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Tom Zé promete show mais fogoso e animado do ano no Recife

Publicado em: 06/12/2019 16:20

 (Foto: André Conti)
Foto: André Conti
"Eu cantava algumas coisas e um dia tive a intuição de que ia ter que subir no palco em algum momento. Só de pensar, já me deu um calafrio. Então, comecei a frequentar o palco do teatro italiano que tinha na minha cidade", lembra Tom Zé, em entrevista por telefone ao Viver. Foi na cidade de Irará, no interior da Bahia, que o artista ainda tímido experimentou as primeiras interações com a plateia, no mesmo palco usado para fazer propagandas de medicamentos.

Com muito humor e um papo repleto de memórias, Tom conta que o local usado como exercício de desinibição é lembrado até hoje em suas apresentações. Isso faz dele o "homem da mala", o mercador que viaja pelas cidades vendendo produtos em praças públicas. E, dentro de seu improviso, ele transforma os holofotes intimidadores do palco em um espaço para conversa.

Aos 83 anos, o cantor relembra sucessos dos mais de 50 anos de carreira em show intitulado por ele de Recife Perfumado, em referência ao Baile Perfumado, que o recebe neste sábado (7), a partir das 21h. “Estou animadíssimo, preparando o show mais fogoso e mais animado do ano. Escolhemos só música excitante e alegre para esse encontro”, promete Tom. No repertório, faixas como Tô; Não tenha ódio no verão; Augusta, Angélica e Consolação; Dois mil e um; e Xique xique. Na noite, a banda Ave Sangria apresenta o disco Vendavais. Os ingressos custam a partir de R$ 50.

“Olhe, eu adoro Pernambuco, mas ele sempre foi rival da Bahia. Nos campeonatos de futebol, a gente sempre perdia para os pernambucanos. E ainda tem o carnaval, o Recife fundou o carnaval de Salvador, é quase uma humilhação”, pontua, lembrando das histórias que ouvia sobre os músicos do Clube Vassourinhas de Olinda terem feito a maior festa em Salvador, quando ancoraram no porto da cidade antes de chegarem ao Rio de Janeiro. “Toda essa folia inspirou Dodô e Osmar, que saíram, algum tempo depois, em cima de um Ford antigo tocando instrumentos adaptados às canções do grupo. Depois disso, Salvador virou uma cidade de festa”, diz.

Tom Zé revela ainda que, na infância, achava que Pernambuco estava próximo da Europa. “Eu tinha o privilégio de ter um rádio em casa, na época poucas famílias tinham. A gente usava para ouvir o rádio do Rio de Janeiro, que era uma espécie de educação paralela aos ensinamentos da família e da escola. E, no meio das ondas nacionais, entravam umas frequências locais e eu ouvia o bordão ‘Pernambuco falando para o mundo’. Então pensava: ‘Pernambuco é uma coisa grandiosa, é só esticar o braço, que tá lá na Europa’”, relembra.

Filho de comerciante que investiu em loja de utensílios, padaria e bar, Tom Zé ajudava nas vendas. Cortava os metros de tecidos ouvindo o alto-falante tocar Asa branca e Trem das onze, além de aproveitar para papear com os clientes que o escutavam através do balcão. “Eu era criança e um dia vi uma daquelas gaitas pequenas que davam às crianças de presente de Natal. Meu pai vendia muitas delas. Arrisquei e descobri que, com ela, eu podia tocar Asa branca. E passei a tentar tirar umas músicas pela simples curiosidade de fazer. Eu tinha muita imaginação, era um ‘vida-torta’, ninguém imaginava que eu ia ter algum futuro.”

O desejo pela música o levou a aprender violão. “Pedi que me dessem um violão, mas eu não tinha habilidade para as coisas românticas. Uma vez tentei cantar para uma namorada, cheguei lá e não consegui, fiquei mudo, a voz não saía. Nesse dia, eu abandonei tudo e decidi não fazer mais música”, diz, aos risos, desculpando-se pelo som do violão caindo no chão. Depois, Tom Zé diz que passou a fazer somente música-reportagem, o conceito que encontrou para definir as melodias que encaixava nos versos dos quais denunciava os problemas de Irará. “Eu faço músicas escutando o que está em minha volta.”

As denúncias em forma de música o levaram a trabalhar como jornalista num jornal impresso da cidade. “Eu não lembro o nome, mas eu vou lembrar já, já. Os anos e nomes se confundem na minha cabeça”, brinca. Sem formação acadêmica, o artista conta que foi trabalhar na redação do jornal pela indicação de um amigo. “Na época era assim, de uma hora pra outra aprendia. Lá, o pessoal me ensinou o que era um lead. Me mandaram começar a escrever pelo mais importante e deixando o menos interessante no final. Eu fiquei entusiasmado.”

Responsável por assinar Tropicália ou panis et circensis (1968), o disco divisor de águas do movimento Tropicália, junto com Caetano Veloso, Gal Costa, Gilberto Gil, Nara Leão e Os Mutantes, Tom Zé é um entusiasta da música brasileira. “Brasil sempre foi um país rico em música. A juventude brasileira sempre foi servida com música de alta qualidade. No passado, tivemos gerações de artistas maravilhosos, arranjos inacreditáveis.”

A nova geração musical também o encanta. “Escuto rádio sempre e amo ouvir novos artistas. Não conheço o nome de ninguém, mas depois pergunto aos músicos da banda. Eu tenho adorado funk. Os meninos são uns craques. Eu gosto dos arranjos, gosto do que eles cantam, eles fazem tudo isso e ainda são vítimas de tantas violências, como essa recente de Paraisópolis”, lamenta. Ao fim do papo, Tom fala com muita gentileza: “Obrigada pela nossa conversa, você me permitiu viver como o homem da roça que vim, e você me pareceu como as pessoas que atendia e conversava no balcão.”
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