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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO

Economia quase parando

Publicado em: 24/06/2019 08:00

Na minha última coluna (Observatório, 03 de junho de 2019) comentei sobre os resultados do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano. O fraco desempenho não chegou a ser surpresa, mas é o tipo de resultado que gostaríamos que fosse diferente. Com 13 milhões de desempregados e inflação sob controle, a expectativa era de que o Banco Central (BC) reduzisse a taxa básica de juros (Selic) na reunião da semana passada. O que se viu foi um BC mais conservador, mantendo os juros em 6,5% pela décima reunião seguida. No entanto, na ata divulgada logo após a reunião, sinalizou que "indicadores recentes da atividade econômica indicam interrupção do processo de recuperação da economia brasileira nos últimos trimestres." Em resumo, a economia está quase parando.

Na avaliação do Comitê de Política Monetária (Copom) este cenário favorece uma trajetória baixa para a inflação no horizonte próximo. Contudo, avalia que os riscos associados com a continuidade ou não das reformas podem reverter essa trajetória de redução da inflação. Daí a justificativa para a posição mais conservadora. No entanto, o Copom reconhece que a conjuntura atual prescreve uma política estimulativa no curto prazo. Estaria aí a indicação de queda nos juros na próxima reunião?

É possível que sim, mas vejo que o BC está atento à conjuntura econômica frustrante, mas diante de seu compromisso com a estabilidade de preços, prefere esperar para ver o que sairá da reforma da previdência. A bola está com o congresso. Do lado fiscal, não vejo alternativas de estímulo, muito embora alguns venham sugerindo relaxar a preocupação com o equilíbrio fiscal no curto prazo e iniciar um programa de obras públicas em infraestrutura e assim por diante. 

Sinceramente, parece que não aprendemos nada com os erros cometidos no passado. Fica a ilusão de que agora será diferente, mas o que veremos será a persistência dos erros. Má alocação de recursos, corrupção e ineficiência. Sou cético em relação a isso. Prefiro a ideia de atrair o setor privado com privatizações, concessões e parcerias público-privadas. Isso virá quando a reforma da previdência for aprovada e o horizonte fiscal "clarear".

Além disso, apesar da promessa de campanha de zerar o déficit primário (diferença entre despesas e receitas do governo federal) ainda em 2019, o que não ocorrerá, a política fiscal vem sendo “relaxada”. Fecharemos o ano com déficit primário em torno de 1,4% do PIB e  dívida pública perto de 80% do PIB. Na visão do mercado, recuperaremos o equilíbrio fiscal, apresentando superávit primário, apenas em 2022. Portanto, é falacioso o argumento de que a política fiscal está amarrada a uma visão de equilíbrio fiscal a todo custo no curto prazo. O importante aqui é sinalizar o equilíbrio num futuro próximo.

Penso que melhor seria persistir em ações como abertura comercial, desburocratização dos processos, privatizações e concessões ao setor privado particularmente na infraestrutura, aumento da concorrência no mercado de crédito com apoio mais explícito às fintechs, clareza e segurança jurídica nos contratos, e estímulo à eficiência no setor público. Incluiria revisão dos subsídios e renúncias fiscais e previdenciárias, além de prosseguir com a reforma tributária.  Passar a mensagem aos Estados de que precisam buscar o equilíbrio fiscal (leia-se reforma da previdência dos estados), sem o qual não terão ajuda federal, também deveria estar no radar. Por enquanto, o que vejo são alguns governadores oportunistas, preocupados apenas com as próximas eleições, ao invés de se preocuparem com as próximas gerações. 
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