No alto dos seus 38 anos, o Barão Vermelho precisou se reinventar mais uma vez. Quase chegando à meia-idade, a banda vem resistindo ao tempo, às constantes mudanças na sua formação e à desconfiança do público a cada vez que perde um de seus integrantes. Em 2019, o grupo inicia uma nova fase com o lançamento de Viva, o primeiro álbum após 15 anos sem lançar músicas inéditas. Também é o primeiro disco com a voz de Rodrigo Suricato, que assumiu os vocais do Barão em 2017, depois da saída de Roberto Frejat.
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'Em tempos bélicos, um tiro de amor', diz Maurício Barros sobre novo álbum do Barão Vermelho
Viva é "histórico de diversas formas", explica Maurício Barros, tecladista e membro-fundador do Barão Vermelho, em entrevista ao Diario. O disco é, além de tudo, o único produzido exclusivamente pelos integrantes da banda, sem a participação de artistas de fora na composição das músicas. São nove faixas que falam, entre outras coisas, sobre respeito e tolerância e igualdade. "Era impossível a gente, uma banda que já teve Cazuza como vocalista, ficar calado", explica Maurício sobre o teor do álbum, que é também uma forma de protesto contra o governo Bolsonaro. "Em tempos bélicos, um tiro de amor", define o músico, que retornou ao Barão, após ter deixado a banda em 1988 - embora tenha produzido, tocado e composto para o grupo desde então.
Apesar de não ter participação de terceiros na composição das músicas, Viva conta com a contribuição da cantora Letrux como intérprete na sua última faixa, Pra não te perder. A canção é doce e romântica, bem diferente do trabalho da artista, que aposta num estilo pop com batidas que se assemelham à música disco dos anos 1980. A balada, no entanto, se aproxima do Barão de 15 anos atrás, com um rock mais puro, embora seja uma música calma.
Já a primeira faixa do álbum, Eu nunca estou só, é bem diferente do estilo do que já foi feito pelo Barão até 2004, quando foi lançado seu último disco. Escolhida para ser o primeiro hit da nova fase do grupo, a canção tem uma forte influência do blues, além do hip hop, que aparece na música com a rima do rapper BK. "Deixamos ele livre para fazer o rap como quisesse, falar o que sentisse, mas a letra da música foi feita pelo Barão" explica Maurício.
Assista ao clipe de Eu nunca estou só:
Assista ao clipe de Eu nunca estou só:
"Estamos atentos a tudo que está à nossa volta, mas temos orgulho do que fizemos no passado. O disco reflete um pouco disso tudo", explica Maurício sobre o novo disco e a nova fase do Barão, que tenta se adequar ao mundo atual e às mudanças tecnológicas para atingir também as novas gerações.
Confira a entrevista com o tecladista do Barão Vermelho, responsável pela composição de sucessos como Billy Negão, Puro Êxtase e Por você:
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Como as pessoas podem reconhecer o Barão Vermelho nesse novo disco?
Da melhor maneira. Muitas pessoas e até alguns críticos que ouviram o disco falaram sobre como se percebe o Barão de sempre, mas de um jeito novo. A gente procura manter a identidade, mas buscando fazer algo diferente, afinal, depois de 15 anos (sem lançar álbum com músicas inéditas), o mundo mudou muito, as tecnologias mudaram e a gente precisa acompanhar. Estamos atentos a tudo que está à nossa volta, mas temos orgulho do que fizemos no passado. O disco reflete um pouco disso tudo.
Foram 15 anos sem lançar um álbum com músicas inéditas, qual a sensação de lançar um trabalho como esse depois de tanto tempo?
