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MÚSICA

Crise dos refugiados e poluição dos oceanos em foco na turnê de Adriana Calcanhotto no Recife

Publicado em: 13/09/2019 11:06 | Atualizado em: 13/09/2019 11:07

Foto: Murilo Alvesso/Divulgação
“Crianças encalhadas na costa de Lesbos / Pacotes de cruzeiros pelas Ilhas Gregas / O plástico do mundo no peixe da ceia / O que será que cantam as tuas baleias?”. Os versos que perpassam a crise dos refugiados, o capitalismo e a crescente poluição nos oceanos estão presentes na música Ogunté, do disco Margem, a nova produção de Adriana Calcanhotto. As críticas continuam nos versos seguintes, fazendo um paralelo distópico com os navios negreiros, a degradação das ilhas e a disputa mundial por petróleo. O álbum, que encerra a sua trilogia marinha ao lado de Marítmo (1998) e Maré (2008), será apresentado nesta sexta (13), com canções dos três trabalhos, às 20h, no Teatro RioMar, no Pina.

Como uma obra de arte vista por um pescador, o cardume prateado de sardinhas na Praia da Barra, no Rio de Janeiro, desperta a atenção da cantora para a degradação, com um tom mais sério. Mantendo a poesia e o romantismo dos dois primeiros discos de sua trilogia dos mares, o Margem clama por Iemanjá, e, na capa do álbum, sacolas de lixo disputam espaço em meio ao oceano, reconectando as águas aos problemas atuais do Brasil.

"O processo de criação foi gradual, natural. À medida em que a gente ia trabalhando no álbum, as circunstâncias e as consequências dos maus-tratos causados ao meio ambiente foram permeando o disco como um todo", conta a artista, em entrevista ao Viver. Além de Devolva-me e Maresia, sucessos da carreira de Adriana arranjadas para o espetáculo, a música Futuros amantes, de Chico Buarque, de 1993, presente na versão japonesa de Margem, também aparece no repertório do show.

Foto: Leo Aversa/Divulgação

De acordo com a cantora, o disco é completamente dependente do mar, tanto que a princípio pensou em lançá-lo em um luau. Tomando novos rumos, a performance no palco provocou o contato com um outro universo timbrístico. “O som do show não quis ser o som do disco, teve que se expandir para conter as canções da trilogia e resultou em um repertório mais relaxado, mais vagabundo. O espetáculo é onde as águas da trilogia se encontram, uma espécie de pororoca de água salgada”, afirma.

Margem foi gestado por mais de dez anos, sem urgência. E, pela primeira vez, Adriana experimentou a tranquilidade de preparar um disco, sem que precisasse dar uma pausa nas demais produções. “Tivemos todo o tempo do mundo, porque não tinha um compromisso de data. O processo foi, na verdade, gostar de sons, gostar de timbre e experimentar coisas”, revela a artista, que divide a produção do álbum com os músicos Rafael Rocha (bateria e percussão), Bruno Di Lullo (baixo) e Bem Gil (guitarra).

Foto: Murilo Alvesso/Divulgação

POLÍTICA
O tempo destinado à Universidade de Coimbra, em Portugal, onde leciona composição musical, abriu os olhos da cantora para as políticas de governo do Brasil. “Coimbra é um capítulo incrível que se abriu e me fez notar muitas coisas. Eu acho que os recentes cortes nos programas educacionais do Brasil, por exemplo, é uma tentativa de colocar a educação em segundo plano. A única coisa que pode nos salvar é lutar, e é o que estamos fazendo”, pontua.

Engajada na luta pela defesa do meio ambiente, Adriana ressalta as recentes queimadas na Amazônia como mais uma preocupação nacional que ameaça a população. “O problema existe, infelizmente, e tem sido triste acompanhar tudo o que está acontecendo com a Amazônia. Fica claro para todo mundo que esse debate precisa vir à tona e que os verdadeiros responsáveis precisam se agilizar nas medidas. Se ainda tivermos algum tempo, ele será curto”, sensibiliza.
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