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Apesar do desmonte no audiovisual, produções brasileiras brilham lá fora

Silvero Pereira como Lunga, em Bacurau. Foto: Victor Jucá/Divulgação

São os nomes do momento: os pernambucanos Kleber Mendonça Filho, Juliano Dornelles e Gabriel Mascaro, o cearense Karim Aïnouz, o gaúcha Bárbara Paz e o brasiliense Iberê Carvalho.  Na teia de produções audiovisuais deste ano, filmes brasileiros conquistam um espaço bastante representativo nos cinemas e nas premiações, fortalecendo o cinema brasileiro.

Bacurau é um dos filmes mais comentados do momento. Em cartaz desde 29 de agosto, o longa-metragem arrecadou 2 milhões na primeira semana de exibição. Coescrito e coproduzido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, a produção não passou despercebida no Festival de Cannes, e abocanhou o Prêmio do Júri, uma das mais altas distinções do evento. “Durante as filmagens, havia atores dizendo que já estavam comprando a passagem para Cannes, eu falava que eles eram loucos”, revela o cineasta Kleber Mendonça Filho em entrevista ao Correio.

Juliano e Kleber em sessão especial em Barra, na Paraíba. Foto: Victor Alencar/Divulgação

No limiar do drama, do faroeste e da ficção, Bacurau narra a história de um pequeno povoado, que pouco tempo após a morte de dona Carmelita, descobre que a comunidade não consta mais no mapa. Aos poucos, o vilarejo de Bacurau começa a perceber algumas coisas estranhas; em seguida, os habitantes notam que estão sendo atacados. “Essa mistura tornou o filme com o gênero genuinamente Bacurau. Foi uma química imprevisível que de alguma maneira deu certo e as pessoas estão gostando”, afirma Kleber. 

O longa-metragem percorreu diversos países desde a estreia mundial em Cannes, e não passou despercebido. “Desde que vou ao cinema e conheço, eu diria que estamos na melhor época do cinema nacional, por que gente está conseguindo participar o maior festival de cinema do mundo, vê o público cada vez mais interessado no cinema brasileiro, e ainda sublinhando essa sessão”, conta Juliano Dornelles. No entanto, a situação ainda indefinida do futuro das produções nacionais causa insegurança no setor.

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“O governo já demonstrou para o que veio e distribui esta ideia como se fosse algo positivo para o país. E é muito estranho por ser um mercado fortíssimo que gera emprego e essas ‘fantasias’ vão sendo confrontadas pelo mundo real.  É um sinal forte que eles não fazem ideia do que estão fazendo. Eu espero que a gente consiga manter esse mecanismo de fomento e que se amplie. Os filmes precisam de uma forma de distribuição mais eficientes. A gente tem que pensar à frente, e pensar como fazer para esses filmes serem vistos e crescer o cinema brasileiro. É o que vem acontecendo, quanto mais mecanismos forem criados, mais vai crescer. Saber fazer o brasileiro valorizar seu próprio produto cultural, sem prevalecer o viralatismo”, acrescenta Juliano. 

A Vida Invisível, livro de Eurídice Gusmão, adaptado por Karim Aïnouz. Foto: Divulgação

No filme, a questão social e a família tradicional são colocadas em xeque durante toda a trama. Se, por um lado, é o forte amor entre as irmãs, por outro sofrem com a rejeição paterna, as relações hierarquizadas e a imposição de vontades, que denunciam abusos.

Fazem parte do elenco um time feminino de peso: Fernanda Montenegro, Julia Stockler e  Carol Duarte. A produção foi escolhida para representar o Brasil no Oscar em 2020. O longa desbancou Bacurau, que era um forte concorrente para a corrida, na categoria Melhor filme estrangeiro. O resultado dos indicados será revelado em 13 de janeiro. Kleber Mendonça Filho já havia ficado fora da corrida do Oscar três anos atrás, com Aquarius, que também foi aclamado em Cannes, onde o diretor e o elenco protestaram no tapete vermelho contra o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff.

Depois de vencer a mostra Um certo olhar, no festival de Cannes, A vida invisível ainda não chegou às salas brasileiras. A previsão de estreia é para 31 de outubro.

Marighella, com roteiro escrito por Wagner Moura e Felipe Braga. Foto: Reprodução da Internet

As críticas estrangeiras foram, em maioria, positivas. No entanto, acusaram o tratamento superficial dado à trama. A revista Hollywood reporter, por exemplo, afirmou que o Wagner Moura fez um “desserviço ao legado de Marighella ao reduzi-lo a um lutador pela liberdade humanitária combatendo inimigos fascistas unidimensionais.”

Com grande teor político, Marighella é a cinebiografia do ex-deputado, poeta e guerrilheiro brasileiro Carlos Marighella,  assassinado pela ditadura militar em 1969. O filme é uma adaptação do livro Marighella - O guerrilheiro que incendiou o mundo, de Mário Magalhães.

A diretora Bárbara Paz levou o prêmio de melhor documentário sobre cinema com Babenco %u2013 Alguém tem que ouvir o coração e dizer: Paro. Foto: Instagram/Reprodução

“O Brasil conquistou uma comunidade produtiva amadurecida e altamente competitiva que tem o potencial de levar o país para se posicionar entre os cinco maiores produtores de conteúdo audiovisual do mundo”, completa o curador do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro.

Mesmo 2019 sendo um ano importante para o cinema nacional, com várias produções premiadas, neste mesmo ano, a indústria audiovisual enfrenta alguns embates. “Estou preocupado com o desmonte do setor audiovisual brasileiro. Os sinais apresentados até agora apontam para uma interrupção do financiamento, do diálogo com a comunidade produtiva e também para o retorno da lógica de concentração dos recursos nas mãos poucas produtoras”, pontua Ligocki Jr.

Pureza, filme produzido por Ligocki Jr, conta a história real de uma grande brasileira que com uma atitude heroica ajudou o país a promover desenvolvimento social. “Trata-se de uma produção criada e estruturada em Brasília, que tem a grande estrela Dira Paes como protagonista e reúne talentos de três países e vários estados brasileiros. Neste momento estamos planejando seu lançamento com o apoio da distribuidora Downtown Filmes”, conta.

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