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Rainha do Brega, Michelle Melo estreia turnê inspirada em Madonna

Publicado em: 19/09/2019 12:05 | Atualizado em: 16/10/2020 23:41

Pernambucana caracterizada como Madonna no ensaio do single Medellín, faixa do Madame X (2019) (Foto: Verner Brenan e Interscorpe/Divulgação)
Pernambucana caracterizada como Madonna no ensaio do single Medellín, faixa do Madame X (2019) (Foto: Verner Brenan e Interscorpe/Divulgação)


Madeixas loiras, sensualidade, figurinos ousados e performances elaboradas. É possível estabelecer alguns paralelos entre a pernambucana Michelle Melo e a estadunidense Madonna, apesar de todas ressalvas do regionalismo. A primeira comparação entre as duas foi feita por Regina Casé durante o programa Central da Periferia, exibido nacionalmente na Rede Globo em 2006. Um palco foi montado no Morro da Conceição e mais de 1500 pessoas assistiram shows de Zé Brown, Dedesso e Michelle Melo, “a Madonna do Nordeste”.

Neste final de semana, a expoente do brega assume toda influência de Madonna em um novo show. A MMDNA TOUR (uma referência ao álbum MDNA, lançado por Madonna em 2012) estreia no sábado (21), durante a programação da festa Brega Naite, realizada no Catamarã, Centro do Recife. A Favorita, Eduarda Alves, Dadá Boladão e os DJs Allana Marques e Original Copy completam a programação

No começo de setembro, Michelle surpreendeu seus fãs ao lançar um brega-funk de “passinho” com o refrão de Faz Gostoso, parceria de Madonna com Anitta - a utilização de hits internacionais em refrões tem sido comum no ritmo eletrônico pernambucano. Agora, o diálogo direto com a obra de Madonna se consolida com a sexta turnê de sua carreira, que pretende enfatizar o poder da sedução e do empoderamento feminino. 



A produção geral é de Wallace Barros, com produção musical de Formiga Raphael. Os figurinos, que vão reverenciar diferentes fases da Rainha do Pop, foram elaborados por Cassiano Silva, famoso estilista da cena brega local. Nas imagens de divulgação feitas por Verner Brenan, a pernambucana aparece como Madonna no ensaio do single Medellín, faixa do Madame X (2019), seu álbum de estúdio mais recente - e o mais elogiado desde 2005.

 (Foto: Verner Brenan/Divulgação)
Foto: Verner Brenan/Divulgação


"Eu ainda era muito pequena quando conheci o trabalho da Madonna e do Michael Jackson. Sempre admirei ambos porque eles cantavam, dançavam e interpretavam”, diz Michelle Melo, 37 anos, em entrevista ao Viver. "A Madonna sempre foi minha maior referência de performer, pois ela nunca teve medo de ser ela mesma. Claro que somos diferentes, pois ela está do outro lado do mundo, mas a considero um exemplo de artista, de mãe e de mulher", continua.

Desde a década de 1980, Madonna usou sua arte para falar de questões sociais, quebrando tabus sobre libertação sexual feminina e do corpo da mulher. Quando surgiu no começo dos anos 2000 na Banda Metade, com sucessos como Lua de mel e Baby Doll, Michelle abriu portas para mais mulheres no brega. Foi mais longe que isso: gemeu em suas músicas, causando polêmica e ganhando atenção do público.

Assim como Madonna, Melo levanta bandeiras sociais. Atualmente, mantém um projeto com apoio governamental para discutir sobre feminicídio em escolas públicas do subúrbio do Recife. Em 2018, participou da campanha Violência contra a mulher é coisa de outra cultura, da Secretaria da Mulher de Pernambuco. Foi a única representante da música brega, cantando ao lado das pernambucanas Cristina Amaral, Gerlane Lops, Irah Caldeira , Isaar, Nena Queiroga, Silvana Salazar e Ylana Queiroga.

RAINHAS
 (Foto: Verner Brenan/Divulgação)
Foto: Verner Brenan/Divulgação


Inicialmente, Madonna ganhou a alcunha de Material Girl (garota materialista) por conta do hit homônimo de 1984. Mas a estadunidense sempre detestou o apelido. Mais tarde, passou a ser chamada de “Rainha do Pop” por grandes veículos de entretenimento dos Estados Unidos, como a emissora MTV e a revista Billboard. Michelle, por sua vez, é constantemente referida como a “Rainha do Brega”. De acordo com ela, o termo surgiu através de Reginaldo Rossi, falecido em 2013.

"Reginaldo sempre me inspirou. Quando nos encontrávamos, eu o chamava de ‘meu rei’. Ele dizia: 'que nada, se eu sou rei você é uma rainha’. Isso se tornou uma brincadeira repetida nas feijoadas dele. Reginaldo subia no palco e dizia: 'quero chamar para vocês a rainha do brega Michelle Melo’. Eu era apenas uma menina que cresci vendo aquele artista tão maravilhoso. Por trás da irreverência existia um homem íntegro, concentrado e que me deu muita força para continuar. Fico emocionada ao falar dele, o nosso grande rei".

O BREGA É POP
A música brega sempre foi pop, desde quando surgiu nos anos 1970 com versões regionais de ícones da Jovem Guarda, como Reginaldo Rossi. Naquela época, a imprensa nacional também se referia ao ritmo como “música cafona”. Em estados como Pernambuco e Pará, uma cena local de brega se desenvolveu ao longo das décadas. Mais especificamente no final dos anos 1990, surgiu uma vertente chamada de “brega pop”, mais dançante e com performances elaboradas que lembravam estrelas internacionais.

“Considera-se como lugar de nascimento dessa nova onda comercial do brega pop, também conhecido como Calypso, a cidade de Belém do Pará", escreveu Fernando Israel Fontanella, professor de Publicidade e Propaganda Universidade Católica de Pernambuco, na sua dissertação de mestrado A Estética Brega (2005), um marco para os estudos em brega na academia.

"O brega pop adotou ritmos mais acelerados e dançantes, adequados as apresentações para grandes públicos [...] Esse sucesso passa a impulsionar e influenciar os músicos bregas do Recife, onde a existência de um maior mercado e uma cadeia de produções musical maior, incluindo rádios, uma programação local da TV significativa, estúdios de gravação e casas de show, faz com que o mercado pernambucano rapidamente torne-se referencial para as bandas brega no nordeste".

Thiago Soares, professor do departamento de comunicação da UFPE, também abordou a questão das “divas bregueiras” no livro Ninguém é perfeito e a vida é assim (Outros Críticos, 2017). “A forma como Michelle age e performatiza o sussurro e o gemido também evidenciam reverberações da imagética das cantoras da música pop internacional, como Mariah Carey, Whitney Houston, Beyoncé, Shakira, Madonna e Britney Spears. O que se delineia é uma apropriação pela cantora de brega de formas consagradas midiaticamente de encenação/performatização da mulher: neste caso, a ideia da diva pop”.

SERVIÇO
Brega Naite com Michelle Melo, A Favorita, Eduarda Alves, Dadá Boladão e os DJs Allana Marques e Original Copy
Onde: Catamarã (Praça das Cincos Pontas, São José).
Quando: neste sábado (21), às 22h
Quanto: R$ 60 (pista social) e R$ 160 (open bar).
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