Diario de Pernambuco
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Observatório Econômico A cidade que queremos

Por: André Magalhães

Publicado em: 20/08/2018 08:15 Atualizado em:

Passados 10 anos, é hora de revisar o Plano Diretor do município. É hora de refletir a respeito do que queremos, avaliar se as linhas gerais traçadas em 2008 ainda fazem sentido. Precisamos responder, por exemplo, questões como: que tipo de cidade manterá os cidadãos não apenas seguros, mas saudáveis? que tipo de cidade queremos deixar para as futuras gerações? 
 
O Estatuto da Cidade, de 2001, fortaleceu o processo de discussão, participação popular e reflexão a respeito das cidades. O Estatuto permitiu que a população se apropriasse dos problemas urbanos e discutisse com os governantes os caminhos a serem seguidos. Foi assim em Recife. Em 2008, o Plano Diretor do município foi estabelecido após um longo processo de discussões. 

Passados 10 anos, é hora de revisar o Plano Diretor do município. É hora de refletir a respeito do que queremos, avaliar se as linhas gerais traçadas em 2008 ainda fazem sentido. Precisamos responder, por exemplo, questões como: que tipo de cidade nos trará desenvolvimento econômico? que tipo de cidade manterá os cidadãos não apenas seguros, mas saudáveis? que tipo de cidade queremos deixar para as futuras gerações? 

Quem gosta do tema, ou está interessado em pensar melhor as nossas opções, pode encontrar uma resposta interessante no livro “Walkable City: How Downtown Can Save America, One Step at a Time” de Jeff Speck.  Título que pode traduzido como “Cidades caminháveis: como o centro pode salvar a América, um passo de cada vez”. 

A tese central do livro é a de que fazer com as pessoas andem nas cidades é, possivelmente, a melhor resposta às perguntas colocadas acima, na medida em que isso contribui para a vitalidade urbana. Segundo Speck, para que isso seja possível é necessário que o caminhar seja útil, seguro, confortável e interessante. 

A utilidade está associada aos aspectos da vida diária, de forma que, ao caminhar, as pessoas consigam atender às suas demandas de forma fácil e prática. Segurança, por sua vez, está relacionada ao fato de que o desenho das ruas permita aos pedestres uma chance de se proteger dos carros. É preciso se sentir seguro! O conforto e o “ser interessante” estariam associados às calçadas e à forma de organização dos prédios (algo como zona sul do Rio de Janeiro. Há um prazer em andar na rua). 

Há uma implicação forte nessa linha de raciocínio: ao priorizar o pedestre tudo mais passar a ser elaborado, e pensado, em função dele. Carros ficam em segundo plano (talvez terceiro plano). Transporte público passar ser priorizado. Bicicletas são bem-vindas. E assim por diante.

Quando se observa o que tem sido feito no Recife em termos de política urbana nos últimos anos, percebe-se que há mudanças sendo feitas nessa direção. Talvez seja a hora de sistematizar e colocar essa visão num plano geral. Explicitar as prioridades. 
Concordando ou não com isso, a hora de discutir o tema é agora.

O processo de revisão do Plano Diretor está sendo coordenado pela Prefeitura do Recife. Há um espaço na internet dedicado para isso (http://planodiretordorecife.com.br/o-que-e/) e um calendário definido para as discussões. Ou seja, o trabalho de revisão está a pleno vapor. É importante que aqueles que queiram, e possam, se apresentem para a discussão. Esse é o momento de definir e desenhar uma cidade melhor para todos nós.  

* professor do departamento de economia da UFPE