastada das sobrinhas. (Foto: Peu Ricardo/DP)
Tereza está comovida com as mortes em todo o mundo e afastada das sobrinhas. (Foto: Peu Ricardo/DP)
São 115 vidas reunidas na maior e mais antiga instituição de longa permanência para idosos de Pernambuco. Em seus corredores construídos há 77 anos, a interna mais velha tem 104 anos. O abandono de amigos e familiares é realidade para a maioria dos homens e mulheres do lugar. Entre os que têm família e amigos, 80% não recebem visita com frequência. A chegada da Covid-19 agrava ainda mais o quadro de esquecimento no Abrigo Cristo Redentor, em Cavaleiro, Jaboatão dos Guararapes. As visitas ao espaço foram suspensas desde o último dia 13 de março.

A medida obedece a uma determinação do governo do estado para todas as instituições de longa permanência de Pernambuco. Os idosos são o principal grupo de risco para a doença provocada pelo coronavírus. A Espanha e a Itália, por exemplo, registraram aumento no número de casas de repouso dizimadas pela Covid-19. Não somente as visitas foram reduzidas. As doações diminuíram 90% diante da crise econômica instalada no país.

Tereza Peixe, 89 anos, anda chorosa com as notícias sobre a pandemia. “Que nada chegue aqui e que vá embora, desapareça do mundo. Eu assisto às notícias e fico comovida com tanta gente morrendo. Tenho medo dessa doença.” Antes do coronavírus, Tereza, que não casou e não teve filhos, recebia visita das sobrinhas ou mesmo passava dias na casa delas. Agora, mata a saudade por telefone. “Elas ligam, avisam que não podem vir, que não estão saindo de casa. Eu entendo.”

Marcel já não tem liberdade nem mesmo para ir ao banco sozinho e tem medo de pegar a doença. (Foto: Peu Ricardo/DP)
Marcel já não tem liberdade nem mesmo para ir ao banco sozinho e tem medo de pegar a doença. (Foto: Peu Ricardo/DP)
Marcel Libório, 78, perdeu um pouco da liberdade de ir e vir por conta da pandemia. Antes do isolamento social forçado, costumava ir ao banco sozinho. Agora, somente pode sair acompanhado com alguém do abrigo. Em dias de maior aprisionamento no Cristo Redentor, também chamado de lar por ele, Marcel começa a sentir ainda mais a falta de visitas. Tem quatro filhos, além de netos, mas há muito não vê a família. Diz sentir falta da relação com a filha mais velha, encerrada após um desentendimento ainda no abrigo. “Eu tenho medo da doença. Sou fraco para dor”, diz Libório.

Nos gabinetes do governo, uma nota técnica conjunta foi preparada por três secretarias do estado. O documento traz recomendações para essas instituições de idosos. Vão desde cuidados básicos com a higienização até procedimentos para identificar sintomas do vírus e suspensão das visitas até o controle da pandemia. “Existe uma recomendação para as secretarias municipais de saúde orientarem os abrigos. Até agora, não temos casos da Covid-19 entre os internos dos abrigos do estado”, diz o secretário executivo de Direitos Humanos, Diego Barbosa.

“A medida de suspender as visitas é um pouco dura, mas necessária, porque há uma recomendação mundial de isolamento. Sabemos que muitas vezes eles já estão abandonados e não não têm afeto. Quando suspende a visita, suspende também a de voluntários que, muitas vezes, fazem trabalhos recreativos. Em contrapartida, a recomendação é que gestores busquem medidas para viabilizar chamadas telefônicas e vídeo chamadas para essas pessoas, seja de familiares ou de voluntários, para preservar ao máximo a tranquilidade dos idosos”, explica Barbosa. As visitas somente são permitidas em casos extraordinários, como depressão dos internos, desde que se recomende o contato e o visitante não apresente sinais da doença.

Diante da pandemia, as doações andam escassas, seja em dinheiro, seja em mantimentos. As pessoas têm alegado a crise e as surpresas que podem surgir do ponto de vista econômico no país. “Ontem mesmo faltou bolacha salgada, que eles adoram”, disse Madalena Albuquerque, voluntária do setor de captação. O coordenador do abrigo, Manuel Jerônimo, disse que as contas não fecham sem o apoio da população. O abrigo é mantido com 70% da aposentadoria de cada interno e com as doações. É filantrópico e administrado pelo Rotary. Por mês, custa R$ 170 mil. “Precisamos de ajuda em dinheiro para custear os funcionários”, destaca Jerônimo.

As doações em dinheiro podem ser feitas no Banco do Brasil, agência 4118-1, conta 17111-5, cnpj 10424810/000129. O telefone do abrigo é o 81 9184-9555. Quem não puder levar os mantimentos, o Cristo Redentor envia um motorista à casa do doador. Ao todo, 40% dos idosos e idosas do Cristo Redentor não têm contato com a família. 30% são cadeirantes e 15% são acamados. Ao todo, o abrigo têm 82 funcionários e 25 voluntários. Pernambuco tem 112 Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI) e 3.683 pessoas abrigadas.
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