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Dead Fish e mais quinze atrações marcam noite do Garage Sounds

Dead Fish, liderada pelo vocalista Rodrigo Lima, é uma das mais de 15 atrações. Foto: Divulgação/Garage Sounds

"É um cenário muito grave de retrocesso", diz Rodrigo. Foto: Reprodução/Youtube

Vocês já vieram Recife inúmeras vezes. Se não me engano, a primeira vez foi em 2001. Como é a história da banda com a cidade? E o que mudou em você nesse tempo todo?
Temos uma história longa em Recife. Nosso primeiro show foi no Docas na tour do álbum Afasia, o Canibal até estava lá e foi quando conhecemos Os Devotos. Era começo dos anos 2000, tudo fervilhava: punk, manguebeat, selos, Abril Pro Rock. Lembro de ter ficado impressionado com o moshpit (roda punk) giratório tradicional de Recife. Nunca tínhamos visto. Depois vieram o Armazém 14 e as participações no Abril pro rock. Tudo sempre intenso, todos sempre dispostos, às vezes até demais de tão intenso. Hoje ainda é assim, talvez menos agressivo, talvez com gente mais velha, mas é sempre um dia especial da tour o show de Recife. 

Como você vê a cena recifense de hardcore, pensando no cenário nacional?
O cenário de hardcore do Recife partiu para algo mais local, mais ligado a cultura da cidade. Eu penso assim, muita gente que esteve envolvida no punk e hoje faz outro tipo de estética sonora, provavelmente faz com a experiência e o espírito do DIY adquirido no punk/hardcore. Não importa se a estética sonora não é mais a mesma, é o espírito da parada que conta. 

A política sempre fez parte do Dead Fish e do hardcore como gênero musical. Ponto Cego (2019) é um disco muito impactante e com letras que vão direto ao ponto. Como surgiu a força e urgência desse disco? 
Da nossa realidade atual, do golpe em 2016, do ódio às ideias progressistas e de uma eleição embasada em notícias fake. Estamos vivendo uma realidade neofascista e boa parte da sociedade comprou essa ideia por ódio plantado a um partido político. É um cenário grave de retrocesso e é nosso trabalho como músicos, como gente que quer pensar um mundo para todos, falar sobre essa bizarra realidade, elitista, racista, homofóbica, que vivemos. É um álbum urgente, uma pintura do presente, pessoalmente, penso que tenha que ficar datada pra ontem e isso não vai se dar só com a música, mas também com ação e inteligência.  

De uns anos pra cá, o lugar dado do público de rock ligado a uma rebeldia e a ideias de esquerda tem sido questionado, vide as polêmicas na turnê nacional de Roger Waters, dentro do próprio público rockeiro. Como você e o Dead Fish têm lidado com essa questão?
O rock, e aí falo também da minha vertente o hardcore, é música contestadora, é música criada por pretos pobres para falarem de suas realidades. É naturalmente contestadora. Se o rock se tornou mais duro, esbranquiçado, conservador e reacionário, está indo pro lugar errado, está fadado, como estamos vendo no Sudeste, a se tornar uma banda de cover de si mesmo. Cheia de velhos ícones equivocados, envelhece mal.

SERVIÇO
Garage Sounds 
Atrações: Dead Fish (ES), Froid (BSB), Krisiun (RS), Esteban (RS), Surra (SP), Molho Negro (PA), Mar Morto (SP) e as pernambucanas Rabujos,Carranza,Dillema, Howay, Frizo HC, Fernandes, Mondo Bizarro, Matakabra, PRK e Femigang 
Quando: Sexta-feira (26), a partir das 18h
Onde: Baile Perfumado (Rua Carlos Gomes, 390, Prado) Quanto: R$ 52,50 (meia ou social) e R$ 105 (inteira)

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