Diario de Pernambuco
Busca

TEATRO/AUDIOVISUAL

Celebrando 10 anos, Nexto-PE promove corrida entre salário mínimo e custo de vida em videoarte

Publicado em: 17/08/2022 14:40

Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido comemora uma década de existência (Felipe Correia/Divulgação)
Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido comemora uma década de existência (Felipe Correia/Divulgação)
 

Há sete anos, o Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido vem construindo seu braço audiovisual, registrando performances e as construindo pensando também em experimentações com a linguagem cinematográfica. Celebrando também 10 anos de atividade, o núcleo, formado pelos artistas, educadores e pesquisadores Wagner Montenegro e Andréa Veruska, lança o filme curta-metragem ‘Grande Prêmio Brazil’. Nele, Wagner vive o salário mínimo e Veruska o custo de vida, que disputam uma corrida pelas ladeiras de Olinda. A produção pode ser conferida no canal do YouTube do grupo  https://www.youtube.com/channel/UC-NQOQY_7-zvXQdIKoPwvXQ e no Instagram (@nexto.pe).
 
 

“Nossa criação sempre se voltou para as ruas e os locais públicos e coletivos, com nossas performances sempre dialogando com esses espaços e as pessoas deles. Trabalhar isso no audiovisual, parte da nossa inquietude enquanto artistas e de nosso desejo pessoal de se aproximar do cinema. Nossa pesquisa utiliza o Teatro do Oprimido como dispositivo para a criação cinematográfica. Experimentamos nossas criações nas ruas e, a partir da linguagem audiovisual, ampliamos o que vivemos para a produção de imagens e narrativas cinematográficas, indo além de seu alcance”, explica Wagner, em material de divulgação. 

‘Grande Prêmio Brazil’ dá continuidade a essas experimentações. A última delas foi a videoarte Sethico (2021), que explorava pontos do Recife marcados pelo racismo brasileiro. A produção, também lançada no YouTube do grupo, conquistou prêmios e circulou por mais de 20 festivais do mundo todo, como o Atlanta Black Pride Film Festival, o Encontro de Cinema Negro Zózimo Bulbul, o DOBRA - Festival Internacional de Cinema Experimental e o Festival de Inverno de Garanhuns. O novo filme conta com direção e roteiro de Andréa Veruska e Wagner Montenegro, fotografia de Felipe Correia e trilha sonora de Rafaella Orneles, tendo sua inspiração em uma cena da peça teatral 'Revolução na América do Sul', de Boal.

Há uma década, o Núcleo de Experimentações em Teatro do Oprimido (Nexto) vem desenvolvendo um intenso trabalho conciliando arte e transformação social por meio de oficinas, espetáculos, trabalhos audiovisuais, podcasts e outras iniciativas que circulam não só em Pernambuco, mas também por diversos estados e países. São trabalhos desenvolvidos com adultos e crianças a partir da metodologia desenvolvida pelo emblemático Augusto Boal nos anos 1970, com forte influência do pensamento de Paulo Freire, não só levando histórias por onde passam, mas também construindo histórias ao lado de todos os envolvidos nos seus projetos.
 
 

10 anos de Nexto

Antes de se tornar uma das grandes referências do fazer teatral no estado e no país, o Nexto surge como uma vontade de continuar a promover o poder do Teatro do Oprimido por parte de Wagner e Andrea, que já vinham estudando e praticando a metodologia desde 2003. Após anos realizando oficinas que envolviam a técnica em escolas e projetos sociais, a dupla formaliza a criação do grupo em 2012, tendo como pilares a formação, a pesquisa e a criação artística. 

O Teatro do Oprimido busca democratizar o fazer artístico e conciliá-lo com propostas de mudanças sociais, incorporando as vivências e narrativas de todos ao seu redor, tendo o diálogo com o outro como sua principal base. A partir dessa metodologia, o Nexto desenvolveu projetos como o espetáculo Las Mariposas (2015), que gira em torno da violência contra a mulher e foi desenvolvido a partir de experimentos e oficinas. O espetáculo circulou pelo país e também fez uma jornada pela República Dominicana, terra natal das “Mariposas” Maria Tereza, Pátria e Minerva, assassinadas pelo regime ditatorial do país por conta de suas lutas feministas. 

A busca por essas trocas levou o grupo a realizar uma série de oficinas na capital pernambucana, no interior do estado, pelo país e também fora dele. Em 2016, eles realizaram a marcante experiência do trabalho desenvolvido em uma prisão de segurança máxima no estado de Nova York, Estados Unidos, usando o teatro para mobilizar questões impactantes sobre a estrutura da sociedade que surgiam a partir das próprias histórias de vida dos detentos. 

Outra experiência marcante do grupo foi uma oficina realizada para indígenas da comunidade Xavante em Porto Alegre do Norte, Mato Grosso, na qual a barreira da língua - apenas três pessoas sabiam o português - se transformou em uma potência artística e de comunicação. 
 
“Foi nossa primeira experiência de Teatro do Oprimido com indígenas aldeados. A gente teve que adaptar muito as técnicas. Sabendo que o idioma era uma barreira, fizemos muito Teatro Imagem, técnica que nos permite trabalhar com pintura para pensar as nossas expressões. Usamos o mínimo de verbalização e com muita linguagem corporal. Conseguimos traduzir as principais técnicas e até hoje elas são multiplicadas na aldeia”, relembra Veruska. 

Em outubro, o grupo segue para mais uma residência artística fora do país, desta vez na França, na cidade de Amiens, dialogando com o grupo Pas à Passo Théâtre de L´opprimé.

COMENTÁRIOS

Os comentários a seguir não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL