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MÚSICA

Projeto pernambucano explora novas formas de fazer música e revela artistas locais

Publicado em: 06/05/2021 14:58

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação

A vontade de retratar um momento da música pernambucana guiou o goiano Benke Ferraz, músico e produtor do grupo Boogarins, a mergulhar na execução do projeto Mapeando Pernambuco, buscando mostrar vários formatos através de colaborações entre nomes conhecidos e revelações da cena local. A iniciativa ganhou forma e se transformou em um disco inédito que será lançado nesta quinta-feira (6), em todas as plataformas musicais.

Com oito faixas, o álbum tem participação especial do músico Tagore e da cantora Marília Parente, além de novos talentos do Recife, Paulista, Santa Cruz do Capibaribe e Caruaru. A produção é fruto de um processo de 30 dias, a partir de uma série de oficinas gratuitas de edição, arranjo e mixagem, onde Benke recebeu inscrições de artistas do estado.

“Foram 30 dias, entre catalogação, amplificação e misturas de nomes que chegaram à oficina, vindas de cenas e contextos bem diferentes. Muitos começaram a produzir em plena pandemia e, até nesse viés, acabo considerando o ‘intercâmbio’ uma espécie de circulação desses novos nomes e suas potencialidades”, define.

O foco foi gerar oito faixas inéditas, começando as produções a partir de sons captados por celulares. O disco foi inteiramente concebido a partir dos sons enviados pelos inscritos, alguns foram inteiramente gravados com celular. O processo de arranjo se deu abertamente, com Benke garimpando os áudios e iniciando as canções junto com os participantes. Foram 15 ideias de canções, até chegarem às oito faixas finais.

O projeto tem incentivo da Lei Aldir Blanc. De acordo com o produtor musical, o critério de escolha das canções foi totalmente democrático. “Fui fazendo encontros de composição e mixagem em vários horários do dia para abrir as possibilidades. Conforme fui me comunicando com os inscritos, um grupo mais assíduo passou a frequentar e colaborar com mais consistência. Tivemos 10 colaboradores no total”, relata.

Benke destaca que participaram do processo artistas de todas as regiões do estado. “Mas estou considerando como participantes de fato os que colaboraram enviando material, compondo e produzindo as canções juntos. Logo após o lançamento do disco, também lançaremos semanalmente um episódio para cada música, tendo recortes dos processos e apresentando melhor todos artistas que criaram juntos esse 'mapa' de uma nova música pernambucana”, conta.

Participam Júlio César, da banda recifense Travadores, responsável pela guitarra da faixa de abertura Mapeando.exe. Ele também colaborou tocando sintetizadores e propondo samples para outras músicas. O jaboatoense Victor de Lima gravou com celular a música Smokin jazz e ganhou batidas de Benke, além de versos em inglês criados pela artista Soul Nascimento, que é de Paulista. O baterista Manoel Malaquias também integra o disco, com grooves de bateria que misturavam afrobeat e a ciranda pernambucana.

Jurema e Manguebeat num mix contemporâneo
Cânticos de um ritual ligado à planta sagrada ancestral Jurema se tornaram a base instrumental da canção Encanto pernambucano, que inspirou Gabriel Chagas a criar refrões calcados no Manguebeat para o disco Mapeando Pernambuco. Outro destaque é a música Refém, com letras e vocais gravados por Dimitria Lins e violão de Diogo Neves. Ao lado Matheus Dalia, Diogo colaborou em mais faixas. Caio, baterista da banda Guma, contribui nas faixas de abertura Mapeando.Exe e na de encerramento Headshot PE.

Além dos artistas inscritos, Tagore e Marília integram as faixas a convite de Benke. “A escolha dos dois foi por entender a essência punk cancioneira deles, que não se apegariam com ideias jogadas ali de improviso. Às vezes é difícil ser desapegado com qualquer tipo de criação, e queria dar esse tom logo de cara para esse processo da Mapeando”, lembra.

No primeiro encontro com Marília, ela levou uma toada que remete a um repente sertanejo gravado pelo celular, mas Benke conta que a musicalidade foi desvirtuada totalmente. “Fizemos sair dali um funk futurista, pronto para sonorizar alguma passagem de Isaac Asimov”, destaca o produtor. O processo de Marília desaguou na faixa Fim da eternidade e Tagore criou os versos de Não cai de medo de improviso, após ouvir os acordes dedilhados no violão.

A relação com as raízes pernambucanas atravessa a vida de Benke. “Tive o prazer de ser apresentado a Pernambuco em várias fases da vida e nessa, que é mais recente e marcante daminha carreira, trabalhando em conjunto com a equipe do Coquetel Molotov, que está sempre puxando público e equipe pra fora da zona de conforto. Então, por acompanhar as coisas a partir desse viés antenado e bem consciente, acredito que muita coisa me influencia diretamente”, conta.
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