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Telefilme raro com roteiro de Osman Lins é exibido no Recife

Publicado em: 11/07/2019 10:50 | Atualizado em: 11/07/2019 12:08

Foto: Arquivo/DP e Globo/Reprodução
Os telefilmes, telenovelas e filmes brasileiros sempre foram grandes disseminadores de outra arte, muito mais antiga que o próprio cinema ou a fotografia: a literatura. As adaptações representam uma forma diferente das histórias chegarem para um público já fã das versões originais, mas também para uma parcela não leitora, seja pela falta do hábito ou por condição social – principalmente se levarmos em consideração que se trata de um país que segundo o IBGE possui 11,5 milhões de analfabetos em 2011.

Marcha fúnebre
é um exemplo das obras do escritor Osman Lins que já foi pensada para as telinhas. Quarenta e dois anos depois de seu lançamento, é uma mostra da produção do roteirista pernambucano que escreveu obras como Lisbela e o prisioneiro, adaptada para o cinema, e sua maior obra literária, Avalovara.

O telefilme Marcha fúnebre será apresentado nesta quinta-feira (11) no projeto Cinema no Arquivo, a partir das 19h, na sede do Arquivo Público Estadual Jordão Emerenciano (Rua do Imperador, 371, Santo Antônio). O filme tem uma hora de duração e foi exibido pela TV Globo em 1977. Integrava a sessão Caso especial - Osman Lins, uma série de novelas adaptadas para a televisão. Além de Marcha fúnebre, a emissora produziu Quem era Shirley Temple? e A ilha no espaço, também do escritor pernambucano.

A exibição fará parte das comemorações de 95 anos de nascimento do escritor falecido em 1978. Haverá debate, exposição e homenagens ao autor. Para Evaldo Costa, diretor do Arquivo Público do Estado, o filme é importante dada a complexidade da obra do autor. “Quem leu sabe que Osman não tem uma obra de fácil compreensão, então essas adaptações para linguagem audiovisual ajudam muito a entendermos sua obra. Lisbela e o prisioneiro, por exemplo, é uma peça que teve alcance com a ajuda do cinema. Todo mundo adora o filme, não conheço alguém que desgoste”, explica.

Marcha fúnebre foi exibido apenas uma vez, o que o torna quase inédito. A direção é de Sérgio Brito, com Tereza Rachel e Diogo Vilela nos papéis principais. Tereza vive a Selene e Vilela interpreta o filho dela, Tarcísio. Quando jovem, ela foi atriz de teatro muito conhecida. Agora, longe dos palcos, vive de nostalgia e cai no ostracismo. Sua grande preocupação é com a morte e como será lembrada. Seu filho é quem deve providenciar a realização dos desejos da mãe, mas se depara com a cidade de São Paulo em plena crise para enterrar os seus mortos: não há lugar nos cemitérios.

Trecho de Marcha Fúnebre na TV. Foto: Globo/Reprodução
Atualmente, Osman Lins é considerado o primeiro ficcionista brasileiro a escrever direto para o formato TV. Crítico severo da indústria cultural, sua decisão de escrever para um veículo de massa como a televisão é vista com curiosidade. Em 2017, o pernambucano Adriano Portela chegou a produzir uma dissertação de mestrado para analisar o Caso especial, estabelecendo um diálogo entre a literatura e o audiovisual por meio de uma investigação intersemiótica.

“Osman é conhecido como arquiteto da palavra, mas se tivesse tido mais tempo de vida, seria considerado o arquiteto da imagem. Ele queria inovar, tirar o engessado e enlatado norte-americano e abrir espaço para a nossa literatura da TV”, diz Portela, que está organizando um relançamento dos livros da série Casos especiais pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Além do ensaio de abertura, o projeto contará com notas analíticas e comentários do pesquisador sobre os textos.

Trajetória
Nascido em Vitória de Santo Antão, Osman se mudou para capital do estado aos 16 anos, após terminar o ensino secundário. Em 1952, inicia a redação de O visitante, seu romance de estreia, publicado em 1955. Nessa época, colaborou no Diario de Pernambuco. Em 1960, conclui ucurso de dramaturgia na Escola de Belas-Artes na UFPE e, no ano seguinte, foi à Europa como bolsista da Aliança Francesa.

De volta ao Brasil, se mudou para São Paulo em 1962. Tornou-se professor de literatura brasileira na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Marília. Tendo já publicado seus dois mais importantes livros, Nove, novena (1966) e o experimental Avalovara (1973), pediu exoneração da faculdade em 1976. Passou a se dedicar só à literatura. A partir de então, colaborou em veículos como o Suplemento Literário d’O Estado de S. Paulo.
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