Por si só já é uma alegria. E poder tocar tocar o repertório que nós construímos ao longo dos anos, como a gente faz nos shows, mais o que lançamos agora, nos deixa muito felizes. Esse é o primeiro disco da banda em que a gente produziu só entre a gente, sem contar com artistas de fora na composição das canções. Chamamos o rapper BK para cantar na música Eu nunca estou só, deixamos ele livre para fazer o rap como quisesse, falar o que ele sentisse, mas a letra da música foi feita pelo Barão. Algumas pessoas pensam que a gente começou a compor agora, mas eu componho desde a época do Cazuza. A gente escreveu Billy Negão, a primeira música da banda, junto com o Guto (Goffi). Depois também fizemos Puro êxtase. Eu e o Frejat compomos Por você. E, ainda com o Guto, eu compus muita coisa, como Blues do iniciante, por exemplo.
Então é um álbum duplamente histórico?
Sim, com certeza. Histórico de diversas formas, na verdade. A presença do Suricato trouxe um frescor à banda. E aí nós juntamos algumas músicas que tínhamos engavetadas e compomos coisas novas para o disco. A gente também quis falar de pautas importantes nesses tempos difíceis que estamos vivendo. Tempos bélicos.
Que pautas são essas?
Ah, meio-ambiente, empoderamento feminino, tolerância, né? Respeito à identidade de cada um. Era impossível a gente, uma banda que já teve Cazuza como vocalista, ficar calado. A gente tinha que falar. A música Jeito é sobre isso. "A gente é o que é, não tem jeito/A gente é como é, cada um de um jeito/Sei que não posso mudar o que aconteceu, pensei que pudesse aguentar, mas já foi, num deu" (canta trecho da música).
Vocês, enquanto artistas, se vêem na obrigação de dar voz a isso?
Com certeza. Eu, inclusive sou pai de mulher, então me sinto nessa obrigação também. A gente chamou uma cantora super talentosa, a Letícia Novaes, Letrux, pra cantar com a gente, justamente porque a gente queria uma representação feminina.
O que chamou a atenção de vocês pra convidá-la pra esse feat?
A gente queria a participação de uma mulher no disco, justamente por essa questão de levantar a bandeira do empoderamento feminino. Já vínhamos pensando em alguns nomes quando sugeriram a Letícia e a gente achou ótimo porque ela aborda esse tema nas suas músicas. Aí quando a gente tava num festival em Brasília, chamado Porão do Rock, em setembro do ano passado, a gente encontrou com ela, que também iria se apresentar. Foi quando ela comentou que iria tocar uma música nossa, Meus bons amigos, a gente ficou super feliz e fez o convite.
O nome do álbum, Viva, também é uma mensagem de resistência?
Sim. Na verdade, eu diria que é um álbum sobre amor. Em tempos bélicos, um tiro de amor.
Como você enxerga, hoje, a atuação das outras bandas contemporâneas ao Barão?
Com muito respeito e amor pelo trabalho deles. Somos amigos de todos, das bandas dos anos 1990 também, como Jota Quest e Skank. O próprio Frejat em carreira solo, que é meu amigo e a gente continua colaborando um com o outro. O Dado Villa-Lobos e o Bonfá também voltaram. Acho importante esses grupos continuarem em atividade, cada uma da sua forma, contribuindo para a música no país. É melhor do que estar em casa, aposentado.
Com exceção dos Paralamas, todas essas bandas mudaram de formação. Você passou por isso duas vezes, como é remontar uma banda?
É difícil. E cansativo. A gente tem que começar do zero. Mesmo com o Frejat, que era um dos fundadores da banda, a gente precisou reiniciar. Além disso, as pessoas ficam muito desconfiadas, quando há uma mudança desse tipo, se o grupo vai conseguir se manter. E a gente conseguiu provar que sim. Dessa vez, quando o Frejat disse que não voltaria na próxima turnê do Barão, a gente decidiu que continuaria assim mesmo e teve o desafio de achar um novo vocalista, foi quando a gente encontrou o Suricato. E precisamos encarar a desconfiança do público outra vez, inclusive dos fãs. Mas no nosso primeiro show com o Suri, no Circo Voador, a casa lotou. A gente perdeu o Frejat, que é um artista muito carismático e talentoso, mas ganhou o Suricato, que é um cara super antenado e também talentosíssimo.
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