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'As mãos do presidente estão cheias de sangue', diz pastor Henrique Vieira sobre o conservadorismo no Brasil

O teólogo é bisneto de evangélicos e teve a infância construída sobre o tradicionalismo e os preceitos religiosos. Foto: Arquivo pessoal

“Passei a ficar muito preocupado com o aumento da violência na minha cidade, no país, principalmente contra setores historicamente prejudicados, como pobres, negros, LGBTs e mulheres. Então eu queria, de alguma forma, estabelecer um diálogo com essas pessoas, difundindo amor para superar os discursos de ódio”, conta Henrique, que se encarrega também de agendas como a legalização do aborto e a liberação das drogas. O teólogo lança hoje o livro O amor como revolução (Editora Objetiva), no encontro literário Dois Dedos de Prosa, às 18h, no auditório G2 da Universidade Católica de Pernambuco. Ao fim, o pastor receberá o público para autógrafos.

“O livro trata fundamentalmente de reconhecer, no amor, um sentido ético de enfrentamento dos vulneráveis, marcados pelo ódio, conflitos e desamparo”, explica. Como uma autobiografia, o pastor resgata memórias afetivas e vivências em sociedade, ressaltando o potencial revolucionário dos pequenos gestos e das ações cotidianas como força poderosa na construção de uma sociedade mais justa e livre de preconceitos.

As experiências na universidade, durante a juventude, reforçou a visão progressista de Henrique e o desejo pela igualdade social, preenchendo-o com um discurso de teor político. “Eu pensava: ‘que sociedade quero construir?’ Me engajei em diversas lutas sociais, estive à frente de movimentos estudantis e encontrei no amor um mecanismo de empatia, rebeldia e resistência, que já conhecia na religião”, diz o pastor, que atualmente se divide nas atribuições de ator, poeta, professor de história e sociologia, militante de direitos humanos filiado ao PSOL e colunista do veículo independente Mídia Ninja. Líder religioso da Igreja Batista do Caminho, em Niterói e no Rio de Janeiro, Henrique Vieira também é responsável por um pré-vestibular comunitário no Rio e organiza periodicamente espaços que discutem, entre outros assuntos, a auto-organização das mulheres, masculinidades tóxicas e justiça social. 

Como uma autobiografia, o pastor resgata memórias afetivas e vivências em sociedade. Foto: Divulgação

Como a esquerda brasileira divide o discurso progressista com um representante da Igreja evangélica? 
Eu sinto um bom acolhimento da esquerda, apesar do setor evangélico ser visto com um certo receio. E há duas razões que constroem esse discurso sobre os evangélicos. Primeiro, há o referencial midiático hegemônico, carregado por um pensamento fundamentalista e preconceituoso que enriquece acima do povo pobre trabalhador, que é majoritariamente o perfil dos seguidores da religião. Por outro lado, há um certo intelectualismo acadêmico que esconde um problema com as massas e a dificuldade de comunicação com o povo.

Depois do cargo como vereador de Niterói pelo PSOL, pretende sair candidato novamente?
Eu tive um mandato popular, comprometido com os Direitos Humanos e o Meio Ambiente, mas agora tenho reforçado a minha caminhada pastoral. Estou me sentindo mais útil percorrendo o Brasil com o livro, promovendo rodas de diálogo, fazendo leituras da Bíblia. Me sinto mais potente agora difundindo a religião a partir de andanças pela cidade, ouvindo trabalhadores e trocando conhecimento sobre posse de terras, justiça social e igualdade de gênero.  

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