Diario de Pernambuco
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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Reflexões sobre o mercado de trabalho em Pernambuco

Publicado em: 02/09/2019 15:16

Não é nenhuma novidade que os estados do Nordeste, particularmente Pernambuco e Bahia, costumam ostentar as maiores taxas de desemprego do país. Já era assim na época em que este indicador era medido apenas nas regiões metropolitanas, e desde 2012 quando o indicador passou ser representativo para os estados continuamos da mesma forma. A matriz econômica nordestina é bastante perversa em termos de emprego, tanto que nossos melhores resultados são comparáveis ao que hoje apresentam os estados do Sul do Brasil, os melhores neste indicador.

É apenas um reflexo do baixo crescimento econômico, dirá o incauto. Não necessariamente. Quando se observa o comportamento do emprego e do PIB em Pernambuco, por exemplo, para os últimos trimestres, fica claro que há um descasamento. Embora este estado esteja conseguindo resultados razoáveis, para o contexto brasileiro, em relação ao PIB, a taxa de desocupação decolou para o mesmo período. No segundo trimestre de 2019 a taxa de desocupação em Pernambuco foi de 16%, chegando a 17,3% na Bahia, contra 12% no Brasil e 6% em Santa Catarina.

Outro ponto que chama bastante atenção é que desde o segundo trimestre de 2015, a taxa de desocupação em Pernambuco e na Bahia descolou da brasileira, negativamente, indicando que ela subiu bem mais aqui que no resto do país. O Ceará, contudo, logrou melhorar esta relação. Se a dinâmica de nossa produção é equivalente, ou até melhor, que no país como um todo, por que nosso desemprego aumenta mais?

Uma possível explicação pode estar na composição de nossa matriz de produção, observando quais setores hoje são dinâmicos e quais aqueles que hoje respondem pela parcela mais significativa do emprego. Sabe-se, por exemplo, que o crescimento pernambucano recente muito se deveu aos fortes investimentos induzidos pelo setor público federal, como a refinaria, os estaleiros e a fábrica da Jeep, em Goiana. Adicionalmente, a expansão da renda até 2014 viabilizou a consolidação do estado como hub de distribuição via porto de Suape.

O comportamento do emprego, por sua vez, foi ditado em grande parte pelo desempenho do setor de construção, seja para as obras de implantação dos investimentos induzidos pelo setor público, seja para atender uma forte expansão do mercado imobiliário que, em parte, se deveu a expansão da renda de curto e médio prazos induzida por aqueles investimentos. Dado o montante de investimentos e sua concentração temporal, era esperado pelos analistas que a conclusão destes levasse a uma forte elevação da taxa de desocupação, que em teoria deveria ser revertida pelo efeito sustentado do crescimento da renda induzida pelo próprio investimento inicial. Não foi o que aconteceu. A crise econômica veio paralela e fulminou a renda dos consumidores, e para piorar ela foi diagnosticada desde o início como provocada pela expansão do déficit público. Conclusão, os consumidores pararam de comprar e o estado parou de contratar novas obras. O setor de construção foi fortemente atingido, e o reflexo foi uma expansão ainda maior da taxa desocupação.

E como o PIB se recupera e o emprego não? Porque o PIB está sendo sustentado pela dinâmica do setor serviços e por uma melhora na agropecuária, enquanto a indústria patina. Aparentemente estamos crescendo em segmentos mais intensivos em capital que mão-de-obra, o que é positivo para a matriz econômica em termos de valor adicionado. Por outro lado, enquanto os setores intensivos em mão de obra não reagem, a taxa de desocupação fica nas alturas e isto implica em crescimento com elevação de desigualdade. Como o cenário atual mostra que de Brasília pouco virá, e quando vem o efeito é incerto como, por exemplo, a nova modalidade de financiamento imobiliário, é preciso que os gestores locais de política pública estejam atentos, pois o quer que esteja sendo feito hoje está tendo reflexo quase nulo sobre a taxa de desocupação e, infelizmente, ela já está entre as mais altas do país.
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