As universidades federais resistirão até o final de 2022?

Mesmo a poucos meses do seu final, a travessia dos últimos momentos do Governo Bolsonaro ainda é um desafio para as universidades públicas federais. Poderia parecer mais fácil, agora, tendo superado três anos e meio de desrespeito, cortes orçamentários, ataques à autonomia universitária e tentativas de desmoralização de servidores e estudantes.

Poderia ser mais fácil, porque, como docentes, sabemos da força que nossa responsabilidade nos conferiu durante esse período de descalabro e irresponsabilidade

Apesar de constantes e histriônicos, os ataques morais promovidos por pessoas desmoralizadas não chegaram a afetar o funcionamento dessas instituições que já têm papel consolidado no seio da sociedade, seja na formação de pessoas, na produção de pesquisa ou no atendimento às populações carentes. As universidades públicas se mantiveram, apesar de tudo, presentes como espaços para o pensamento crítico e força poderosa na defesa da democracia, na luta por justiça e inclusão social, conservação ambiental e sustentabilidade, respeito à diversidade e popularização do conhecimento, de inovações e tecnologias.

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Contudo, se resistem aos ataques morais, é na sua existência física que as universidades federais correm maior risco. Após anos de retração orçamentária, cortes e contingenciamentos, funcionando atualmente com o orçamento de custeio de 2021 equivalente ao de 2013, desconsiderando o crescimento em números de cursos, estudantes e projetos, as universidades federais atravessaram o período remoto fortemente apoiadas nas despesas realizadas pelos próprios docentes para viabilizar as atividades de ensino, pesquisa e extensão.

De volta às atividades presenciais, sem recursos para viagens e visitas técnicas, sem intercâmbio de conhecimento e participação em eventos acadêmicos, sem bolsas para atividades de ensino, pesquisa e extensão, com cortes no pessoal terceirizado, o que compromete os serviços de manutenção e segurança, nos questionamos se as universidades federais resistirão aos últimos meses de um governo que as escolheu como inimigas.

Sem pensar na destruição de sonhos de milhões de jovens, nas oportunidades perdidas de ascensão social, no rebaixamento do Brasil no cenário da ciência e tecnologia mundiais, no comprometimento do futuro da nação, sem educação, cultura e pesquisa científica, o governo restringe as verbas de funcionamento das universidades federais, mesmo quando anuncia recorde nas receitas.

Afinal, para que se arrecada tanto, no Brasil? Para rolar o pagamento da inauditada dívida pública, em detrimento dos investimentos necessários ao desenvolvimento do país e bem-estar do seu povo.

Universidades públicas como a UFRPE vêm, recorrentemente, anunciando que seus orçamentos só permitem funcionar, já em condições de restrição econômica extremadas e sem investimentos, até setembro ou outubro de 2022.

O final do Governo Bolsonaro pode estar próximo, mas, nos seus planos, as universidades federais acabariam antes dele. Mas, esse é mais um engano, em um governo cheio de enganos. As universidades federais resistirão e farão a travessia de 2022 com muita luta, denunciando o projeto de desmonte com unidade e mobilização, para retomar o caminho da expansão da educação pública, com qualidade e compromisso com o povo brasileiro.