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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Aguardando a garantia do retorno

Por: Fernando Dias - Diario de Pernambuco

Publicado em: 19/03/2019 09:12 Atualizado em:

As estimativas para o PIB brasileiro em 2019 vêm caindo sistematicamente ao longo das últimas semanas, destarte o baixo valor mediano que já vinha sendo projetado nos últimos meses, por volta de 2,5%. Considerando que o país saiu muito recentemente de uma grande recessão, estes números são bem pouco animadores e não refletem o ambiente esperado de um novo governo que, em tese, se esperava voltar a colocar ordem na casa. Como reflexo, a taxa de desemprego continua em patamar muito elevado, e as regiões periféricas como o Nordeste pouco sentem os efeitos do fim da recessão.

Como se sabe, o governo Temer assumiu com a disposição de uma ampla agenda de reformas que terminou esbarrando em escândalos que paralisaram esta agenda. O governo Bolsonaro, que o sucedeu, tem por norte retomar e ampliar estas reformas e, em princípio, já que as ações na área econômica confirmam esta tendência, deveria ter provocado um ambiente de otimismo que levaria a melhora no investimento. Isto não vem se verificando de forma geral, e ao que tudo indica o mercado ainda não aceita o nível de risco presente.

Isto quer dizer que o risco não cedeu desde Dilma? Os indicadores mostram que cedeu, e cedeu bastante. Porém há de se considerar qual nível de risco o mercado brasileiro considera adequado para que os investidores deixem seus ativos financeiros e coloquem dinheiro em ativos produtivos. Embora não haja um levantamento objetivo a este respeito a nossa história nos ajuda entender esta questão, e as evidências são bem pouco alvissareiras.

Apesar de termos nascido de uma colônia de base comercial, a relação entre o Capital e o Estado no Brasil sempre foi muito embrionária e muitas vezes no sentido do Estado financiar o capital e mitigar os riscos dos capitalistas. Embora hoje em dia não seja mais possível termos algo como a república café com leite, em que o Estado literalmente empenhava a riqueza nacional para garantir a riqueza dos cafeicultores, o nível de interferência que se requer do Estado para mitigar risco ainda é elevado. 

Como isto se revela? Basta ver os investimentos subsidiados do BNDES, o papel do Minha Casa no setor imobiliário, a dependência do setor agrícola dos créditos do setor público, a relação entre o crescimento industrial e o planejamento tributário via políticas de incentivo. O capitalismo de estado não é só regra no Brasil, ele é parte de nossa cultura empresarial. Não que o pequeno empreendedor não tome risco por sua conta, ele toma, e são milhares deles, mas muito do investimento aguarda mares mais tranquilos de rentabilidade garantida.

Dentro desta perspectiva se deve esperar que o atual governo leve a algum espetáculo de crescimento? Dificilmente, ao menos no curto e médio prazo. Se nos governos de Lula e Dilma tivemos o consignado, a alienação fiduciária, o Minha Casa e os capitães da indústria reduzindo riscos e/ou levando recursos diretamente aos empreendedores, o atual governo assim como o anterior tem uma agenda econômica mais voltada para a adequação do financiamento do Estado e da retirada de entraves a atividade econômica.

Colocado em outros termos, a agenda econômica que os economistas da vez estão ditando é a retirar da economia os riscos que o Estado está causando, sendo muito diferente de uma agenda na qual o Estado retira os riscos da economia. Nossa economia está bem pouco acostumada a este tipo de agenda, e é esperado que nossos capitalistas resistam e busquem alternativas sempre que possíveis. A manutenção de uma baixa taxa básica de juros torna-se então fundamental para retirar os investimentos da toca da renda fixa, supondo a permanência desta agenda ao longo dos próximos anos. Se de fato iremos nos adaptar a uma economia em que não há garantia de retornos, isto só o tempo dirá.



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