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OBSERVATÓRIO ECONÔMICO Freio puxado

Por: André Magalhães

Publicado em: 07/05/2018 17:57 Atualizado em: 15/05/2018 11:43

André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
André Matos Magalhães é professor do Departamento de Economia da UFPE. Foto: Tiago Lubambo/Divulgação
Por André Magalhães(*)

Dois fatores parecem pesar no cenário atual: as incertezas políticas e a crise do setor público, em especial dos estados e municípios. O cenário político é, no mínimo, complexo. A eleição está completamente aberta. Esse não seria um grande problema não fosse o fato de que não se saber até agora quais são realmente as posições dos candidatos com relação aos principais desafios econômicos que o país enfrenta.


2018 começou bem. Começou com expectativas positivas para a economia. Havia razões para isso. Depois de dois anos de quedas brutais do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro paramos de piorar em 2017. O Governo Federal fez o dever de casa e trouxe a inflação para baixo. Isso permitiu uma redução da Selic. Com inflação sob controle, juros básicos baixos e expectativas positivas, o país estava pronto para voltar a crescer.

O ano começou e as coisas não decolaram. Como normalmente as coisas só começam a funcionar depois do carnaval, esperamos mais. Mas, o carnaval veio, passou e a economia não apresentou a melhora esperada. Estamos em maio e continuamos esperando a melhora da economia.

É claro que estamos melhores do que no ano passado. Isso é fato. A previsão de mercado é que devemos crescer algo próximo 2,7% esse ano, talvez um pouco menos. Isso é inegavelmente melhor do que o que tivemos nos últimos anos. Então, por quê a sensação que as coisas não estão indo bem?

Talvez as expectativas gerais estejam desalinhas com a realidade. Voltar a crescer depois da tragédia que tivemos não significa recuperação imediata da economia, com aumento da renda e do emprego. O processo é mais lento do que nós gostaríamos e isso cria frustações. Mas, há algo mais acontecendo.

Dois fatores parecem pesar no cenário atual: as incertezas políticas e a crise do setor público, em especial dos estados e municípios. O cenário político é, no mínimo, complexo. A eleição está completamente aberta. Esse não seria um grande problema não fosse o fato de que não se saber até agora quais são realmente as posições dos candidatos com relação aos principais desafios econômicos que o país enfrenta. Há, por parte dos candidatos, compromisso com o equilíbrio fiscal, controle da inflação e gestão eficiente da máquina pública ou teremos governantes populistas com promessas fáceis? Sem um cenário mais claro o setor produtivo adiará investimentos e ainda sofreremos mais um pouco.

O segundo fator é importante para o país como um todo, mas talvez seja ainda mais forte no Nordeste. O Rio de Janeiro talvez seja o estado em pior situação, mas os demais não estão bem. Com poucas exceções, estados e municípios não estão pagando as contas em dia. Em vários deles, há dívidas significativas com os fornecedores, que sem receber, não conseguem pagar os custos. Tem-se aí um círculo vicioso que afeta negativamente a renda e o emprego.

A sensação é que estamos andando com o freio puxado. Há potencial para irmos mais rápido, mas andamos com dificuldades. Parte das incertezas será desfeita em breve com o início das campanhas. Para o melhor ou pior, saberemos melhor o que esperar. A crise dos estados e municípios exigirá mais tempo e seriedade dos gestores públicos. Em suma, 2018 será um ano bom. Não tão bom quanto gostaríamos, mas, bem melhor do que o que tivemos nos anos recentes.

(*) Professor do Departamento de Economia da UFPE.

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