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Em projeto independente, leitores podem organizar livro de poesias

Publicado em: 26/05/2020 11:07

 (Foto: Ricardo Fernandes/DP )
Foto: Ricardo Fernandes/DP
 
Após 13 anos trabalhando com edição de livros, Fred Caju lança um projeto de investigação sobre as fronteiras entre autor, leitor e editor. O livro O espanto de quem lê para não esquecer é uma obra mutante, feita em conjunto com o leitor, que tem a oportunidade de organizar 20 poemas de Fred, de até 20 versos, em um arranjo único. O projeto busca uma posição mais proativa do leitor que a de costume, para ele compartilhar a autoria, como organizador. Para isso, é preciso entrar em contato com Fred Caju através do Instagram (@caju.fred), mandar o título, um trecho ou o texto completo - basta ter até 20 versos e ser da autoria de qualquer obra de Fred. 
 
Depois de editado, será produzido, e o leitor-editor receberá um exemplar físico na sua casa, num esquema de produção por encomenda. Segundo o autor, a ideia surgiu enquanto lia um livro da coleção Editando o editor, da Editora da Universidade de São Paulo (edusp). “Estava analisando o que eu tinha de estoque na editora (a Castanha Mecânica), já que está mais complicado de pegar material nesse momento de pandemia. As pessoas chegavam no meu direct e falavam que tinham uma pasta, salvaram os textos que mais gostam. Então pensei nesse desafio, criar uma antologia, mas extremamente intimista, onde cada exemplar é único”, diz Fred, sobre o processo de composição da experimentação, que o coloca em uma posição diferente da que costuma estar tanto como editor, quanto como autor.
 
Nesse processo de se autopublicar a partir do olhar de leitores, o autor encontrou também descobertas e ressignificações sobre suas próprias obras. “Se for um poema de cada livro que eu fiz, você pode fazer. Eles podem ser lidos no Calaméo (calameo.com), um site de leitura online, que tem todos os livros da Castanha Mecânica. Para mim, receber uma seleção é sempre um processo muito doido, porque eu volto para processos antigos, para outros textos, que nas mãos das pessoas eu me redescubro. Eu já tive alguns pedidos da antologia e vi poemas que eu meio que renegava, mas que quando tomava contato com outros conseguia ganhar um novo ar. É um processo de redescoberta como escritor, mesmo sem escrever”, afirma. 
 
O título de O espanto de quem lê para não esquecer foi ideia da revisora, Raíza Hanna, namorada de Fred, que o escolheu a partir de um poema dele. O trecho busca justamente esse processo do poema que, depois de lido, fica na memória. “Ele vai buscar no leitor-editor uma memória, um afeto, que ficou, ele memorizou.” É um modelo de criação que só poderia acontecer a partir de um projeto artesanal, já que seria impossível para uma gráfica ordenar diversas versões de um mesmo livro. Ainda que em plena produção, o autor não sabe até quando durará a iniciativa, mas dificilmente pós-pandemia, por demandar um tempo muito específico de elaboração.
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