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Livro cataloga bens confiscados dos jesuítas expulsos do Brasil no século 18

Capa do livro e Atlas histórico e cartográfico do Recife

Entre os séculos 16 e 18, padres da Companhia de Jesus viveram em terras pernambucanas para catequizar indígenas e fortalecer a campanha da igreja no Novo Mundo, a partir de 1551. Ao longo desse período, esses religiosos acumularam muitos bens, como imóveis, escravos e animais, entre outras posses. Contudo, perderam tudo quando foram expulsos do Brasil pelo Marquês de Pombal, em 1759. A lista dos bens confiscados aos jesuítas, inédita em livro, está sendo publicada em Bens dos Jesuítas - Bens Livres e de Encargo Pertencentes aos Colégios de Olinda, Recife, Paraíba e Ceará, da Cepe Editora. O título será lançado nesta segunda-feira (27), às 19h30, no auditório do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, no Centro do Recife, e transmissão por YouTube e Facebook.

Com 396 páginas, o livro serve como uma fonte primária (escrita por quem viveu a história naquele momento) para historiadores, economistas e linguistas. “A publicação pode suscitar muitas pesquisas”, afirma Gilda Verri, que organizou o livro com Ana M. Santos Pereira. O documento original, manuscrito, é de propriedade do Instituto Arqueológico, entidade cultural sem fins lucrativos fundada em 1862, no século 19. O livro também traz um texto do arquiteto e urbanista José Luiz Mota Menezes, falecido no dia 6 de setembro, aos 85 anos. Ele  indica, quando possível, a localização atual de cada um dos bens declarados. Além de mapas antigos que mostram como era o Recife no tempo em que os padres jesuítas viveram no Brasil colonial.

O título contém a transcrição paleográfica do manuscrito e uma versão atualizada do documento de acordo com as regras ortográficas em uso no País. “É importante oferecer as duas opções de leitura porque o livro fica acessível ao público em geral e ao mesmo tempo preserva a ortografia antiga, o modo como se escrevia no século 18, para pesquisadores da área de linguística”, observa Gilda Verri.

Mapa do Recife no século 18

No manuscrito há anotações de diferentes escrivães que registraram, de 1765 a 1768, o destino dado aos bens dos padres: quem comprou e quanto pagou. Depois do confisco, o governo português se desfaz de casas no Recife, em Olinda e em outras localidades, de engenhos de açúcar e fazendas de gado na zona rural e de escravos. Um economista que estuda o tema da escravidão vai encontrar no livro o preço de venda de escravos e escravas, assim como o valor de imóveis, diz ela.

A lista dos bens dos jesuítas ficou desaparecida por mais de 70 anos, até ser recuperada pelo Instituto Arqueológico em 2007, quando o primeiro secretário da entidade, Reinaldo Carneiro Leão, a encontrou numa livraria antiquária em São Paulo. Ele conta essa história na apresentação do livro. O documento foi restaurado e desde 2012 é reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) como Memória do Mundo do Brasil (MoW Brasil).

“Bens dos Jesuítas, uma parceria com o Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano, é uma publicação que traz à tona uma obra essencial para quem quer entender um pouco mais da história pernambucana. É um documento raro, precioso, utilizado por historiadores e que a Cepe edita numa forma de tentar preservar essa memória e levá-la ao conhecimento do público em geral e do público especializado”, declara o jornalista e editor da Cepe, Diogo Guedes.

SERVIÇO
Preço: R$ 85 (impresso) e R$ 26 (e-book)
Onde comprar: Lojas físicas e loja virtual da Cepe (www.cepe.com.br/lojacepe/)

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