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Retrospectiva 2020: De portas fechadas, museus e galerias de PE exploraram universo virtual

As paredes, palcos e expositores precisaram ser transferidas para as plataformas digitais

Reinvenção foi a palavra de 2020. Diante da crise causada pela Covid-19, afetando sobretudo o setor artístico, museus e galerias precisaram criar novos espaços para interagir com visitantes e compradores. Afinal, não é apenas um produto à venda nas estantes ou uma performance capaz de ser automaticamente adaptada através das câmeras. É uma experiência. São salas, corredores, andares e paredes inteiras destinadas a abrigar telas, esculturas e fotografias, milimetricamente organizadas e pensadas. A interrupção foi brutal e demandou esforços. Para traduzir as sensações através das plataformas digitais, foram criadas oficinas com arte-educadores, bate-papos, exposições virtuais, obras de arte sob encomenda e até playlists para resgatar o clima dos ambientes.

O hiato de cinco meses de portas fechadas possibilitou aos museus um mergulho no universo digital, ampliando as possibilidades de difusão da arte. Entrando no ritmo, o Centro Cultural Cais do Sertão realizou programações semanais e atividades comemorativas dedicadas aos ciclos festivos. O Paço do Frevo criou o #OcupaçoDigital, um movimento para engajar a comunidade artística. O Instituto Ricardo Brennand, a Fundação Joaquim Nabuco e os museus de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), da Cidade do Recife e Murillo La Greca também apostaram nas ferramentas virtuais.

A Galeria Amparo 60 lançou um site voltado à comercialização, reunindo fotografias, gravuras e trabalho em demais linguagens artísticas contemporâneas do seu casting. Após mais de cinco décadas de atividade, a Galeria Ranulpho realizou a primeira exposição on-line, com 17 trabalhos assinados por grandes nomes ligados ao modernismo, como Vicente do Rego Monteiro, Wellington Virgolino, José Cláudio e Reynaldo Fonseca. O Instagram serviu de parede para milhares de obras. O espaço cultural Poço das Artes disponibilizou semanalmente trabalhos dos integrantes. A Arte Plural Galeria também se reinventou, através do projeto #artenãopodeparar, com divulgação de acervo de mais de 15 artistas plásticos e fotógrafos.

Premiações

O ano de 2020, apesar das restrições, rendeu prêmios para as artes em Pernambuco. Equipamentos, atividades culturais e obras de artes estão entre os contemplados. Em dezembro, o estado aprovou três projetos na 33ª edição Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, realizado pelo Iphan. Foram selecionados o Pátio Criativo, na categoria Patrimônio Material, que foca na dinamização econômica, cultural e turística do Pátio de São Pedro, e as ações Atividade Permanente da Sala Imbalança, do Cais do Sertão, e Patrimônio, por Eles Mesmos, idealizado pelo Canal Babau e pela iniciativa de Salvaguarda do Mamulengo Pernambucano, como Patrimônio Imaterial.

O Cais do Sertão foi um dos selecionados na 33ª edição Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, realizado pelo Iphan

Também neste ano, o Mamam foi um dos vencedores do Prêmio ABCA 2019/2020, promovido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte, pela potência de sua programação e atuação nas artes visuais. O prêmio deu destaque também à Usina de Arte, situada em Água Preta, na Mata Sul. Outro destaque foi a participação do fotógrafo pernambucano Rennan Peixe na exposição #TheWorldWeWant (O mundo que queremos), em comemoração aos 75 anos da Organização das Nações Unidas (ONU).

O adeus a patrimônios vivos de Pernambuco

Em 2020, a arte pernambucana se despediu das cores vivas e bem delineadas de Tereza Costa Rêgo. Um dos maiores nomes das artes plásticas no Brasil, ela faleceu em 26 de julho, aos 91 anos, após sofrer um AVC. Tereza instalou um ateliê no Sítio Histórico, onde pintou a sua liberdade, das mulheres e do corpo feminino. Figurinista dos carros alegóricos do Galo da Madrugada, o cenógrafo Ary Nóbrega, foi mais um a deixar saudade. Sua trajetória foi marcada pela dedicação ao bloco por mais de 30 anos. Ele faleceu em abril, aos 87 anos, depois de um AVC.

2020 foi marcado pelo adeus a muitos artistas como a recifense Tereza Costa Rêgo

Também foi um ano marcado pela partida do colecionador de obras de arte Ricardo Brennand, aos 92 anos, em 25 de abril, vítima da Covid-19. Localizado na Várzea, o Instituto Ricardo Brennand se tornou referência nacional com relevante acervo memorial do país. É como viajar no tempo, entrar num castelo gótico que conta a história medieval e das lutas através de uma das maiores coleções bélicas do mundo.

A cultura popular ficou de luto com a perda de grandes mestres e artesãos. A costureira, bordadeira e madrinha espiritual do Maracatu Cambinda Brasileira, Dona Biu, partiu após longos anos dedicados ao grupo de Nazaré da Mata. Também faleceram os mestres Hélio Soares, ícone da litografia, Luizinho dos Couros, que confeccionou gibões e chapéus de couro para vários artistas, o mestre do mamulengo Zé Lopes, de Glória do Goitá, e o Mestre Aprígio, cujo trabalho em couro vestiu Luiz Gonzaga, Dominguinhos e Gonzaguinha.

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