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Artes Visuais

Ilustrador do Diario é o único brasileiro em nova exposição do Tomie Othake

Publicado em: 03/07/2019 15:30 | Atualizado em: 03/07/2019 15:36

Artista visual atua no Diario de Pernambuco há 11 anos - Foto: Thamyres Oliveira/Esp.DP

Um artista visual que gosta de improvisar. Assim se define o ilustrador pernambucano Laerte Silvino, quando perguntado sobre seu estilo e influências. Mais ou menos como um músico que se divide entre inúmeros instrumentos, ele se vê mergulhado em lápis e programas digitais, recorrendo constantemente a novos e variados recursos para preencher uma narrativa. O desenhista, responsável por artes e infográficos do Diario e Tirinhas do Diarinho, foi o único brasileiro entre os 12 selecionados para participar da exposição Invenções gráficas na ilustração ibero-americana, inaugurada na última terça (2), no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, e em cartaz até o dia 28 de julho.

Mais de 300 artistas se inscreveram no projeto editorial que reúne anualmente, desde 2010, obras de ilustradores nascidos em território ibero-americano. Ao todo, nove países foram representados e, além de Silvino, fazem parte da exposição Amanda Mijangos e Ixchel Estrada (México), Joan Negrescolor, Juan Bernabeu e Manuel Marsol (Espanha), María Luque (Argentina), Roger Ycaza (Equador), Marta Madureira (Portugal), Matías Acosta (Uruguai), Catalina Carvajal (Colômbia) e Sol Undurraga (Chile).

O trabalho resgata elementos da xilogravura e da pintura indígena e versa sobre lenda amazônica que conta a história de uma índia que engravidou de uma sucuri - Foto: Silvino/Divulgação

Nesta edição, a mostra explora o contato entre diferentes linguagens, apostando em uma experiência bidimensional e narrativas sem palavras, através de gravuras e colagens enigmáticas, irônicas e ref lexivas. Apontando caminhos experimentais, a curadoria é do ilustrador e artista brasileiro Fernando Vilela. "As ilustrações dessa mostra escapam de uma representação de viés naturalista, assumindo a superfície plana bidimensional, utilizando sobreposições, justaposições, mesclando as linguagens da colagem, da gravura, da pintura, do desenho e do uso de técnicas digitais", afirma Vilela, no texto de apresentação da exposição.

Resgatando elementos da xilogravura e da pintura indígena, as ilustrações expostas por Silvino abusam de três cores: marrom, preto e branco. As obras, feitas de forma digital, versam sobre uma lenda amazônica que conta a história de uma índia que engravidou de uma sucuri e deu à luz duas crianças gêmeas, que na verdade eram cobras. Os dois cresceram nas águas doces dos rios, uma ordem do Pajé dada à mãe após o nascimento. Cobra Norato era bom, meigo e forte, enquanto sua irmã era má e violenta. Os desenhos constam no livro A lenda do Cobra Norato, de Varneci Nascimento, ainda a ser lançado pela editora Panda Books.

"Eu sempre me guio pelo texto. Gosto de ler, analisar e chegar a uma imagem que reflita bem o que está escrito. E aí vou misturando, testando e vendo quais recursos cabem em cada contexto", conta o artista de 31 anos, que já expôs outros trabalhos em Portugal, México e várias cidades brasileiras. Tímido, Silvino passava, quando criança, horas no quarto experimentando traços e cores nos desenhos, o que levava a mãe a criar atividades externas para atraí-lo por um tempo longe dos papéis. Na escola, optava por não desenhar. A decisão também estava relacionada ao medo de carregar nas costas todos os trabalhos de artes da turma.

Foto: Silvino/Divulgação

os 13 anos, percebendo o interesse do filho, sua mãe comprou um computador e o muniu dos recursos necessários para que trabalhasse com a imagem digital. Enquanto isso, o pai achava que a arte para ele era um hobby. "Quando disse que queria ser ilustrador, meu pai pensou que eu seria estilista e viveria desenhando modelos de roupas. Ele achava que era só uma diversão", conta, rindo.  Quando concluiu o ensino médio, contrariando a vocação, Silvino decidiu cursar bacharelado em geografia. A motivação: viajar. Passou dois anos no curso.

"Apesar de não me identificar, o curso influenciou diretamente na minha arte. Me encontrei na geografia cultural e concentrei meus estudos na história dos povos, tanto que meus desenhos hoje tem forte influência das culturas indígena e nordestina", explica. Mesmo seguindo um estilo pessoal, seus traços perpassam as obras dos pernambucanos J. Borges e Samico.

O artista atua profissionalmente no ramo há mais de dez anos e já realizou, entre outros trabalhos, uma adaptação para quadrinhos da obra I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, e Corre, Curumim, um livro autoral, com texto e ilustrações, lançado há três anos. Atualmente está debruçado na elaboração de um cordel ilustrado, uma miniaventura que conta a história de Alice no País das Maravilhas do Sertão nordestino.

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