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RUÍNA

Contêiner abandonado vira moradia na Jaqueira

Publicado em: 17/11/2019 11:08

Filipe é dependente químico e atualmente mora em um contêiner  abandonado. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Filipe é dependente químico e atualmente mora em um contêiner abandonado. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Diante de uma estrutura que destoa dos edifícios do bairro da Jaqueira, Zona Norte do Recife, o contêiner de número 1899, localizado na Avenida Rui Barbosa, passou de restaurante à moradia improvisada. As ruínas metálicas do antigo comércio de comida oriental estão degradadas pelos anos de abandono às margens do Rio Capibaribe. A estrutura tem marcas de destruição causadas pelo fogo e apresenta pequenos riscos de queda de partes do teto e das paredes. Lá dentro, seus ocupantes ressignificam o espaço.

A Avenida Rui Barbosa é um dos perímetros mais caros da capital pernambucana. Durante o dia, o contêiner abandonado não é muito notado por quem circula na via. Apesar da “moradia” ter apenas dois andares, não possuir instalações elétricas ou quartos decorados, Filipe e Minho, como preferem se identificar os ocupantes do contêiner, dividem o espaço que parece esquecido em meio aos prédios luxuosos do bairro.

Imagens
Filipe segura uma vassoura o tempo todo e se empenha na limpeza do ambiente que trata como “a casa que nunca teve”. Carrega um escapulário no pescoço e faz questão de decorar o contêiner com imagens de uma santa. Durante a noite, trabalha como flanelinha. Ao se mudar para as ruínas do antigo restaurante, Filipe chegou a dividir o espaço com outras doze pessoas, incluindo uma criança.

O flanelinha carrega um escapulário no pescoço e faz questão de decorar o contêiner com imagens religiosas. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
O flanelinha carrega um escapulário no pescoço e faz questão de decorar o contêiner com imagens religiosas. (Foto: Leandro de Santana/DP.)
Minho anda com um livro de quadrinhos infantil em francês. Presente de um amigo. Diz não entender o que está escrito. Para ele, apenas as imagens interessam. Minho é desenhista. Já tem até proposta de uma amiga para lançar o trabalho em uma exposição.

O desenhista trabalha vendendo água e passou a morar na estrutura metálica após a morte dos pais. Minho conta ter trabalhado em um estúdio de tatuagem, mas saiu depois de um desentedimento com os outros tatuadores.

O restaurante pode não ter dado certo, mas a fé dos atuais ocupantes e as bênçãos que estão espalhadas nas paredes são como uma esperança para os companheiros de moradia. Minho sonha em publicar seus desenhos. Filipe não tem tantos planos. Nem precisa. Diz ser abençoado. Coisa de quem tem fé.
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